Mãos que cooperam para levar o café à mesa
Para produzir tanto, e com muita qualidade, por de trás de cada grão ou serviço há um produtor com uma história familiar
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Você já parou para pensar de onde vêm os alimentos consumidos na sua casa? O Espírito Santo é um ativo participante na agricultura familiar, agropecuária, fruticultura, e cafeicultura. Falando em café, esse é o queridinho do mundo: a segunda bebida mais consumida, perdendo apenas para água.
Para produzir tanto, e com muita qualidade, por de trás de cada grão ou serviço há um produtor com uma história familiar de muita intimidade com a terra e os grãos.
Um desses heróis que trabalha duro há mais de 47 anos para levar o melhor café à mesa do consumidor é Clarindo Brioschi, de 87 anos, de Venda Nova do Imigrante. Ele passa para toda sua família a tradição italiana presente nas suas plantações de café, produção de laticínios e agricultura.
A história da família Brioschi no Espírito Santo começou no final do século XIX quando o pai de Clarindo Brioschi, o italiano Giovanni Batista Brioschi, devido aos efeitos da guerra ainda em unificação na Itália, veio parar no Brasil, onde conheceu o grande amor de sua vida.
“Meu pai chegou alguns anos depois, mas ele encarou e viu que a agricultura ia ser vantajosa, com o café. Naquela época não se falava em outra coisa a não ser o café. Toda a casa tinha uma vaquinha de leite para manutenção dos filhos, mas o café sempre era o carro chefe de Venda Nova do Imigrante”, contou Clarindo Brioschi.
Os anos foram se passando, a imigração italiana se fortalecendo em todo o Estado e as plantações de café crescendo juntamente com as expansões territoriais. Aos poucos, a tradição ia sendo passada de geração em geração e, com ela o plantio de café, como uma ação atemporal.
Atual produtor rural e dono de parte da propriedade da família, Gilberto Brioschi, o filho de Clarindo Brioschi, conta como é dá sequência ao trabalho que o avô Giovanni começou e que hoje leva os grãos do café para diferentes países, por meio da cooperativa Coopeavi.
“Eu fico feliz porque evoluímos na produção de café, mas também fomos para o turismo e gado de leite. Uma evolução enorme dos anos 1990 pra cá, e isso é fruto do nosso trabalho em família. Trabalho, dedicação e foco. Não criamos fortuna no banco, claro, porque é um trabalho muito difícil, mas eu estou feliz. Foi Deus que nos colocou aqui, quando morrermos não vamos levar nada, mas vamos deixar um legado para as gerações”, contou Gilberto Brioschi.
Conheça a história da família Brioschi contada por eles
Entrevista | "O café é um orgulho que carrega a história dos imigrantes", diz produtor
Tribuna Online - O que o café significa para vocês?
Clarindo Brioschi - Para os imigrantes foi tudo. Hoje, já se diversificou muito com outras culturas, mas café é alimento, café exige também o que a gente aprende com respeito ao tratar com higiene e pureza para ter qualidade. Café não é para pegar e misturar com carvão ou com milho, por exemplo, o café tem que ser puro. Mesmo que ele seja de segunda qualidade, mas que não esteja em mistura, não é? Além disso, o café é um orgulho que carrega a história dos imigrantes.
Gilberto Brioschi - Ah, café para mim é onde a gente consegue o sustento. É aqui no café que tem anos de crise, mas você sempre consegue pagar as contas, entendeu? Eu mexo com gado de leite, eu sei a dificuldade que é de fechar as contas no final do ano, às vezes, fecha sempre devendo. Agora o café não, o café ele te dá esse sustento garantido.
Passaram por muitas dificuldades até chegar onde chegaram?
Gilberto Brioschi - Passamos muito aperto na nas primeiras plantações. No início, depois de muita luta, perdemos 30% de nossa lavoura. Depois, em 1966, choveu granizo e perdemos uma parte da lavoura também. Papai precisou vender um boi que a gente tinha para comprar as mudas novas. Passamos por muitas dificuldades, mas fomos insistindo no sonho da família e em meados dos anos 2000 começamos a nos destacar no café, através dos prêmios.
