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Cidades

Influenciadores do ES com orgulho de mostrar a rotina do campo

Jovens moradores ganham seguidores nas redes sociais ao compartilhar a vida e o trabalho árduo na zona rural


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Com as redes sociais, os influenciadores digitais ganharam,  além de milhares de seguidores, espaço para ditar moda e tendências.  

Mas, compartilhar o dia a dia e produzir conteúdo bem-humorado, informativo ou de simples entretenimento não está restrito apenas a quem vive em “cidade grande”. Jovens têm mostrado o orgulho de ser do campo e estão ganhando fãs na internet com a rotina, muitas vezes, árdua  da roça.

Vivendo no meio rural, os “agroinfluencers” mostram que a vida no campo pode ser tão emocionante quanto na cidade. Com criatividade, além de fortalecer a cultura rural, eles têm deixado uma marca na história rural.

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Estudo preliminar conduzido em 2021 pela professora Marlene Grade, do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),  se propôs a quantificar o número de influenciadores digitais que vivem no campo. Foram 240 perfis analisados em 21 estados, com concentração de casos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Dentre os perfis analisados,  a professora Marlene, e seu orientando de graduação Eduardo Marcus Bodnar, verificaram que  140 perfis   compartilham conteúdo relacionado com a agropecuária:  94 deles identificavam-se com o gênero feminino e 46 com o gênero masculino.

A médica veterinária Raiany Resende, de 27 anos, de Divino de São Lourenço, na região do Caparaó, é uma das capixabas que compartilha, na rede social, a vida no campo. 

Foi em abril de 2020, em plena pandemia, que Raiany passou a produzir “agrolives”. Atualmente, ela conta com mais de 11 mil seguidores, somados os seus perfis no Instagram e no TikTok.

“Quando começou essa onda de lives na pandemia, comecei a fazer as 'agrolives', toda semana trazia um convidado e batia um papo no Instagram. Assim, comecei a intensificar as postagens na rede social”, disse.

Com o pai sendo pequeno produtor de leite e tendo morado na zona rural,  Raiany conta que desde a infância  desejou ser médica veterinária. 

Entre as postagens que fazem mais sucesso, Raiany  elenca as fotos e vídeos com os nelores (raça de gado bovino originária da Índia).

Sobre os seguidores que têm conseguido nas redes sociais, Raiany acredita que o reconhecimento é fruto do seu trabalho.  “Meu maior sonho é o reconhecimento e mérito pelo que eu faço. Espero que um dia minha voz seja ouvida em mais lugares e eu também possa inspirar outras mulheres”.

Influenciadores rurais

“Garota do agro”

Ketely Miranda mora na área rural do município  da Serra e se considera uma “agrogirl” (garota do agro). Aos 16 anos, e com mais de 25 mil seguidores no Instagram, ela compartilha sua rotina na fazenda da família, onde cuida de animais e até ajuda na fabricação de queijos. 

“Amo morar na roça e nem pretendo sair daqui. Quero ser médica veterinária e continuar aqui, ficar velhinha aqui.” 

Ketely conta que já foi amazona e competiu em várias provas equestres pelo Estado.

“Competi muito, mas preferi dar um tempo para me dedicar aos trabalhos da fazenda, que gosto muito. Minha vida é a roça e seus vários encantos.”

“Fazer a diferença”

A engenheira agrônoma e produtora rural Luiza Bonomo Trés, de 26 anos,  conquistou seguidores ao compartilhar o seu amor pelo agro e a sua rotina na propriedade da família, no município de Jaguaré, Norte do Estado. 

A influenciadora tem mais de 12 mil seguidores  no Instagram. 

“Quero cada vez mais levar informações, gerar mais riquezas na minha região e fazer a diferença. Também quero influenciar os produtores a incentivarem seus filhos a ficarem na lavoura, não apenas para o trabalho braçal, mas também para o trabalho administrativo e jurídico”.

Humor para falar do interior

Com produções bem-humoradas, o produtor de café e influenciador digital Filipe Galle, de 32 anos, acumula mais de 394 mil seguidores no TikTok, e outros 107 mil no Instagram.

