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Ioannis Andonios Zavoudakis: “Passei a infância inteira em um orfanato na Grécia”

Escultor grego de 83 anos, que mora em Vitória desde 1961, fala sobre a vida em sua terra natal e a experiência no Estado


Imagem ilustrativa da imagem Ioannis Andonios Zavoudakis: “Passei a infância inteira em um orfanato na Grécia”
Ioannis Andonios Zavoudakis conta que pesquisou muito sobre Iemanjá antes de criar a estátua, em 1988, que fica na orla de Camburi |  Foto: Leone Iglesias/AT

“Fui predestinado a viver no Brasil: não acredito que foi à toa que nasci em 7 de setembro, o Dia da Independência. A Grécia é, sem modéstia, uma terra linda, berço da civilização ocidental, porém, foi aqui, na única 'Vitória do Espírito Santo' do mundo, que construí minha vida após deixar meu país, em 1940.

Depois da guerra, a vida ficou muito difícil na Grécia. As pessoas morriam de fome e, em poucos anos, o país ficou em ruínas.

Aquela tragédia mudou os rumos de milhões de vidas, e acredito que minha a história representa muitas pessoas entre o meu povo: perdi meus pais e vivi a infância inteira em um orfanato.

Talvez, por isso, me tornei um adulto que valoriza as ações de filantropia. Aos 15 anos, deixei o orfanato para estudar em uma escola técnica em mecânica industrial e trabalhar em Atenas. Essa formação foi essencial para a construção da minha vida.

Vinda ao Brasil

Eu conhecia o Brasil por meio do futebol e do cinema. Quando completei 21 anos, decidi morar em São Paulo, onde tive muitas oportunidades profissionais e, até mesmo, conheci o ex-presidente João Goulart, dois dias antes do golpe militar.

À época, tirei algumas fotos com ele e, por isso, vim para o Espírito Santo para fugir da ditadura militar. Tinha medo de represálias, confesso.

Qualquer coisa era motivo para ser perseguido. Não fazia ideia de como era Vitória, mas nada é mais simbólico do que uma cidade ser a 'Vitória do Espírito Santo'. É algo divino.

Conforme os anos se passaram, me apeguei à cidade. Havia muitos imigrantes aqui, principalmente da Itália, mas também dos países árabes e da Grécia.

Cultura capixaba

O povo capixaba me conquistou: são pessoas pacíficas, alegres e trabalhadoras. E, aqui, descobri minha vocação para as artes plásticas.

Me envolvi de verdade com a cultura capixaba. Sou o autor, por exemplo, da estátua de Iemanjá, na Praia de Camburi, da Cruz Reverente, na Praça do Papa, e do monumento em homenagem à integração entre os capixabas e a colônia grega radicada no Espírito Santo, que fica na Praça dos Desejos.

Sabe, a cidade de Vitória mudou muito em 60 anos. Vi o aterramento de diversos bairros, o crescimento urbano em torno da capital e a modernização dos serviços. Os tempos são outros e assim como o espaço físico se transformou, o imaginário social acompanhou.

Entender, respeitar e homenagear as tradições do povo brasileiro, que me acolheu tão bem, é um ponto central das minhas obras. Pesquisei muito sobre Iemanjá antes de criar a estátua, em 1988, e vi como o culto a ela é sincretizado com a devoção dos portugueses a Nossa Senhora dos Navegantes.

À época, a estátua foi pintada com a pele branca, mas, com o passar dos anos, ganhou a pele mais escura. Senti no coração que era a decisão certa a tomar.

Nós, gregos, preservamos nossa memória, nossa história e nossa identidade nos monumentos. A forma como essa memória é representada importa.

Inspiração

O que eu faço é a ideia de espíritos superiores. Eu aceito, eu obedeço e agradeço. Não tenho de reclamar nem questionar. São ideias que vêm da inspiração, de algo superior que me influencia na vida.

Quando fiz a Cruz Reverente, na Praça do Papa, pensei sobre a mensagem que deixaria com a obra. Quando abraçamos nossos pais, como o fazemos?

De braços abertos e em acolhimento, diferentemente da Cruz do Calvário, que é dura, cruel e arrogante. Por isso, inclusive, a obra é acompanhada de uma pomba, símbolo da paz.

Já retornei à Grécia algumas vezes, mas, sendo sincero, não dei a mínima. Minha vida é aqui, é onde me sinto pertencente. Tenho orgulho de ser cidadão honorário capixaba e de ter contribuído, por meio da arte, para a história do Espírito Santo”.

PERFIL

> Ioannis Andonios Zavoudakis, 83 anos, é escultor e artista grego que vive no Espírito Santo desde 1961. Na infância, viveu em um orfanato após perder os pais no conflito entre a Grécia e a Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

> É autor de alguns dos mais imponentes monumentos capixabas, como a Estátua de Iemanjá, na Praia de Camburi, a Cruz Reverente, na Praça do Papa, em Vitória.

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