Médica cai em golpe da pirâmide e perde R$ 423 mil
Empresário prometeu rendimentos de até 3%, mas sumiu com o dinheiro da vítima, que faz apelo para que o acusado seja preso
Escute essa reportagem
Economias juntadas durante anos de trabalho, que somam R$ 423 mil, perdidas. É assim que começa uma história contada por uma médica de 50 anos que foi vítima do golpe da pirâmide.
A médica, que pediu para o seu nome ser preservado, contou que conhecia o empresário que está sendo acusado de aplicar o golpe e, acreditando nas promessas de obter rendimento de 3% ao mês, decidiu fazer o investimento em abril do ano passado.
Em setembro do ano passado, o caso foi denunciado à Polícia Civil. Em outubro, ela prestou depoimento na Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), em Vitória.
Apesar de conhecê-lo, ela exigiu um contrato. “Ele redigiu o documento e reconheceu firma em cartório”, ressaltou.
Inicialmente, foram nove transferências via Pix, totalizando o valor de R$ 383 mil. Além disso, ela investiu mais R$ 40 mil.
Mas depois de três meses, ela percebeu que tinha sido vítima de um golpe ao solicitar o dinheiro de volta, mesmo sem os rendimentos contratados.
“Eu só ouvia eternas desculpas dele, que o seu CPF tinha sido bloqueado e não estava conseguindo movimentar o dinheiro. Por diversas vezes, ele dizia que estava com o gerente do banco tentando fazer a transferência”.
“Depois, ele falou que respondia um processo na Receita Federal e que, por isso, o dinheiro estava retido, mas descobrimos que era mentira. Ele chegou a dizer que tinha tido surto psiquiátrico e que tinha viajado para o Japão”, disse.
À reportagem, a médica contou que isso afetou a sua confiança e autoestima.
“Me senti enganada por uma pessoa que não era estranha, que já teve empresas e se aproximou de mim através do meu antigo companheiro, dizendo que estava preocupado com ele. Apesar de estar separada, me preocupo com o meu ex-companheiro”, ressaltou.
Os dois, então, marcaram de tomar um café juntos.
“Foi quando o acusado começou a conversar sobre investimentos, falando que os médicos geralmente têm a vida financeira desorganizada. Ele me convenceu a transferir os valores que eu tinha aplicado e disse que cuidaria do meu dinheiro. Perdi todo o dinheiro que tinha guardado e terei que fazer empréstimo para alguns projetos de vida”.
Indignada, ela faz um apelo para que o acusado seja preso e pague pelos crimes que cometeu. “Eu não fui a única vítima dele. Há outros boletins de ocorrência registrados. É uma sensação de impotência e de desesperança”.
Servidor público, vítima de golpe: “Estou desesperado e em depressão. É difícil acreditar”
Quem também amarga em um prejuízo de mais de R$ 200 mil é um servidor público federal de 71 anos, junto com seus familiares.
Como conhecia o acusado, que era o seu vizinho em um prédio na Praia do Canto, em Vitória, e chegou a frequentar o seu apartamento, o servidor contou que não desconfiou que pudesse estar em frente a um golpista.
À reportagem, ele contou como tem sido a sua vida desde que perdeu o dinheiro. Assim como a médica que foi vítima do golpe, o servidor público pediu para o seu nome ser preservado.
A Tribuna - Qual era a promessa de retorno do investimento?
Servidor público - "Ele prometia 3% de rendimento ao mês. Eu não pensei duas vezes e apliquei. Inicialmente, há três anos, foi R$ 20 mil. Depois, mais R$ 70 mil. Meus filhos, esposa e sogro também investiram ao longo desses anos. Ao todo, o valor que perdemos é de cerca de R$ 280 mil."
- Chegou a ganhar algo?
"No começo, ele depositava 3% desses R$ 90 mil. Mas há cerca de um ano ele parou de depositar."
- Como descobriu que algo estava errado?
"Achei estranho quando ele soube que eu estava vendendo um apartamento no centro de Vitória e falou que se eu aplicasse R$ 160 mil, o meu retorno mensal seria de 60% durante três meses. Aí eu desconfiei, mas já era tarde.
Além disso, vi que, de uma hora para outra, a mulher dele o colocou para fora de casa. Isso foi neste ano. Também começaram a aparecer pessoas armadas na portaria do nosso prédio perguntando por ele.
Primeiro, a informação era que ele tinha ido para casa de um irmão na Serra. Depois, que teria ido para o Japão. Não conseguimos mais contato. Temos um número do Japão, mas ninguém atende.
No começo das conversas sobre investimentos, ele dizia que tinha R$ 4 milhões na conta dele, mas depois eu soube que quando ele fugiu levou R$ 11 milhões."
- Quais transtornos isso trouxe para a sua vida?
"Estou desesperado e em depressão por causa disso. É difícil acreditar que eu perdi esse dinheiro."
- Qual é a sensação que fica?
"De impotência. Isso está acabando comigo. Além da depressão, eu tenho três pontes de safena. Só nos resta esperar pela Justiça."
Acusado foi indiciado pelo crime de estelionato
Investigado desde setembro do ano passado pela Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), o acusado foi indiciado pelo crime de estelionato.
A afirmação foi feita ontem pelo titular da Defa, delegado Fabiano Alves Azevedo de Melo. Segundo ele, a pena prevista no Código Penal para o crime estelionato é de um a cinco anos de prisão. “O inquérito foi relatado e enviado para a Justiça em abril deste ano”, explicou.
Fabiano Alves destacou que o indiciamento refere-se ao crime cometido contra a médica e o servidor público federal.
O delegado contou que há outro caso sendo investigado em outra delegacia, de uma vítima que teria perdido R$ 360 mil.
Fabiano Alves explicou que o caso é enviado à Justiça e o juiz remete ao o Ministério Público do Estado (MPES), que denuncia ou não o acusado. “O Ministério Público Estadual também pode pedir mais investigações se achar necessário, mas até agora não houve essa solicitação”.
À reportagem, o Ministério Público do Estado, por meio da Promotoria de Justiça Regional de Investigação, informou que os autos estão em análise.
“No momento, não é possível fornecer mais informações para evitar prejuízos às apurações”, disse, por nota, na tarde de ontem.
Sobre o golpe, o delegado orienta que as vítimas façam muitas pesquisas antes de investir qualquer quantia.
“É preciso verificar a índole dessa pessoa que está se apresentando como gestor de investimentos, fazer pesquisa sobre a empresa, ver a credibilidade dela no mercado”.
Ele reforça ainda que é importante buscar algum conhecimento básico de investimentos. “Assim, a pessoa que pretende investir terá maior possibilidade de identificar ofertas fraudulentas, diferente de quem não tem qualquer conhecimento e acaba aceitando como verdade tudo o que o criminoso diz”.
Caso seja vítima, o delegado salienta que é fundamental procurar a polícia para denunciar, em qualquer delegacia.
O nome do acusado não está sendo divulgado pois o caso segue em investigação. A reportagem tentou descobrir quem faz a sua defesa, mas não obteve êxito.
Comentários