Como vegetação da restinga reage às mudanças do clima?
Estudo inédito está sendo realizado em Guarapari para avaliar os impactos do aumento da temperatura global
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Um estudo inédito está sendo realizado no Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, para avaliar os impactos das mudanças climáticas na vegetação de restinga.
A pesquisa integra o projeto de doutorado do biólogo Thiago Teixeira, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com orientação do professor Luis Fernando Tavares de Menezes, e simula o aumento da temperatura global para observar alterações no desenvolvimento de espécies nativas, como o capim-das-areias.
Segundo Thiago, a escolha da restinga como foco do estudo se deve a três fatores. “Boa parte das cidades capixabas foi construída sobre a restinga, quase não há estudos sobre mudanças climáticas nesse ecossistema e ela é a primeira barreira de proteção contra a força do oceano, como o manguezal”.
“O aumento do nível do mar em poucos centímetros representa grande avanço sobre o continente, e a restinga, por ser recente na história evolutiva, é extremamente sensível”, explica.

A simulação é feita com câmaras de topo aberto, estruturas transparentes que retêm calor, elevando a temperatura interna entre 2°C e 3°C, conforme as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
“Esse experimento permite observar como as plantas reagirão a um cenário inevitável. Uma média global 2°C acima do período pré-industrial é uma certeza num futuro próximo. Parece pouco, mas na prática significa ondas de calor extremas e eventos naturais mais severos”, alerta o biólogo.
Até o momento, os dados apontam que espécies com comportamento invasor resistem mais ao calor do que espécies comuns em projetos de restauração, o que acende um alerta. “Essas plantas rústicas dificultam o estabelecimento de outras espécies e comprometem a sucessão ecológica”, destaca Thiago.
O estudo tem autorização do Iema, que reconhece sua relevância para o planejamento ambiental.
Restauração ainda é desafio
Mesmo após mais de 30 anos da proibição da extração de areia no Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, algumas áreas degradadas pela antiga atividade mineradora ainda não conseguiram se recuperar naturalmente.
Para tentar reverter esse cenário, pesquisadores da Ufes estão testando diferentes métodos de recuperação da vegetação de restinga.
Em um dos trechos mais impactados, estão sendo avaliadas técnicas variadas de plantio e configurações distintas de espécies nativas, que são monitoradas periodicamente.
“Dentre as análises realizadas, acompanhamos o crescimento das plantas, sua taxa de sobrevivência e também aspectos fisiológicos, para entender melhor o comportamento de cada espécie”, explica João Pedro Zanardo, um dos responsáveis pelo trabalho, sob orientação do professor Luiz Fernando Tavares.
O estudo tem investimento de R$ 200 mil, viabilizado por meio de um termo de cooperação firmado entre o Iema e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
O objetivo é encontrar estratégias mais eficazes para restaurar o ecossistema e recuperar áreas que continuam com baixo potencial de regeneração natural, mesmo décadas após o fim da mineração.
Proteção para ecossistemas frágeis
Responsável pela gestão das unidades de conservação estaduais, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) tem atuado diretamente no apoio à produção científica voltada à biodiversidade capixaba.
No Parque Paulo César Vinha, em Guarapari, o órgão viabiliza a realização de estudos como os que tratam dos efeitos das mudanças climáticas e da recuperação de áreas degradadas.

Além de conceder as autorizações necessárias, o Iema oferece apoio logístico, alojamento e, em alguns casos, recursos financeiros. É o que ocorre com a pesquisa sobre técnicas de recuperação de áreas mineradas, que recebeu investimento de R$ 200 mil por meio de parceria com a Fapes. Já o estudo que simula o aquecimento global na restinga tem financiamento de outras instituições, com aval do Instituto para ser conduzido na unidade.
Segundo o Iema, os resultados dessas pesquisas geram conhecimento que pode subsidiar políticas públicas, orientar ações de manejo e até contribuir para a criação ou revisão de unidades de conservação.
“Esses dados ajudam a tomar decisões técnicas baseadas em evidências, além de promover uma gestão mais eficaz e sustentável dos nossos ecossistemas”, informou o Iema
Saiba Mais
Um estudo inédito é realizado no Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, para analisar os efeitos do aquecimento global na vegetação de restinga.
O experimento simula o aumento da temperatura previsto para as próximas décadas, utilizando estruturas transparentes que elevam o calor em até 3°C no interior.
A restinga foi escolhida por ser um ecossistema costeiro estratégico, que funciona como barreira natural contra a força do mar e abriga espécies adaptadas a condições extremas.
Além disso, é um dos habitats mais frágeis do litoral, com solo arenoso, alta salinidade, radiação intensa e baixa disponibilidade de nutrientes.
A pesquisa já mostra que espécies comuns em projetos de restauração são mais sensíveis ao aumento da temperatura do que plantas com comportamento invasor.
Esses resultados podem contribuir para a formulação de políticas públicas, recuperação de ecossistemas e seleção de espécies mais resilientes às mudanças climáticas.
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