Irmã de menina sequestrada no Estado desabafa: "Preciso de respostas"
A história envolvendo a família da mineira Cecília São José de Faria, que desapareceu quando tinha 1 ano e 9 meses, durante uma viagem a Guarapari, em 1976, traz capítulos de tristeza e angústia.
O exame de DNA feito com o material genético de Clarinha e de um casal de Belo Horizonte revelou que a mulher internada, há 21 anos, no Hospital da Policia Militar (HPM), em Vitória, não é a menina Cecília, de 1 ano e 9 meses, que foi sequestrada em Guarapari, no verão de 1976. O resultado da amostra foi divulgado pela Polícia Civil de Minas Gerais, na tarde desta quinta-feira (5).
Com a resposta da polícia, a irmã da menina Cecília, desaparecida em Guarapari, disse estar surpresa e ainda busca uma resposta. “Só o que tenho a dizer é que estou bastante surpresa com a nota encaminhada pela Polícia Civil à imprensa ontem, quinta-feira, dia 5 de agosto”, disse.
Ela contou que o material de Clarinha está em Belo Horizonte, para análise, desde o mês de abril de 2021, e até então não tinha nenhum resultado. “Agora, porque foi noticiado em rede nacional o caso, a polícia vem a público, dizer que desde 2015 já fora constatado o resultado negativo para esse caso”, contou.
Surpresa, ela questionou o motivo de não terem informado nada para a família. “Pergunto: se já tinham o resultado porque estou esperando desde abril de 2021? Recebi essa nota da Polícia Civil de Minas Gerais com muita indignação. Espero que este caso ainda tenha seus desdobramentos. Preciso de respostas para minhas perguntas”, questionou.
Sem querer se identificar, ela disse que no momento prefere ficar em silêncio. “Preciso resguardar-me. Calar agora, se faz necessário para que eu possa encontrar um caminho. Peço desculpas. Assim que esse caso terminar, poderemos nos falar”, disse.
Além disso, sem saber o paradeiro da filha, a advogada Maria Francisca São José de Faria morreu em maio deste ano, com mais de 80 anos. O pai da criança está com Alzheimer.
A suspeita de que Clarinha pudesse ser a menina desaparecida no litoral capixaba há 45 anos surgiu após um exame de reconhecimento facial. Em meados de 2020, uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública soube do caso e entrou em contato dom o Ministério Público do Estado (MPES), que tenta há anos identificar a paciente em coma profundo.
Clarinha
A paciente internada em estado vegetativo, conhecida como Clarinha, chegou ao Hospital da Policia Militar, em 2000.
De acordo com relatos de testemunhas, ela estava fugindo de um perseguidor, também não identificado, e correu para o meio de uma avenida movimentada no centro de Vitória, onde foi atropelada por um ônibus.
Levada para o antigo Hospital São Lucas, passou por diversas cirurgias. No entanto, o cérebro foi afetado, impedindo que ela retornasse de um coma profundo.
"Sem documentos e com as digitais desgastadas, buscou-se, em um primeiro momento, encontrar algum conhecido entre as testemunhas do acidente, mas ninguém tinha informações da paciente. Em seguida, Clarinha foi transferida para o HPM, onde continua até hoje, sendo tratada com carinho pelo corpo médico e pelos enfermeiros", explicou o Ministério Público do Estado.
Exames de DNA em pelo menos 18 famílias foram feitos
O órgão passou a atuar no caso a partir de demanda recebida do HPM, que pediu a ajuda ministerial para identificar Clarinha e seus familiares. A procuradora de Justiça Edwirges Dias, que na época atuava como promotora de Justiça Cível de Vitória, expediu ofícios para diversas instituições públicas que integraram uma campanha para saber quem é Clarinha.
Em outro momento, o caso foi encaminhada ao Grupo Especial de Trabalho Social (Getso) do MPES. Coordenado pela promotora de Justiça Arlinda Maria Barros Monjardim, o Getso atuou em diversas frentes, expedindo ofícios, fazendo diligências e cobrando perícias.
O MPES fez a divulgação do caso em veículos de imprensa locais e nacionais, além de pedir ajuda aos outros ministérios públicos, banco de dados de pessoas desaparecidas, delegacias e até a Polícia Federal.
Em 2016, após uma reportagem em rede nacional, 102 famílias procuraram o MPES suspeitando que Clarinha pudesse ser uma familiar desaparecido. Depois de uma investigação dos casos, a história de 22 famílias aparentava algumas semelhanças pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil de Clarinha.
Quatro desses casos foram descartados mais a frente por incompatibilidade de informações ou porque os familiares foram encontrados. As famílias restantes foram submetidas a testes de DNA, porém todos tiveram resultado incompatível.
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