Jovens levam mais tempo para tomar decisões sobre a carreira
Especialistas na área explicam as mudanças de comportamento na hora de escolher a profissão
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Os jovens hoje levam mais tempo para fazer escolhas, inclusive aquelas que tratam de seu futuro profissional. É o que afirmam especialistas em carreiras e orientação profissional.
O palestrante e consultor de carreiras Sidnei Oliveira diz que observa jovens mais frágeis para fazer suas escolhas, principalmente por causa do excesso de informação.
“O jovem de hoje está supernutrido de acesso à informação. E isso, sistematicamente, tem demonstrado que ele está mais frágil pra fazer escolhas, que, de forma generalizada, não é tão maduro quanto jovens de outras gerações. A juventude leva um pouco mais de tempo para ter um grau de maturidade para, inclusive, fazer escolhas profissionais”.
Sidnei, que estuda as gerações, também observa que a grande quantidade de possibilidades profissionais atrapalha essa escolha mais segura do jovem.
Jovens estão “perdidos” sobre o futuro profissional, revela pesquisa
“Não é mais uma quantidade de cursos e profissões a escolher, são centenas de possibilidades à disposição do jovem. Isso também acaba sendo uma dificuldade de definição de escolha. Ele tem um ambiente muito mais complexo para olhar o futuro e pensar o que vai fazer na vida”, destaca.
Aliado a isso, o especialista em RH Élcio Teixeira, CEO da Heach Brasil, explica ainda que essa incerteza tem explicação fisiológica.
“A parte do nosso cérebro que toma decisões só finaliza a sua formação até os 25 anos. Então, é comum pessoas dessa idade terem dúvidas, estarem confusas. Isso faz com que haja muita oscilação, não só de dúvidas, mas também muita testagem no mercado de trabalho”.
Essa escolha tardia, somada ao desinteresse dos jovens pelos cursos tradicionais, têm afetado o mercado de trabalho. O consultor de carreiras Sidnei Oliveira destaca que as lideranças do mercado estão mais veteranas.
Já a executiva de RH Elizabete Belvão, da Croma Recursos Humanos, salienta que o desinteresse de jovens em áreas tradicionais pode comprometer o futuro dessas profissões de várias maneiras, como levar à escassez de mão de obra qualificada, falta de inovação, dificuldade em atender às demandas, entre outras.
“Para solucionar esse problema, é importante promover a valorização dessas áreas e destacar sua importância para o desenvolvimento da sociedade”.
Estudantes buscam orientação
Os estudantes Gabriela Merlo, 16, e Pablo Fernando de Azurza, 16, participaram de um programa de orientação profissional onde conheceram, junto com coordenadora do curso de Psicologia da Faesa, Caroline Bezerra, algumas opções de profissões.
Gabriela contou que tem o desejo de ser bombeiro, mas que ainda está na dúvida de qual faculdade vai fazer. Ela contou que pensa em Psicologia ou Artes Cênicas como graduação.
Já Pablo disse que não tem certeza de como vai ser o futuro profissional, mas está em dúvida entre Engenharia Aeroespacial e Engenharia Aeronáutica.
“Por mais que já tivesse uma boa noção das áreas que eu queria seguir, o projeto me fez falar sobre a profissão”, disse Pablo.
Carreira jurídica
Amor à primeira vista
O estudante Renato Alves, 19, tem o sonho de ser juiz e já tem a sua carreira planejada. “Assim que me graduar em Direito vou me especializar como juiz e fazer a Justiça conforme a lei. Sei que é uma profissão tradicional, mas vejo que sendo um ótimo profissional você é bem posicionado é valorizado”.
Ele contou que tem uma prima advogada que o inspirou. “Venho me aprofundando sobre a área e conheci a profissão de juiz. Foi amor à primeira vista! Lembro até hoje eu assistindo um vídeo e me arrepiando! Foi ali que percebi o que realmente queria e gostava”.
Medo de decepcionar atrapalha
Os pais são os que mais influenciam na escolha da profissão. Foi o que mostrou a pesquisa da Empresa Júnior UVV (Ejuvv) em parceria com o jornal A Tribuna.
Dos entrevistados, 52,2% levou em consideração a opinião dos pais, já 31,1% se baseou em suas próprias aptidões e habilidades.
Mas tal influência da família pode gerar medo de decepcionar, o que atrapalha todo o processo de escolha.
“Às vezes o adolescente, o jovem, sofre quando se identifica com alguma profissão que é diferente do que os pais, a família, desejam para ele. Muitas vezes não sabe verbalizar esse sofrimento. Então, o medo de decepcionar se torna um sofrimento”, destaca a coordenadora e professora da Faesa, Caroline Bezerra.
E continua: “Então, é importante esse espaço de diálogo com os pais e direcionamento. Uma pergunta importante que os pais devem fazer a seus filhos é: 'como eu posso te ajudar nesse processo?'”.
Para o professor e instrutor no Instituto Formar Otávio Segal de Araújo os pais devem usar tal influência para ajudar o jovem a pesquisar e se informar melhor sobre suas escolhas.
“Ou seja, ajude o jovem a informar-se sobre os caminhos necessários para trilhar na entrada do mercado de trabalho, pois saber aonde vamos caminhar para alcançar nossos objetivos, facilita a nossa escolha”.
Muita insegurança com avanços tecnológicos
Com o surgimento de novas tecnologias, profissões que antes eram fundamentais, hoje não existem, outras se transformaram e, ainda, novas surgiram. Em um cenário tão dinâmico, escolher o futuro profissional pode causar inseguranças e incertezas.
“A inteligência artificial está chegando em um patamar que vai diminuir muito as carreiras disponíveis para os jovens. Então, eles vão precisar entender como fazer para gerar valor para as empresas”, destaca o palestrante e consultor de carreiras Sidnei Oliveira.
A psicóloga, orientadora profissional e escritora Maria Stella Sampaio Leite afirma que tal pensamento pode gerar ansiedade no jovem e prejudicar o processo de escolha que, segundo ela, começa com o autoconhecimento.
“Com a tecnologia, as profissões têm mudado e ganhado novas aplicações e espaços no mercado de trabalho. Na verdade, o jovem tem de escolher uma área que goste muito, porque necessariamente vai ter que trabalhar com tecnologia”.
O jovem terá de preparar seu comportamento para as mudanças incertas de um cenário em desenvolvimento constante, como salienta a psicóloga e mestre em Gestão de Pessoas Cristina Matos Costa.
“Eles terão de amadurecer mais através de processos. Psicoterapia para autoconhecimento, domínio de línguas e informática podem ser o melhor para alguns jovens. Os pais também precisam de orientação para não sufocarem os filhos”.
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