Mais de 40% dos alunos já sofreram bullying na escola
Somente neste ano, foram registrados 68 casos de bullying contra crianças e adolescentes, média de uma agressão a cada dois dias
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Mais de 40% dos adolescentes admitiram ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já terem sofrido discriminação, provocação e intimidação no ambiente escolar. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgados no final do ano passado.
De acordo com o comandante da Companhia Independente de Polícia Escolar (Cipe), Major Eliandro Claudino de Jesus, somente neste ano (até 23 de maio) a patrulha escolar realizou 2.980 atendimentos nas escolas, sendo que 68 foram em resposta a acionamentos de diretores que identificaram casos de bullying e discriminação.
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Uma média de um caso de bullying registrado a cada dois dias.
Para o 1º promotor de Justiça da Infância e Juventude de Cachoeiro de Itapemirim, Paulo Sérgio Moreira Nóbrega, a luta contra o bullying deve começar no ambiente familiar.
“A luta contra o bullying começa em casa, uma vez que a família é o suporte e a referência básica para a socialização sadia de crianças e adolescentes. Então, busque o diálogo com seus filhos, participe de sua vida escolar, fique atento às mudanças de comportamento”, orienta.
Ainda de acordo com o promotor, o Ministério Público moveu uma Ação Civil Pública para a construção de um Centro de Atenção Psicossocial para a Infância e Juventude (Caps) em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado.
Segundo ele, hoje os espaços para internar crianças e adolescentes são somente para os dependentes de álcool e drogas, como o Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos (Capaac), no mesmo município.
“Quando precisam de tratamento são atendidos nesses espaços, que não são adequados para o caso. Além disso, na maioria das vezes, fragilizados, são dopados por medicamentos e sofrem assédio”.
Paulo Sérgio contou que recentemente se reuniu com quatro mulheres que pretendem criar uma associação de mães de estudantes vítimas de bullying na escola.
Apesar do Ministério Público ter ganhado a ação que determina a construção de um espaço específico para acolher crianças e adolescentes, o município recorreu alegando não ter condições financeiras para arcar com o custo, estimado em R$ 74 mil por mês para manter o Caps I.
Em nota, a Prefeitura de Cachoeiro informou, por meio da Secretaria de Saúde, que está em um processo de parceria com uma faculdade particular no município para construção do Caps e destacou que está em contato permanente com o Ministério Público a respeito dessa ação.
Os números
68 casos de bullying em escolas capixabas
2.980 ações da patrulha escolar no Estado
Paulo Sérgio Promotor de Justiça - “A luta pelo respeito sempre começa em casa”
A tribuna - O senhor disse que recebeu mães de adolescentes que sofreram bullying em escolas de Cachoeiro. Que orientação daria a outros pais e mães cujos filhos passam pelo mesmo problema?
Promotor - Para os pais que passam por essa situação narrada, o essencial é que busquem ajuda profissional. Na eventualidade de o poder público não lhes atender ou mesmo atender, porém de forma deficitária, que procurem o Ministério Público Estadual, o Conselho Tutelar ou a Defensoria Pública Estadual para a defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
O que recomenda fazer de forma preventiva?
Seja um exemplo para seu filho. Ensine e pratique o respeito às diferenças entre as pessoas. Eduque, mas estabeleça limites, fique atento às mudanças de comportamento. Essa luta pelo respeito começa sempre em casa.
O Ministério Público atua junto às escolas?
Campanhas do Ministério Público pelo País focam também como destinatários as unidades escolares e as próprias crianças e adolescentes. Em relação à escola, recomenda-se que tenham regras bem definidas contra o bullying, inclusive no Projeto Político Pedagógico da escola, de modo que todos saibam diferenciar brincadeiras de bullying, desenvolver programas específicos contra tal prática, estimulando a discussão do tema entre corpo docente, pais e alunos, com atividades que trabalhem o respeito e a tolerância às diferenças individuais e socioculturais.
São comuns demandas de famílias pedindo intervenção do Ministério Público por causa de bullying na escola?
Infelizmente, quando familiares procuram o Ministério Público para demandas individuais, normalmente é devido à gravidade e proporção alcançadas pelas atitudes agressivas praticadas de forma repetitiva com intuito de humilhar ou intimidar familiares, em boa parte das vezes filhos em idade escolar. A situação toma contornos mais sérios quando estamos diante do chamado cyberbullying, ou seja, as agressões veiculadas pela internet, haja vista a velocidade com que a agressão se multiplica.
Saiba mais
Formas de bullying
Direta: os alvos são atacados diretamente por meio de agressões físicas ou verbais (apelidos, ameaças, ofensas) e por gestos que incomodam.
Indireta: as ações levam ao isolamento social, ou seja, a agressão ocorre por meio de indiferença, isolamento, exclusão social ou difamação por boatos/fofocas.
Cyberbullying: ocorre por meio de computadores ou celulares, sendo, geralmente, uma extensão do bullying que acontece na escola para o virtual.
Alguns tipos
Físico: chutes, empurrões, lesões ligadas a atos de pressão e contato e também beliscões.
Verbal: apelidos, intimidação, provocação, observações homofóbicas ou racistas, muitas vezes com início mais leve e discreto, até atingir o alvo definido.
Moral, social ou psicológico: inclui ignorar, fazer pouco caso, imitar desfavoravelmente, usando trejeitos e fazendo piadas, excluir ou incentivar a exclusão social com objetivo de humilhar. É mais difícil de reconhecer.
Material: inclui estragar, danificar, furtar os pertences ou atirá-los contra a vítima.
Cyberbullying: inclui a utilização de mídia eletrônica, por intermédio de e-mails, postagens, imagens ou vídeos. Tem o potencial de alcançar um número muito grande de pessoas podendo causar danos psicológicos.
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