Mulheres investigam no SPC e na Justiça antes de começar namoro
Investigações do pretendentes ocorrem também nas redes sociais
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"Não tenho vergonha em afirmar que antes de entrar em qualquer relacionamento, eu vasculho a vida da pessoa nas redes sociais, em site da Justiça e confesso que já pesquisei se a pessoa estava com o nome negativado. Isso é uma forma de me blindar e proteger todos que amo. Olha, que já descobri muita mentira e pulei fora”.
O relato, que é compartilhado por muitas mulheres, é da comerciante Marília Wanzeler, que hoje completa 40 anos de idade.
Divorciada, ela disse que já descobriu que uma pessoa que mora no Paraná estava mentindo. Ele dizia que era evangélico e que trabalhava embarcado. Só que, na verdade, ela pesquisou e viu que ele não tinha aquela profissão. Se não fosse esperta, teria sido vítima de charlatanismo”.
Ao fazer uma pesquisa em um site da Justiça, ela descobriu que em seu nome tinha empresas registradas e que ele não compareceu em audiências. “Estava em processo de falência”.
Sempre que tem dúvida no aspecto segurança digital, ela recorre ao especialista em crimes cibernéticos Eduardo Pinheiro. Ela não é a única.
“Eu sou muito procurado por mulheres. Quando elas têm algum tipo de interesse amoroso, elas estão procurando conhecer o comportamento desse homem mais a fundo, se eles são polêmicos, se são violentos com outras mulheres e se existe comportamento racista ou preconceituoso”.
Para isso, elas pedem para fazer pesquisas de perfis de redes sociais e outros tipos de fontes abertas, como sites de tribunais de Justiça e até da polícia”.
“Seja no ambiente virtual ou físico, quando você começa a se relacionar com uma pessoa é muito importante fazer uma investigação, utilizar a própria internet como aliada para conhecer a índole e ter mais segurança ao embarcarem em um relacionamento amoroso”.
Atuando no mercado há mais de 20 anos, o detetive profissional que se identificou como Junior, da Falcon Investigações, disse que tem aumentado a procura de mulheres solicitando esse tipo de levantamento, até mesmo no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Ele disse que o serviço varia de acordo com o que é demandando, mas, em média, custa R$ 2,5 mil e demora entre uma semana e 10 dias para ser concluído.
"Meta é construir relação saudável”, diz jornalista
Para evitar cair no famoso “conto do vigário” e assim se livrar de relacionamentos tóxicos, que muitas vezes terminam em feminicídios, muitas mulheres têm adotado estratégias variadas.
É o caso de uma servidora pública, de 33 anos, que viralizou no Twitter, ao publicar sobre como descobriu que seu “contatinho” tinha processos judiciais.
“Amiga, estou olhando o nome do boy no Jusbrasil. Achei um processo”. “Pensão?”, questiona a amiga, que em seguida é respondida: “Não, ele apanhou da polícia em um protesto”, disse a mulher na publicação.
A mulher conversou com a reportagem de A Tribuna na tarde de ontem, mas pediu para não ser identificada.
Ela relatou que, ao longo do tempo, criou estratégias para evitar situações vexatórias ou violentas. “Eu sempre tento falar um não pelo menos para a pessoa com quem estou flertando e reparo na reação, porque se a pessoa reage mal ao primeiro não, imagina aos próximos”, disse.
Ela acredita que só é possível construir uma relação saudável estabelecendo limites. “Por isso, a parte do 'não' é muito importante. Se nem o primeiro limite você consegue estabelecer sem engatilhar um comportamento violento no outro, os próximos também não serão possíveis”, lembrou.
Uma outra estratégia adotada pela jornalista é perguntar sobre a família e os filhos.
“Eu sempre pergunto sobre relacionamentos anteriores e filhos também. Porque se a pessoa não se responsabilizar pelo filho, imagina por outras coisas. Se chama a ex de louca diante de uma pessoa semi desconhecida, também não acho que possa ser confiável”.
Ela afirma que a meta é construir relacionamentos sólidos. “Tento me resguardar. A meta é conseguir construir relações saudáveis sempre. E para isso é importante saber que a pessoa é capaz de respeitar a mim e aos outros com quem convive”.
Ela, que considera que os meios digitais são importantes para obter informações sobre os homens, revela que os números de violência doméstica, cometida contra mulheres em todo o País, influenciam no seu medo de se relacionar com possíveis agressores.
“A minha preocupação em checar essas informações tem muito mais a ver com a noção de que vivemos em uma sociedade violenta com as mulheres”.
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