Filipe nasceu em Mantena, Minas Gerais, mas   mora  em Barra de São Francisco, no Noroeste do Estado. Ele conta que a ideia de compartilhar sua vida na roça, por meio de  vídeos na rede social, surgiu em um momento delicado que atravessava, há  dois anos.

“Estava fazendo um tratamento de ansiedade e depressão, e a safra do café sempre me fez muito bem. E eu me perguntei: 'por que não mostrar isso para a galera'?”, conta.

Apesar do sucesso que vem fazendo, o influenciador digital não pensa em sair do campo. “Talvez eu tenha mais contato com a cidade por causa dos trabalhos que estão aparecendo, mas não penso nunca em sair da roça”, afirma.

Simplicidade e humildade são, segundo Filipe, os ingredientes que fazem seus vídeos fazerem tanto sucesso nas redes sociais.

Em alguns dos seus vídeos, o produtor conta com a participação especial de seu pai. “Meu pai acabou virando um personagem e tudo que envolve a roça e o relacionamento entre pai e filho, as pessoas se identificam”, destaca.

De acordo com o produtor, uma de suas maiores alegrias é poder representar quem trabalha no agronegócio. “Também estou podendo realizar o sonho de apresentar minha cidade para outras pessoas”.

Filipe conta que não  imaginava ter uma  veia humorística. “Fazer humor para internet não é muito fácil, ainda mais fazer humor com minha vida”.

“Viver da roça é minha vida”

Foi uma foto com morangos que fez  Jamila Brambilla, de 24 anos,    produtora de Forno Grande, em Castelo, Sul do Estado, “viralizar” na internet. Jamila conta que essa não era sua intenção.

Hoje, a jovem acumula 107 mil seguidores no Instagram, e outros 71 mil no TikTok, onde compartilha, diariamente, seu dia na roça.

O sucesso nas redes sociais, porém, não faz Jamila pensar em sair do campo, pelo contrário. “Eu não consigo me imaginar fazendo outra coisa, a não ser aqui. Trabalhar na roça e viver dela é minha vida”, afirma a produtora.

A Tribuna - Como surgiu a ideia de compartilhar sua vida no campo nas redes sociais? Imaginou que daria tão certo?

Jamila Brambilla - Sempre fazia os registros das nossas produções, e um dia cheguei a postar uma foto minha com os morangos, essa foto  fez com que eu ficasse conhecida nas redes. Nunca foi minha intenção “viralizar”. Eu nunca imaginei que tudo tomaria uma proporção tão grande. Nunca me passou pela cabeça.

Acredita que o sucesso de suas redes sociais está atrelado ao quê?

Pelas mensagens e comentários que recebo, a primeira coisa que chama muito atenção, é de uma mulher trabalhar pesado na roça, isso não passa despercebido. E outro ponto que sou muito elogiada  é por mostrar a verdade, a realidade que vivemos. 

Também tem aqueles que duvidam quando assistem meus vídeos carregando peso, levantando caixa de repolho e tomate. Volta e meia aparece um machão querendo passar vergonha no Instagram (risos).

Tem algum sonho que está conseguindo realizar por mostrar sua vida no campo?

Só de poder estar trabalhando em família já é uma baita realização. Melhor ainda quando estamos sendo inspiração para outras pessoas. Recebo um carinho enorme dos meus seguidores.

Um sonho que realizei a partir do meu trabalho nas redes sociais foi viajar de avião. Ah gente, que sonho!   Recebi um convite super especial da Chevrolet para o lançamento na nova Montana.

Algum dia já pensou em sair do campo?

Jamais. Acredito que estou em um dos melhores lugares para se viver e ter uma vida tranquila. Por mais que trabalhar na roça seja um serviço árduo, que exige muito esforço físico, o descanso mental

Colheita em família traz sucesso

Nas redes sociais, a educadora física e produtora de café Beatriz Felz, de 25 anos, compartilha sua paixão pelo café e pelo pilates. Entre uma atividade e outra, Beatriz acumula mais de 14 mil seguidores, somando seus perfis no Instagram e TikTok.