O MELHOR CAFÉ DO BRASIL É CAPIXABA
A cafeicultura está em todas as regiões do Estado. A diversidade começa nas espécies: Coffea arábica (arábica) e Coffea canephora (conilon), segundo informações do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper),
“O arábica é mais cultivado em regiões de temperaturas mais baixas e altitudes acima de 500m. Já o conilon é de regiões mais quentes, normalmente plantado abaixo de 500m de altitude”, informa o Incaper.
Para o analista de Mercado do Sistema OCB/ES, Alexandre Ferreira, o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de café do mundo. Já o Espírito Santo é o segundo maior produtor do país, ficando atrás apenas de Minas Gerais. “O Espírito Santo, segundo uma estimativa da CONAB, introduz cerca de 16.000.500 sacas de café no país, já Minas Gerais produz 505.000.000 do grão”, explicou o analista.
Ainda segundo o Incaper, os maiores produtores de café conilon do Espírito Santo são os seguintes municípios: Rio Bananal, Vila Valério, Jaguaré, Vila Valério, Nova Venécia, Sooretama, Linhares, Rio Bananal, São Mateus, Pinheiros, Governador Lindenberg, Boa Esperança, Vila Pavão, São Gabriel da Palha, Colatina e Marilândia.
Já os maiores produtores capixabas de café arábica são os municípios de: Brejetuba, Iúna, Vargem Alta, Ibatiba, Muniz Freire, Irupi, Afonso Cláudio, Domingos Martins, Ibitirama, Castelo, Mimoso do Sul e Santa Teresa, também de acordo com o Incaper.
QUALIDADE DE NORTE A SUL
A alta qualidade do café capixaba fez a bebida ser mais valorizada e hoje, o Estado chega a enviar sacas para diversas partes do mundo. Mas nem sempre foi assim, principalmente, quando o assunto é café conilon.
Na década de 1960 houve erradicação do grão e o Espírito Santo foi o Estado que mais erradicou (em termos percentuais). Diante deste cenário, surgia no Norte do Estado um grupo de agricultores que foram na contramão do cenário nacional e deram início ao que é hoje a maior produtora de café conilon do Brasil e uma das maiores do mundo.
Ouça a história da Cooperativa, por : Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel.
E é impossível falar em café conilon no ES, sem mencionar Dário Martinelli, um político e produtor rural capixaba, falecido em 2015, mas até hoje considerado o “pai do café conilon” no Estado.
Dona Célia Martinelli, viúva de Dario, carrega hoje a tradição da família e, contou em entrevista que, enquanto prefeito, Dario começou a estimular o plantio do café. “Foram muitos estudos, vimos regiões da África onde havia esse conilon e percebemos vantagens na bebida com valor energético, além disso, vimos em São Gabriel, uma vantagem geográfica que foi essencial”, contou Célia.
Entrevista | "Ele não desistia do sonho de mudar a vida das pessoas com o conillon", diz Célia Martinelli, viúva do "pai do café conillon"
Tribuna Online: E pra dona Célia, quem foi esse Dário Martinelli?
Célia Martinelli - Ah, ele foi muito importante para mim, viu? Foi um maridão, muito carinhoso, amoroso, parceiro, muito amigo. Nós nos respeitamos bastante. Isso me deixa uma saudade que não acaba, viu?
Em algum momento alguém chegou a duvidar dele?
Tem sim! Mas ele era muito humilde, nunca se esnobou. Ele participava de todas as reuniões e as críticas vieram, mas ele não desistia desse sonho de mudar a vida das pessoas com o conilon
A senhora chegou a falar que teve sete filhos e está sempre em família, essa geração carrega o legado do pai do café conilon?
Sim eles sabem tudo, eles têm o maior orgulho. Eu tenho 26 netos e 12 bisnetos, fora os genros e as noras. A família é grande e todo mundo respeita a história.
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