Miopia atinge cada vez mais crianças; Especialistas explicam o motivo
O aumento no número de crianças com a condição ocorreu, principalmente, durante e após a pandemia da covid-19
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Os casos de miopia em crianças aumentaram durante e após a pandemia da covid-19. O problema está relacionado, principalmente, à hereditariedade, à falta de exposição ao Sol e ao uso excessivo de telas, explicam especialistas.
“Com a pandemia, houve uma 'explosão' de casos de miopia nas crianças, pelo uso excessivo das telas, pelo fato de não haver alternância da visão de perto e de longe e da menor exposição à luz do Sol”, afirma a oftalmologista Liliana Nóbrega Cordeiro, sócia-fundadora da Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia (Abracmo).
A oftalmologista pediátrica Iara Tavares destaca que não somente os casos de miopia nas crianças têm aumentado, como o grau. “A gente observa isso sim no consultório. Temos verificado um aumento do número de casos de crianças míopes e miopias que ficam altas, com graus altos”, afirma a especialista.
O cirurgião do Hospital de Olhos de Vitória César Ronaldo Filho explica que a miopia é a dificuldade de visão para longe. É quando o olho fica um pouco mais longo do que precisa ser, e a imagem fica fora de foco.
“Existe um fator hereditário importante, porém, o que temos visto é um aumento muito grande em um espaço de tempo muito curto, o que fala a favor de estímulo do ambiente para o aumento da miopia”, afirma César. Ele chama a atenção para a idade: até os 8 anos, “o olho está bem imaturo”. E para o uso excessivo de telas.
Iara Tavares explica que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) estabelece horários mínimos para o uso de telas por crianças: até 2 anos – nenhum contato com telas; dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia; dos 6 aos 10 anos: até duas horas por dia; dos 11 aos 18 anos: até três horas por dia.
Liliana Nóbrega Cordeiro destaca que o tratamento pode ser feito retirando o uso excessivo de telas das crianças, fazendo mais atividades ao ar livre, com o uso de colírio, lente ocular e lente de contato.
“A lente ocular reduz a progressão da miopia na criança em 70% e a de contato, em 60%. Ainda há a ortoceratologia, que é uma lente noturna rígida”, afirma. “Estudos confirmam que crianças que brincam ao ar livre têm menos miopia”, observa César Ronaldo Filho.
Problema pode comprometer visão
Parece óbvio que um problema como a miopia dificulta a visão – o que realmente acontece. Mas especialistas chamam a atenção: se não for tratada, ela pode comprometer a visão.
“Quanto maior o grau, e acima de cinco graus já é considerada alta, maior a chance de desenvolver doenças associadas, como glaucoma, catarata, descolamento de retina”, afirma a oftalmologista Liliana Nóbrega Cordeiro, sócia-fundadora da Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia (ABRACMO).
O cirurgião do Hospital de Olhos de Vitória César Ronaldo Filho explica uma das dificuldades dos pais de perceberem o problema nas crianças menores é porque a miopia piora a visão para longe, mas não dificulta para perto.
Segundo Liliana, algumas atitudes dos pequenos podem ser observadas, tais como: se aproximar muito os objetos do rosto, apertar os olhos quando olha para longe e sentir dor de cabeça.
Já para os que estão em idade escolar, a oftalmologista pediátrica Iara Tavares recomenda a observação de pais e professores. “É aquela criança que não consegue ler o que está no quadro ou não lê legendas”, afirma a especialista.
Desde 2017, o Exame do Olhinho é obrigatório por lei no Brasil. Os recém-nascidos devem fazê-lo ainda na maternidade. Os especialistas são unânimes em afirmar que, a partir do primeiro ano de vida, o acompanhamento com oftalmologista deve ser feito anualmente.
“É importantíssimo o exame anual”, diz César Ronaldo. Ele explica que a quantidade de pessoas em busca por cirurgia de miopia também aumentou, desde a pandemia. O especialista observa que o ideal é que se espere até os 21 anos para fazer o procedimento.
OPINIÕES
"Até os 8 anos, o olho está bem imaturo. A gente vê crianças usarem celulares durante horas por dia. É importante os pais evitarem o uso do aparelho pelas crianças”, César Ronaldo Filho, cirurgião do Hospital de Olhos de Vitória.
"A gente observa isso sim no consultório. Temos verificado um aumento do número de casos de crianças míopes e miopias que ficam altas (graus altos)”, Iara Tavares, oftalmologista pediátrica.
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