Entre as postagens mais curtidas da capixaba  de Vila Pavão, Noroeste  do Estado, estão suas fotos durante a colheita de café, em que ajuda a família.

O trabalho é pesado, mas tem despertado o interesse dos seguidores. “Não é nada fácil e muito menos glamouroso. Por ser algo mais incomum, principalmente para uma mulher, acaba despertando interesse e admiração de muitas pessoas”, comenta.

Essa rotina nas lavouras de café faz parte da infância de Beatriz. “Sempre foi algo que eu amei fazer e isso faz parte da minha essência. Foi na roça,  observando a garra dos meus pais, que também trabalham aqui,  que aprendi a ter paciência, ser determinada e entender que tudo tem o seu tempo”.

“Aprendi também que as coisas simples são as que realmente importam e que não é preciso de muito para viver bem e em paz”, completa.

E foi o amor pelo café que influenciou Beatriz a cursar Educação Física. “Optei pela graduação com intuito de ter meu próprio negócio e, assim, poder investir na propriedade, porém, consigo conciliar as duas coisas. Trabalho quatro  dias da semana no meu studio (de pilates) e o restante dos dias me dedico ao trabalho na roça,  ajudando minha família”.

“Hoje, na propriedade, o café é a nossa maior e melhor fonte de renda. A verdade é que eu gosto da roça de forma geral, justamente pelo processo todo do plantar, cuidar e colher”, finaliza.

Crescimento com acesso à internet

O acesso à internet abriu um leque de oportunidades para o crescimento dos agroinfluenciadores. Se antes o campo ficava isolado, agora com a internet, agricultores,  trabalhadores da roça e influenciadores do campo podem compartilhar suas experiências e cotidiano para além das fronteiras do meio rural.

“Antigamente, ter internet em regiões afastadas era raro, e mais raro ainda era ter uma internet que funcionasse. Com esse acesso facilitado, barato e funcional, com a grande expansão do agro no Brasil, vemos empreendedores se destacando na internet mostrando a sua rotina”, destaca o empresário e especialista em marketing digital Lucas Calazans.

Segundo Lucas, o dia a dia do trabalho, evidenciado na internet, pode gerar benefícios para todos.

“Inclusive para o próprio empreendedor. Seja minimamente no networking que ele faz com outras pessoas, até evidenciar as inovações que o trabalhador cria para resolver seus próprios problemas, que pode ser o mesmo problema de outras milhares de pessoas pelo Brasil ou até fora do País.” 

“Na internet, sempre existirá espaço para o empreendedor que quer evidenciar algo diferente que ele mesmo faz”, ressalta.

O engenheiro agrônomo Claudinei Antonio Montebeller,  doutor em Recursos Hídricos e professor da Unesc, lista alguns dos benefícios de pessoas da cidade conhecerem mais a vida no campo.

“No passado, havia um êxodo rural muito grande. As pessoas saíam do interior para estudar e não retornavam. Hoje, muitas pessoas retornam para poder investir, isso porque, em função de uma série de tecnologias, a propriedade deixou de ser meramente extrativista ”, explica.

“Quando uma pessoa mostra a realidade do dia a dia, como está produzindo, tem um benefício muito grande, já que incentiva outras pessoas.”

“Melhorou a vida financeira”

Há 13 anos, Jean De Paula, de 31 anos, é  adestrador de cavalos em Alfredo Chaves, na região  Sul do Estado. 

No Facebook e Instagram ele tem  aproximadamente   4 mil seguidores, que podem acompanhar sua rotina diária com esses animais. 

São vídeos, fotos e stories que mostram Jean montando nos cavalos e os ensinando diferentes  tipos de marchas, que são como eles correm e andam.

“Mostro mais minha rotina de trabalho mesmo. Mostro tudo o que fazemos para domar um cavalo que chega ‘cru’ para nós”, afirma.

O adestrador conta também que as redes sociais acabaram divulgando sua profissão. “Até melhorou a vida financeira”, comemora Jean.

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