Maioria não sente culpa por traição, diz pesquisa
Estudo aponta ainda que as pessoas casadas que têm casos fora do matrimônio os consideram “altamente satisfatórios”
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Trair e não sentir culpa. Pode até parecer estranho, mas uma pesquisa mostrou que pessoas casadas que se envolvem em casos fora do matrimônio relataram sentir pouco sentimento de remorso, além de terem considerado o caso “altamente satisfatório”.
O estudo foi conduzido pelo Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, com pessoas que usam o Ashley Madison, site para “facilitar” casos extraconjugais, e foi publicado na revista Archives of Sexual Behavior (tradução livre “Arquivos de Comportamento Sexual”).
A terapeuta de família Naira Caroline ressalta que a falta de remorso pode ser sinal de narcisismo e imaturidade para assumir um compromisso com o outro que envolve a vida dos dois.
“A pessoa adulta e madura consegue responder por si sobre o que quer viver no âmbito emocional com o outro, ela é capaz de assumir responsabilidades e compromissos, inclusive os de liberdade para estar com outras pessoas desde que seja algo aceitável e combinado entre o casal”, ressalta.
Entre os principais motivos para uma traição, o psicólogo Alexandre Brito diz que há pessoas que podem justificar insatisfação no relacionamento ou busca por aventura.
“Outros alegam baixa autoestima e, nessa procura por uma espécie de afirmação, têm envolvimento fora do relacionamento. Há também os que alegam desejo sexual insatisfatório e cedem ao desejo por outras pessoas”.
A insatisfação sexual, inclusive, foi a motivação mais citada, na pesquisa, para se ter um caso.
“É perceptível que ainda, nos dias atuais, muitos parceiros ou parceiras têm dificuldades de expor seus desejos sexuais ao outro de forma clara e objetiva”, pontua a psicóloga Ana Carolina Souza.
“O diálogo aberto e claro faz com que os parceiros se conheçam mais intimamente e isso aguça os sentidos do prazer, fazendo com o que o casal satisfaça um ao outro na cama”, ressalta a psicóloga.
Os pesquisados disseram ainda que a traição não prejudicou seus casamentos “saudáveis”.
“Há homens e mulheres que podem ser viciados no jogo de seduzir, mesmo em um relacionamento bom, isso é muito relativo e pode ser um vício. É muito importante que a pessoa busque ajuda”, aconselha a psicóloga Naira Delboni.
Como perdoar a infidelidade
Será que é possível o casamento se recuperar após uma traição? Para a psicóloga Naira Caroline é possível, se houver, de fato, uma compreensão de ambas as partes do porquê isso aconteceu.
“Se ambos forem capazes de zerar e ajustar os ponteiros e se forem capazes de viverem o perdão e o recomeço, é possível superar o ato de infidelidade”, diz.
“E a terapia está aí para isso, a terapia de casal não funciona como milagre, mas é um importante veículo para quem quer reconstruir a relação, pois ela vai apontar os norteadores por onde isso pode acontecer, se for da vontade dos dois um recomeço”, completa.
O psicólogo Alexandre Brito reforça que quando há uma traição há uma quebra de confiança.
“A palavra confiança vem de 'ter fé no outro', é não vigiar o tempo todo, é acreditar na palavra do outro, é não controlar. E quando há traição, há quebra da confiança. E demora um certo tempo para o casal lidar com a traição e fortalecer novamente o relacionamento”.
“Deixar o passado para trás”, é assim que as pessoas que querem seguir com um matrimônio devem fazer, segundo a psicóloga Naira Delboni.
“À medida que o relacionamento vai dando continuidade é importante não reviver os fatos da traição. Isso pode dificultar a reconstrução da confiança”, ressalta.
A psicóloga Ana Carolina Souza destaca que perdoar não é sinônimo de que a pessoa precise aceitar a outra.
“Perdoar é na verdade se libertar de um sentimento que gera uma avalanche de outros sentimentos ruins, entre eles a raiva e a culpa”.
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