“Inteligência artificial vai criar novas carreiras”, diz especialista
Especialista explica que tecnologia também deve mudar profissões que já existem
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A inteligência artificial (IA) tem evoluído e, com isso, despertado debates, trazendo transformações e inquietações quanto ao futuro do mercado de trabalho.
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A substituição e o desaparecimento de profissões são preocupações recorrentes quando o assunto envolve a IA. No entanto, é preciso considerar também o outro lado da moeda: a capacidade da IA de criar novas oportunidades de carreiras e profissões.
O mestre em Ciência da Computação Fabrício Vargas Mota destaca que a evolução da IA vai trazer novos postos de trabalho e vai mudar profissões que já existem. Ele faz um alerta: independente da área, será preciso se atualizar e saber como dominar a inteligência artificial e usá-la na área de atuação, ou poderá ser substituído.
A Tribuna – A evolução da inteligência artificial vai criar novas carreiras?
Fabrício Vargas – Entendo que a IA vai trazer muita capacidade de automação em uma série de processos complexos, que hoje depende de um ser humano supervisionando, tomando decisões.
O futuro tende a ficar cada vez mais complexo em termos de tecnologia, que vai estar presente em tudo. E, cada vez mais, serão necessários profissionais para coordená-la.
A área de tecnologia deve crescer muito, mas esse é um caminho difícil de prever. No entanto, sabemos que vão surgir novas demandas no mercado de trabalho.
Por exemplo, há uma demanda recente, por causa do chatGPT, por engenheiro de prompt, que é o comando dado à AI. Um profissional que vai dominar a ferramenta para conseguir extrair dela o que se quer e, para isso, é preciso saber escrever e apresentar o seu problema para o robô. Com isso, saber escrever e apresentar o problema passa a ser uma atividade técnica.
Então, à medida que vamos avançando, começa a surgir a demanda de pessoas que entendem de forma mais específica disso.
Vejo também um potencial muito grande no surgimento de novas funções com a AI.
A inteligência artificial pode automatizar uma parte do processo, mas ela não vai fazer tudo. Por exemplo, podemos desenvolver novos compostos, novas medicações, tratamentos, vamos poder resolver muitos problemas, só que a AI não vai fazer todo o processo, vai precisar de tecnologias, equipamentos, para conseguir aplicar esse conhecimento e realmente chegar à pessoa que precisa ser curada.
Essa evolução vai abrir muitas possibilidades no campo de tecnologia, pois será necessário alguém para executar. Acredito que a inteligência artificial vai criar novas carreiras, novas atividades, principalmente dentro da área da tecnologia.
Além do engenheiro de prompt, quais profissões podemos esperar?
Geralmente, quando falamos de um horizonte mais curto, estão mais em alta as profissões ligadas à própria tecnologia de IA, como um engenheiro de redes artificiais, por exemplo. É uma coisa que já existe, mas que tende a ficar cada vez mais especialista.
Hoje temos o System Architect, o arquiteto de sistemas, ou arquiteto de soluções. É uma pessoa que conhece bastante de tecnologia, domina algumas plataformas, os vários componentes e como se junta isso para construir uma solução.
Estamos vendo surgir um arquiteto de sistema de AI, de sistemas inteligentes. Então, o mundo vai ser muito automatizado, mas essas automações precisam ser criadas e, a partir daí, surgem novas ocupações.
Essa evolução da inteligência artificial vai demandar novas capacidades?
Sem dúvida! Enquanto usuários e pessoas que vão estar de alguma forma interagindo com o IA o tempo todo, vamos ter de aprender a interagir.
Teremos de entender como essa tecnologia funciona para saber qual o objetivo dela. À medida que avançarmos um pouquinho, vão começar a surgir ferramentas mais específicas para cada área.
Estamos vendo um ecossistema de inteligência artificial surgir. O chatGPT está aí, fez bastante barulho, mas daqui a pouco tempo vai ter um monte de AIs diferentes, com propósitos específicos, conversando uma com a outra, e nós temos de navegar nesse território para tirar o máximo disso.
Com o que devemos tomar cuidado em relação AI?
Os mais otimistas falam que vamos criar mais trabalhos do que substituir e concordo, no longo prazo. No curto prazo, tenho bastante preocupação em relação ao impacto que vamos sofrer.
Não por eliminar completamente os trabalhos, mas por substituir. Por exemplo, os assistentes. Com esses assistentes com inteligência artificial que estão surgindo, imaginamos, que nos próximos anos, eles vão estar bem robustos e poder executar muito mais atividades.
Então, o cuidado é entender melhor onde a IA entra, o quanto ela trabalha para a produtividade, e ser alguém que domine essa ferramenta, para ser quem coordena a IA e não ser quem será substituído.
Cada vez mais vamos precisar de pessoas que tenham uma convergência de habilidades, uma visão mais ampla, olhar mais crítico. Vamos precisar ser aquela pessoa que enxerga a solução, e não aquela que é especialista em apertar parafuso. O especialista em apertar parafuso vai ser substituído.
O que podemos esperar?
Nesse primeiro momento, vai ser mais comum a gente ver a natureza do trabalho começar a mudar. O que a pessoa fazia, que gastava muitas horas do trabalho dela, agora é a inteligência artificial que vai fazer para ela.
Isso quer dizer que agora ela vai ter uma dinâmica de trabalho diferente. Quem não acompanhar, vai ficar para trás, pois se há uma IA fazendo e o profissional não entrega valor de outra forma, não agrega, não está fazendo valer o seu trabalho, vai ser substituído.
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