Motorista vence o medo após 11 anos sem dirigir
Gisele Covre, 40, ficou sem pegar a direção por temer se envolver em acidentes. Segundo a OMS, fobia afeta 6% dos brasileiros
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A assistente administrativo Gisele Covre Meneghel, de 40 anos, começou a dirigir com tranquilidade e confiança há um mês. Mas o intervalo de tempo entre o recebimento da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) – após as aulas e sua aprovação – e realmente dirigir foi longo: 11 anos.
Assim como Gisele, há vários outros relatos de pessoas que têm receio ou medo de dirigir, a chamada amaxofobia. O medo irracional de conduzir ou de estar dentro de um veículo é um distúrbio psicológico que, segundo a Organização Mundial de Saúde, atinge cerca de 6% dos brasileiros.
“Sempre tive medo de pegar trânsito. Não tinha trauma. Mas sentia medo de acidente e de atropelar pedestres. Hoje me sinto muito mais segura e confiante”, afirma Gisele.
A assistente administrativo fez aulas de direção com o instrutor de trânsito particular Thiago Paes de Jesus, 35 anos. Ele relata outros casos parecidos.
“Fui instrutor de um senhor de 64 anos que não pegava na direção há 40. Ou os filhos dirigiam para ele ou funcionários. Quando quis dirigir, precisou retomar a prática, mas com mais paciência, pois as pessoas mais experientes não têm os mesmos reflexos de antes”.
Outro caso, segundo Thiago, foi de uma mulher que estava há 17 anos sem conduzir um carro e procurou por ele. “Quando a pessoa consegue dirigir, muda a vida dela. Desbloqueia vários anos da vida dela: ela evolui”, afirma.
Segundo o instrutor, que só atende quem tem CNH, entre suas técnicas, estão passar confiança para os clientes.
“Há pessoas que têm receio de ligar o carro e deixar o veículo morrer. Há quem sente chorando ao volante. Tem cliente que acabou de ter um AVC e adaptei o treinamento para voltar a dirigir”.
A psicóloga Naira Araújo conta que, para além do reflexo do medo, existem reações químicas do cérebro e conteúdos conscientes de situações que geraram pânico e traumas inconscientes.
“Esses reflexos do medo desencadeiam toda uma alteração do comportamento esperado ou comportamento-resposta e, quando ele é exagerado, é chamado fobia. Neste caso, amaxofobia”.
De acordo com a psicóloga Paula Jenaína, sem ajuda, é difícil conseguir superar a fobia e muitas vezes necessita-se de uma equipe multidisciplinar.
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Entenda
O que é o medo?
O medo é natural. Não há nada de errado em sentir medo. Ele faz parte de um conjunto de emoções e pensamentos que está inserido na estrutura de autodefesa. É importante para a proteção.
O problema é quando o medo paralisa, impedindo de avançar e desenvolver aquilo que se deseja. O medo de dirigir é um destes problemas que pode atrapalhar a vida.
Com isso, ao avaliar o entendimento do medo de dirigir, é preciso considerar o que há de inconsciente, que cria essas “travas” na pessoa, e juntar com os recursos conscientes e dessensibilizar os reflexos para que o paciente tenha um tripé que sustente o enfrentamento do medo de estar com a direção na mão.
Por isso, é preciso compreender as travas inconscientes de cada paciente. É recorrente a associação ao medo de errar e se frustrar.
Amaxofobia
O medo irracional de conduzir ou de estar dentro de um veículo é um distúrbio psicológico, que, segundo a Organização Mundial de Saúde, atinge cerca de 6% dos brasileiros.
Pode ser desencadeado por: ansiedade, envolvimento com algum tipo de acidente traumático ou não, o medo de provocar algum tipo acidente e não saber o que fazer ou mesmo o estresse nos engarrafamentos.
Sintomas: falta de ar, medo, dor no peito, dor de barriga, enjoos, sudorese, dificuldade de raciocinar, tremores, taquicardia e choro.
Adianta dirigir com medo?
Se o medo não for uma fobia, apenas um medo, sim. Muitas coisas o ser humano faz com medo mesmo e, ao fazer essas coisas, o medo se dissolve. Se for uma fobia que tira a capacidade de a pessoa responder prontamente, pode ser perigoso.
Para quem quer e tem apenas medo, tente começar por estradas mais calmas e proporcione um ambiente confortável dentro do carro, com música relaxante, por exemplo. Sinta-se fisicamente confortável na cadeira e procure fazer isso com alguém.
Tratamento
A Terapia Cognitivo Comportamental pode auxiliar no tratamento por meio de técnicas de dessensibilização e exposição gradual ao medo.
Fonte: Psicólogas Naira Araújo e Paula Jenaína.
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