Lutador de MMA descobre tumor na mama e faz cirurgia
Atleta capixaba de MMA, de 43 anos, procurou um médico após notar os primeiros sinais e teve que ser operado de emergência
Escute essa reportagem

Aos 43 anos, sendo 26 como lutador de boxe, o atleta capixaba de MMA Wagner Lyra entrou na mesa de cirurgia para golpear o adversário mais silencioso e sorrateiro de sua trajetória: um pequeno caroço na mama.
Preocupado com o crescimento rápido do tumor e com a possibilidade dele virar um câncer, o ex-integrante da seleção brasileira de boxe procurou um médico, que retirou o nódulo, no último dia 4.
“Foi o nocaute mais difícil da minha vida porque eu estava me protegendo e correndo contra o tempo para não ser afetado por essa doença. Mas consegui dar a volta por cima”, comemora o atleta, mais conhecido como “Mutante”.
Agora, em recuperação, ele usa sua voz e história para alertar que homens também podem ser acometidos pelo câncer de mama, mesmo que eles representem apenas 1% dos casos. O número de ocorrências compreende entre mil e dois mil por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
“A incidência neles é extremamente baixa. Homens que têm histórico de câncer de mama na família e obesos têm uma chance maior de terem a doença, principalmente após os 50 anos”, conta a oncologista Juliana Rocha.
Diferentemente das mulheres, que têm a mamografia como exame de rotina, os homens geralmente só investigam o problema quando os sintomas aparecem, muitas vezes em estágios avançados.
“Por isso, é importante que eles conheçam o próprio corpo. As manifestações clínicas são parecidas com as das mulheres: o homem vai notar o aparecimento de uma nodulação na mama, que pode ser associada a uma alteração na pele, e pode haver secreção”.
A oncologista Camila Beatrice destaca outros sinais da doença, como inchaço na mama, mudança de coloração ou do aspecto da pele, dor e alteração no mamilo.
“Geralmente os homens são detectados em estágios 2 e 3. Muitos não buscam ajuda justamente por desconhecimento que o câncer de mama pode acometer homens”.
Ela ressalta que um nódulo de crescimento rápido, como o do lutador de MMA, tem indicação de retirada. “Quando você faz uma ultrassonografia, não é possível descartar totalmente que aquele tumor é maligno. Por isso, o ideal é fazer a retirada para fazer essa constatação”.
Wagner Lyra, lutador de MMA: “Procure um médico o mais rápido”
A Tribuna - Como foi o processo de descoberta desse nódulo na mama?
Wagner Lyra - Comecei a sentir um desconforto nos treinos. Um dia, me olhando no espelho, vi que meu lado esquerdo do peito estava mais alto que o direito. Pensei: tem algo estranho.
E aí procurou um médico?
Sim. Encontrei o doutor Franklin Carneiro, um cirurgião plástico daqui do Rio de Janeiro, onde moro. Ele disse que eu precisava passar por uma cirurgia de urgência para retirar esse caroço, que estava crescendo muito rápido.
Foi tudo muito rápido?
Sim. Fiz cirurgia no último dia 4, sendo que descobri o caroço na sexta-feira anterior. Tive de pegar um dinheiro emprestado para passar por esse procedimento, que custou R$ 6,9 mil.
Foi quando um aluno de boxe sugeriu que eu fizesse uma rifa de uma luva e eu pensei na ideia. Decidi então contar minha história na internet e fiquei surpreso e impressionado com a disposição das pessoas de me ajudarem.
Tenho amigos que estão na guerra da Ucrânia que estão me ajudando e pedindo aos familiares para me ajudar. Até a última terça-feira, arrecadamos R$ 3,3 mil.
Hoje, está em recuperação?
Não foi uma cirurgia simples. Fizeram um buraco de 6 centímetros no meu peito, do tamanho de uma laranja. O doutor Franklin tem uma máquina a laser que cicatriza de dentro para fora.
Ele me deu 3 sessões dessa cicatrização e elas são caríssimas. Na última segunda-feira, fiz a primeira e hoje volto lá para fazer a retirada dos pontos que faltam. Ele também vai me dizer quantos dias vou precisar ficar de repouso. Até a última segunda eu não conseguia nem falar porque o peito doía.
Por que quer falar abertamente sobre a sua história?
Minha história serve de exemplo para as pessoas. Elas não devem pensar só no hoje, tem que pensar no amanhã, então devem sempre guardar um dinheiro porque a vida, infelizmente, pega a gente de surpresa.
Quero também incentivar todos a terem a mesma atitude que eu tive quando vi um caroço no peito: a de procurar um médico o mais rápido para não ser tarde demais.
E agora?
Quero continuar minha vida normalmente. Vou voltar para a luta. Vou para o Espírito Santo em julho, mas por causa desse problema, só vou assistir a Copa Touro Moreno. Volto ao ringue em setembro para o Falcão Fight.
Não vejo a hora de poder voltar a lutar, dar aula e fazer as pessoas felizes por estarem com a saúde em dia através do esporte. Nas horas vagas, também atuo como motorista de aplicativo. No Brasil, a gente tem que se virar! (risos)
Passar por isso mudou sua forma de ver a vida?
Sim. Tem tanta gente nesse mundo querendo um pouquinho da sua saúde e há pessoas que estão jogando a delas fora com bebida alcoólica, noite perdida e drogas… Penso que é possível viver uma vida feliz de outra forma.
Opiniões


Saiba mais
Números
O Brasil deve registrar 73.610 novos casos de câncer de mama até o final deste ano, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Mil a dois mil casos por ano representam pessoas do sexo masculino. Isso acontece porque homens também possuem tecido mamário, mas em menor quantidade.
Sinais
O homem deve procurar o médico ao notar qualquer alteração corporal. Os sinais da doença são os mesmos que os registrados em mulheres.
O câncer pode se apresentar como nódulo, inchaço na mama, mudança de coloração ou do aspecto da pele, dor na mama, alteração no mamilo e saída de secreção pelo mamilo.
Geralmente os homens são detectados em estádios 2 e 3, porque muitos não buscam ajuda justamente por desconhecimento que o câncer de mama pode acometer homens.
Os fatores de risco envolvidos no câncer de mama masculino são principalmente mutações genéticas, histórico familiar e obesidade.
Recuperação
No geral, após cirurgias mamárias radicais, é indicado fisioterapia para auxiliar na movimentação dos membros. Após a cicatrização completa e avaliação da movimentação, caso o paciente não apresente sequelas, ele será liberado para atividades.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários