“No meio da pandemia, descobri um câncer”
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Juliana Miranda da Silva e Agum tem 35 anos, é pedagoga, dona de casa, moradora de Vitória. Casada com o consultor de segurança Márcio Agum, 46, é mãe dos trigêmeos Ana Júlia, Bernardo e Marina. O dia dela é corrido e mudou bastante com a pandemia, assim como mudou para grande parte das pessoas. Desafios de rotina, de convivência, de se reinventar. Mas no meio da pandemia, surgiu um desafio ainda maior: um câncer.
Em junho de 2020, com a maioria das preocupações das pessoas voltadas para os “problemas” que o novo coronavírus trouxe, Juliana descobriu um tumor na mama e esse período diferente para o mundo se tornou ainda mais pontual para a pedagoga.
“No meio da pandemia, descobri um câncer. Foi um baque! Não esperava receber um diagnóstico desses, ainda mais em um período que todos nós já estamos tão fragilizados por conta da pandemia do coronavírus. Mas sou uma mulher que tem muito a agradecer pela vida", declarou Juliana em entrevista ao Tribuna Online.
O diagnóstico veio após Juliana notar um caroço em cima da mama direita. Após a consulta, o médico solicitou alguns exames, incluindo uma biópsia. A vida tomou um novo rumo e ela confessa que o momento da negação também surgiu, mas logo deu espaço para uma força especial, divina.
"É uma força tão grande, uma vontade louca de viver e uma coragem incrível para lutar… Só pode ser de Deus!”, contou.

A pedagoga descreve: “Foi tudo muito rápido e intenso. No dia 10 de maio, notei um relevo na minha mama direita, mas sem que minha cabeça fosse muito longe mostrei ao meu marido como se fosse uma coisa normal. Ele me atentou que eu precisava olhar com mais atenção. No meio de uma pandemia não foi fácil conseguir uma consulta. No entanto, mais uma vez Deus me abriu as portas. Consulta em um dia, exame no outro, resultado na mesma hora e... era um nódulo e não um cisto. Biopsia à vista".
A nova rotina de idas e vindas a clínicas se mistura com a também nova rotina imposta pela pandemia, com filhos em casa, isolamento dos parentes e amigos, afastamento das atividades da igreja...
"Confesso que, até o dia de colher o material para enviar para o laboratório, eu estava tranquila. Passada a biópsia, um misto de emoções tomou conta de mim. Eu extravasei, chorei, solucei, mas entreguei tudo nas mãos do meu Deus. Ele me sustenta e não me abandonará. Coloquei para fora tudo que estava dentro de mim, me corroendo, me angustiando. E aí eu fiquei bem", disse a pedagoga.
“Tem que lutar”
"Você não pode desanimar, porque a vida é bela de todas as formas. Já pensou: você descobre alguma coisa e se entrega, deita na cama e fica lá. Não é assim, você tem que lutar. Deus não dá um fardo que você não pode carregar. Por isso eu sempre falo que vou superar essa doença", disse.

