Médico fica 3 meses internado após infecção no dente: "Apesar de tudo, sou grato"
Médico capixaba teve cérebro e coração atingidos, precisando passar por uma neurocirurgia e ser levado três vezes à UTI
Escute essa reportagem

O cirurgião plástico capixaba Eduardo Passamai viveu uma experiência que mudou sua vida – e sua fé. Após uma fratura na raiz de um dente, ocasionada possivelmente pela quebra de uma obturação dentária, ele desenvolveu uma infecção que se espalhou pelo corpo, atingindo o cérebro e o coração.
Ele contou que o quadro foi descoberto na madrugada do dia 28 de abril, quando começou a sentir dores de cabeça muito fortes. Foram 90 dias de internação, três idas à UTI e uma neurocirurgia para drenar abscessos cerebrais.
“Até esse dia, eu não tinha nada. Operei uma paciente na sexta, fui na Romaria da Penha. No domingo fui para um churrasco. Estava bem. Mas à noite, começou uma dor tão forte que pedi para minha esposa me levar ao hospital. Achei que era uma enxaqueca, mas era algo tão forte que já estava vomitando e quase desmaiando”.
Ele revelou que a medicação fez com que ele só acordasse horas depois, na UTI, com a equipe falando na possibilidade de fazer a cirurgia para uma lesão cerebral. “Ainda não tinham certeza se era um abscesso causado por infecção ou tumores no cérebro, pois o exame de imagem foi feito sem contraste”.
Após novos exames, a infecção se confirmou. “Ela já tinha feito uma pequena lesão cardíaca e foi para o cérebro. Só depois entendemos que a porta de entrada tinha sido o dente, que teve uma fratura na raiz. Parte da resina da obturação, que eu tinha feito há um tempo, quebrou e machucou a gengiva”.
Como não havia relatado nenhum sintoma – como febre, inchaço ou dores na boca –, a infecção no dente quase passou despercebida. Dentro dos 90 dias de internação, ele contou que chegou a ir por três vezes para a UTI. Uma delas, por causa de uma arritmia cardíaca, possivelmente causada pela medicação utilizada.
A alta veio na semana passada, mas ainda com limitações da internação prolongada, como o inchaço por causa da quantidade de medicamentos e corticoides tomados durante os 90 dias e a diminuição da parte muscular, mas já em reabilitação desde então.
“Apesar de tudo, estou muito grato. Deus me deu uma oportunidade ao vencer essa batalha. Por isso agradeço todos os dias”.
Eduardo Passamai, cirurgião plástico: “Aprendi a ver o lado positivo”

Em casa há pouco mais de uma semana, o cirurgião plástico capixaba Eduardo Passamai contou sobre a mudança na rotina ao longo da recuperação da grave infecção, que chegou a atingir seu cérebro. Passamai revelou que se manteve otimista durante todo o tempo – mesmo diante das incertezas iniciais do diagnóstico.
O tempo, segundo ele, foi usado para conversar mais com a família, fazer orações e ainda ler e estudar.
“Li cerca de quase 30 livros e escrevi, pois lá fazia meu próprio horário. Postei algumas vezes os livros que estava lendo”.
A Tribuna Ao sentir as fortes dores de cabeça imaginou um diagnóstico tão grave?
Eduardo Passamai: Não. Eu acreditava que era uma enxaqueca. Eu não costumo ir para hospital, pois sempre fui muito alérgico. Mas nesse dia a dor era tanta que não aguentei.
Em algum momento ficou assustado com o quadro?
Sempre fui muito positivo. Eu entendi como seria o tratamento e sabia que seria longo o tempo todo. As pessoas que estavam em volta ficavam surpresas sobre como eu estava calmo, até no momento da cirurgia. Eu acalmava minha família e amigos o tempo todo.
A que atribui isso?
Acredito que tenha muito a ver com a fé. Acredito que tudo acontece no momento que tem que acontecer. Quando internei, lembrei de uma conversa com uma paciente minha dois meses antes. Ela é evangélica e disse que tinha uma revelação para mim. Disse que, assim como Jó, meu corpo seria tocado, mas a minha fé seria aumentada. E, com isso, eu tinha um propósito que ia mexer não só com a minha vida, mas com a de muitas pessoas.
Eu ainda não sei qual o propósito, mas todo esse tempo internado me fez refletir bastante. Temos que ver o lado positivo em tudo.
O que viu de positivo?
Muitas coisas. Pude ficar muito tempo com minha família, conversando. Pude tomar muitos cafés com minha mãe. Muitas vezes, com a correria do trabalho, a gente acaba perdendo esses momentos. Eu falava com eles 'agora tenho todo o tempo do mundo'.
Não via muita televisão, mas os livros ocuparam o lugar. Consegui desenvolver alguns trabalhos científicos, um deles sobre a cirurgia plástica funcional, a qual eu pratico aqui em Vitória. Saí de tudo isso mais forte, e agora só estou esperando a autorização dos médicos para voltar ao trabalho.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários