Idosos deixam de caminhar com medo de bikes elétricas
Entre as principais queixas está a velocidade dos equipamentos e a falta de respeito de alguns ciclistas
Aos 77 anos, José Carlos Lyrio Rocha já não faz com tanta frequência as caminhadas que costumava fazer, entre a Curva da Jurema e a Praça dos Namorados, em Vitória. Entre os motivos está a quantidade e a velocidade de bicicletas elétricas que dividem espaço com os pedestres.
“A gente não sabe de onde a bicicleta vem. Quando vê, já está em cima da gente”, revelou.
O temor fez com que José Carlos enviasse um pedido para a prefeitura, para que fosse feita uma ciclovia na região, com local adequado para a circulação delas. “Pelo menos, em fins de semana e feriados, poderia ter uma sinalização para que eles usem a ciclofaixa”.
O receio de caminhadas, por parte de idosos, também se repete em outras áreas da Grande Vitória, principalmente onde há o compartilhamento dos espaços. Entre as principais queixas está a velocidade dos equipamentos e a falta de respeito de alguns ciclistas.
As estatísticas de acidentes têm demonstrado que a preocupação não é em vão. Na última sexta-feira, a aposentada Conceição Pissinali, de 82 anos, não resistiu após passar 20 dias internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela havia sido atropelada por uma bicicleta elétrica no dia 16 de outubro, na Enseada do Suá, bairro onde morava há 45 anos.
A aposentada tinha acabado de sair de uma farmácia, a 100 metros de casa, quando foi atropelada, ainda na calçada. “A via é de mão única e ela ficou olhando para a direção de onde vêm os carros. Mas a bicicleta elétrica veio na contramão e a atropelou. Ela caiu e quebrou o fêmur”, disse o genro da vítima, Luciano Magalhães.
O chefe da Comunicação Social do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), tenente Lucas Lourenço, observa que os acidentes que ocorrem com esse tipo de veículo costumam ser mais graves, justamente por conta da velocidade – superior à de um veículo não elétrico.
Ele também destacou a importância de pais orientarem os filhos, já que muitos condutores são menores de idade.
“A bike não deve ir para a pista competir com os carros, mas também não deve ser conduzida em cima das calçadas competindo com os pedestres, que sempre possuem a preferência no local”.
Medo nas ruas
“Vejo que hoje é um risco”
O aposentado Rogério Melo, de 66 anos, falou sobre a falta de respeito ao limite de velocidade de muitos condutores de bicicletas elétricas.
“Além de caminhar diariamente, também sou ciclista há mais de 14 anos. Mas vejo que hoje é um risco andar em ciclovias ou mesmo em alguns espaços compartilhados. Temos medo mesmo”, revelou Rogério.
“Tive que ir para o canto”
Durante o passeio pela orla da Praça dos Namorados, em Vitória, a quantidade e a velocidade das bicicletas elétricas chamou a atenção do inspetor de equipamentos e instalações Mauro Luís da Silva, 51.
O carioca está em uma viagem a trabalho no Estado. “Vim dar uma volta e tive que ir para o canto, pois são muitas bicicletas passando. Em calçadas compartilhadas, elas não deveriam estar nessa velocidade”.
Número de acidentes este ano no Estado sobe para 177
O número de acidentes envolvendo bicicletas elétricas este ano segue em crescimento. De janeiro até a última quinta-feira, o Samu registrou 177 atendimentos relacionados a ocorrências com esse tipo de veículo em todo o Estado.
A Grande Vitória concentra a maior parte dos atendimentos registrados este ano: foram 154 no total, sendo 86 vítimas do sexo masculino e 68 do feminino.
As cidades com mais registros são Vila Velha, com 72 casos, seguida de Vitória (42) e Serra (18). Também houve registros no interior: Santa Maria de Jetibá, Laranja da Terra, Piúma e Venda Nova do Imigrante.
Apesar do aumento, o Samu informa que não há registros específicos de atendimento em 2024 sobre bikes elétricas.
No entanto, dados de internações no SUS envolvendo acidentes com bicicletas — tanto mecânicas quanto elétricas — também têm resultado em mais internações na rede pública.
Em 2023, entre janeiro e agosto, foram 215. Em 2024, no mesmo período, foram 240. Já este ano, até agosto, o número de internações chegou a 387.
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