Maioria esconde ser LGBTQIA+ no trabalho
Pesquisa aponta que 61% dizem não revelar orientação sexual para gestores e colegas de empresa, mesmo em tempos de diversidade
Escute essa reportagem
Mais de 60% das pessoas no Brasil que se identificam como gays, lésbicas, bissexuais e travestis escondem sua orientação sexual para gestores e colegas na empresa onde trabalham. É o que aponta a pesquisa Center for Talent Innovation.
Os dados intrigam a psicóloga e advogada Ludmilla Camilloto. Autora do livro “Direito de ser”, ela trabalha há 16 anos com diversidade de gênero e busca com palestras nas empresas reduzir esse número no dia a dia das corporações.
A pesquisa aponta que 61% dos LGBTQIA+ no Brasil não se sentem à vontade para se assumirem no ambiente profissional.
“A diversidade e a inclusão precisam ser concretizadas na prática, dentro das organizações. E o meio de chegar a isso é através da educação corporativa. É isso que estou fazendo no Estado”, explica.
A especialista conta que trabalhar com diversidade deixou de ser uma escolha da empresa, é absolutamente fundamental. “Isso é importante dizer porque passa por três aspectos: o jurídico, o organizacional e alteridade, que é quando a gente fala do outro, dos aspectos éticos e morais”.
A diversidade é, segundo a psicóloga, um fator fundamental para o negócio, que impacta na performance da empresa.
“A diversidade de olhares, de perspectivas, de um mundo que tem problemas complexos muda a visão de uma empresa. Com uma visão homogênea, de pessoas iguais para elaborar serviços e produtos para uma sociedade que é complexa, a gente vai ter uma pequena fatia dessa visão ampla”, pontua Ludmilla Camilloto.
Que completa: “Quando a gente cria times diversos, com pluralidade de visão, de formação e socialização diversa, a gente traz essas contribuições para dentro da empresa e isso se reverte em inovação, criatividade, e engajamento dos colaboradores que podem ser quem são”.
Para a psicóloga, 61% desses trabalhadores não se assumem por causa de preconceitos e estereótipos que a sociedade impõe. “Se essas pessoas puderem ser quem elas são, terão disponibilidade maior de fazer uso de toda sua potencialidade, reduzindo conflito na empresa e entre as pessoas”.
Pessoas trans mais prejudicadas
O livro da psicóloga e advogada Ludmilla Camilloto fala sobre os aspectos jurídicos e psicológicos de pessoas trans. Foram dois anos de convivência diária com oito transexuais para escrever o exemplar, que também mostra sobre as dificuldades de não se sentirem à vontade em ser quem são.
Os transexuais não se identificam com o gênero que nasceram. A partir de 2018 passaram a ter autonomia para irem ao cartório alterar nome e gênero sem laudo.
“A despatologização das pessoas trans foi falada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), confirmando que não são pessoas doentes. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que essas pessoas podem mudar seus nomes e gênero no cartório e eu fui escutar as pessoas trans sobre o que achavam da nossa legislação”, diz.
A psicóloga destaca que “ser quem você é” em um país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo, que tem assassinato de pessoas LGBTQIA+ a cada 26 horas, demonstra também o risco.
“O risco de perder o emprego e o risco de violência psicológica, física. Algumas pessoas não conseguem ser quem são, por receio. Então, só por meio de educação é que isso pode mudar”, frisa.
ENTENDA
Cada letra da sigla LGBTQIA+ traz um significado e representa um grupo distinto:
L – lésbica;
G – gay;
B – bissexuais;
T – travestis, transexuais e transgêneros;
Q – queer é um termo emprestado do inglês que se refere a pessoas em não conformidade com os padrões de sexualidade ou gênero;
I – intersexuais são pessoas que apresentam variações clínicas relacionadas aos cromossomos ou órgãos reprodutivos ou sexuais;
A – assexual é quem sente pouca (a depender do contexto) ou nenhuma atração sexual por quaisquer dos gêneros;
+ – abarca todas outras identidades que integram o movimento
Fonte: UOL
Comentários