O resultado de um dos exames só ficaria pronto em 15 de junho e do outro, julho. Mas ela conseguiu adiantar e em 10 dias estava com eles em mãos.
"Embora não saísse de minha mente que eu estava com câncer, tinha uma ponta de esperança que isso não aconteceria comigo e que só seria um susto”, contou.
Mas o resultado foi “nódulo maligno”. Juliana revelou que viveu emoções muito fortes e também sentiu o chamado “desespero do momento”.
“Não foi fácil escutar o médico falando que é o tipo mais comum, mas o mais agressivo. Meu mundo parece que havia caído. Não sabia o que tinha que fazer e nem por onde começar. Nesse momento, você só escuta que vai ter que fazer quimioterapia, vai cair seu cabelo, que é uma barra ", relembrou a pedagoga.
Juliana optou por contar o diagnóstico para pouquíssimas pessoas, mas depois viu que sem o amparo dos familiares e amigos por perto seria ainda mais difícil.
“Descobri o câncer em junho, uma época em que já está difícil para todo mundo com a pandemia. Além disso, eu estava querendo me blindar de alguma forma. Câncer é uma palavra que assusta. Quando você escuta a palavra câncer, pensa: ‘ih, acabou’, mas não é assim. Preferi falar para o menor número de pessoas para que eu pudesse levar o tratamento de forma mais tranquila, mais leve, menos ansiosa", falou Juliana.
“Não sou supermulher”
A pedagoga também contou que nem tudo foi visto com bons olhos, já que teve momentos em que ela desabou e caiu no choro.
“Claro que chorei, sofri. Não sou supermulher. Nesses momentos você pensa mil e uma coisas, principalmente pelo medo do desconhecido. Você pensa na sua vida, na sua família, você pensa em o quanto reclama das coisas simples da vida, quando não te falta nada, quando sua família é projeto de Deus, seus filhos e seu marido são lindos e saudáveis, o quanto vocês são unidos, quando você tem uma casa, comida, roupas, plano de saúde, pode escolher o que comer, mas você prefere reclamar”.
Ao todo, o tratamento de Juliana será um ciclo de oito sessões de quimioterapia. Ela já está na 4ª sessão no mês de setembro e diz que encontra forças também em outros pacientes para enfrentar a atual rotina.
“Eu não sabia o que me esperava na sala de quimioterapia. Pensava que era um lugar onde as pessoas entravam bem e saiam debilitadas, com dores. Mas pude ver pessoas saindo sorrindo, conversando. Aquilo me tranquilizou e eu entrei para minha primeira sessão mais forte do que nunca", relembrou Juliana.
Cabelos caíram

Os cabelos começaram a cair após 23 dias da quimioterapia e mais uma vez a pedagoga se agarrou à fé e à família.
“Deus, família, saúde, amigos, são as coisas que a gente às vezes esquece de dar valor por causa da correria do dia a dia. E não deve ser assim. São a nossa base. Tanto a pandemia como a descoberta do câncer estão me mostrando isso diariamente. Quando a gente passa por algo assim, a vida ganha outra dimensão”, disse.
“Enfrentar um câncer nos torna mais humanos”
“Fui tomada por uma serenidade que me fez ver quão fácil é viver e que só a felicidade e o amor importam. A vida fica leve, os problemas não existem mais… Se é que um dia existiram de verdade. Tudo é vida! Sem contar que enfrentar uma doença como o câncer nos torna mais humanos, mais tolerantes, ser humanos melhores mesmo", completou.
A reação dos filhos foi essencial para a tranquilidade no tratamento da pedagoga. Segundo ela, os trigêmeos tiveram reações diferentes, principalmente quando viram a mãe sem cabelo.
"Cada um dos meus filhos reagiu de uma forma diferente, inclusive quando me viram careca. Eu não sei se eles entendem a gravidade, mas compreendem algumas outras coisas, embora sejam crianças. A família é essencial para nos dar força e os amigos também. Jamais vou esquecer, pois tenho muitos amigos que me ajudaram. A gente vai se fortalecendo para os novos desafios da vida. É a fé que nos sustenta ", reforçou a pedagoga.
O tratamento vai seguir por mais algum tempo e Juliana fez um relato emocionado nas redes sociais expondo sua nova rotina, o que levou a criar uma corrente de pensamentos otimistas, fé e confiança de que “tudo vai passar”.
"Agora é olhar para frente e seguir. Não quer dizer que não terei dias em que vou estar desanimada. Todo mundo tem esse direito. Mas não temos direito de reclamar. É tanto carinho, apoio, tanto companheirismo, mensagens, orações, que eu devo essa vitória a todos que me cercam”.
E ela completa dizendo que a doença fez brotar a vontade de apoiar outras mulheres: “Vou ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo problema que eu. Acredito que, por meio do meu testemunho, posso levar mais leveza para muitas pessoas que também foram diagnosticadas com o câncer, principalmente mulheres com o câncer de mama".
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