Médicos explicam por que alergias continuam matando
Especialistas alertam que, para minimizar o risco, é preciso importar medicação, que ainda não é vendida no Brasil
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Os frutos do mar, segundo especialistas, estão entre os principais causadores de alergias e, para quem não pode consumi-los, representa uma ameaça à vida. Mas, por que as alergias continuam matando?
Médicos explicam que falta um plano de ação para a anafilaxia, crise alérgica grave. Para evitar um desfecho trágico, o recomendável seria usar precocemente a adrenalina autoinjetável, que ainda não é comercializada no País. Porém, pacientes têm importado a caneta, que custa em média R$ 2 mil.
Recentemente, o influenciador digital Brendo Yan da Silva, de 27 anos, do Rio Grande do Norte, morreu após uma reação alérgica, ao comer um bolinho de camarão. Segundo a mulher de Yan, Victória Figueiredo, ele apenas tomou um antialérgico, mas quando foi levado ao hospital, não resistiu.
A médica alergista e imunologista Juliana Salim frisa que as alergias ainda matam, já que muitos pacientes não procuram um alergista para passar um plano de ação.
“Em uma situação em que a pessoa come um alimento e sabe ou não que é alérgico, ele precisa de um plano de ação. Esse plano vai depender da reação do paciente e do que ele comeu. Por exemplo, se for um caso grave, a gente orienta portar a caneta de adrenalina”.
De acordo com a alergista e imunologista Milena Pandolfi estudos mostram que o uso precoce da adrenalina faz diferença na taxa de mortalidade da anafilaxia.
A médica aponta ainda que em países, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália, já existem políticas de obrigação de adrenalina em ambientes públicos, como parques, restaurantes, e não só em ambientes de saúde.
“O paciente pode comprar a adrenalina autoinjetável, na farmácia comum, com um receita médica normal. Isso faz toda a diferença nos quadros graves e pode, sim, evitar um evento fatal”.
A alergista Alexandra Sayuri Watanabe, membro do Departamento Científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, frisa que as reações graves ocorrem em vários órgãos do corpo e podem acontecer em qualquer fase da vida.
“Pode causar inchaço na boca, pálpebras e orelha; afetar o sistema respiratório. Também pode causar dores abdominais, vômitos, diarreias, tontura e desmaios. Nas reações alérgicas, a pessoa desenvolve um anticorpo contra determinadas proteínas de alimentos, medicamentos ou venenos de insetos”.
Antialérgico não evita reação
Quem teve alergia a algum alimento, não deve tomar um antialérgico antes para pode consumir o alimento. Esse comportamento, segundo os médicos, é arriscado e pode levar à morte.
“Isso é o que os pacientes mais fazem: tomam o antialérgico para poderem comer. Antialérgico não segura a anafilaxia, que é a reação grave de alergia”, alerta a alergista e imunologista Juliana Salim.
Ao G1, Victória Figueiredo, mulher do influencer Brendo Yan, de 27 anos, que morreu após comer um bolinho de camarão, disse que o marido comeu o bolinho achando ser de frango.
O casal recebeu os bolinhos de um vizinho, que não sabia que Yan era alérgico e não avisou sobre o recheio de camarão.
A alergista e imunologista Milena Pandolfi explica que antialérgicos e corticoides também são importantes, e a maioria dos pacientes com reações alérgicas pode ter suas crises controladas usando esses mediacamentos. “Porém, se o paciente tiver sintomas de uma reação grave, a adrenalina não deve ser postergada”.
Caneta autoinjetável
A anafilaxia é uma reação aguda, muito rápida, que em poucos minutos pode matar. Usar a adrenalina autoinjetável, aos primeiros sinais da doença, pode evitar a morte.
O Brasil ainda não tem registro do medicamento . O uso da adrenalina é feito apenas em hospitais.
Os portadores de anafilaxia são obrigados a comprar a medicação no exterior, com importadoras. Além de ter a adrenalina autoinjetável, médicos afirmam que é muito importante ter um plano de tratamento de anafilaxia. Empresas que importam o produto podem ser consultadas no site www.anafilaxiabrasil.com.br.
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