Grande Vitória ganha primeira escola de fotografia para deficientes visuais

Rejane, Cinthya, Antônio, Yasmin e Jarlisson, com o professor Fagner, se preparam para o curso inédito |  Foto: Leone Iglesias/AT

O desejo de expressar um olhar diferente sobre o cotidiano, de aprender e se tornar mais autônomo. Todas essas realidades fazem parte do projeto que começa a ser desenvolvido no dia 25 deste mês, na Grande Vitória, e formará 12 novos fotógrafos deficientes visuais.

“Para mim, a vida é legal. Quero trabalhar com fotografia e a cegueira não me impede”, frisou o morador de Padre Gabriel, em Cariacica, Antônio Fadini.

A estudante de Psicologia Cinthya de Oliveira, 25 anos, disse que, para ela, o curso vai trazer mais autonomia. “Vamos ter mais autonomia para fazer fotos sozinhos. Vamos poder nos expressar sem usar as palavras. Vai ser uma 'oficina de milhões' (risos)!”.

Morador de Vista Mar, em Cariacica, Jarlisson José Gardiman de Oliveira, 34 anos, está ansioso. “Vou me tornar mais independente. Estou ansioso para chegar logo o início das aulas”, afirmou.

E eles não estão sonhando sozinhos: o brasileiro João Maia é o único fotógrafo cego no mundo a cobrir duas Paralimpíadas. 

Idealizadora do projeto que é pioneiro no País, a presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil), Rejane Arruda, considera que, mais do que aprender a fazer um clique, os participantes vão compreender a estética contemporânea da fotografia e a liberdade que ela traz.

“A linguagem foge à visualidade. Explicamos o que é o foco, que quando perde seu contorno, se mistura ao fundo. Descrevemos as imagens, pessoas. É uma expressão de afeto”, explicou.

Já o professor de fotografia Fagner Soares frisou que os alunos podem propor diferentes olhares sobre a foto. “Uma das modalidades é fotografar uma parede descascada, por exemplo, uma parte não socialmente valorizada”, explicou.

Além disso, há técnicas de fotografar após ouvir uma buzina de um carro e deixar a imagem por conta de um comando. Outra, é colocar a câmera em diferentes partes do corpo do aluno, não só na altura dos olhos, como no peito, e com a ajuda do professor, registrar uma imagem por diferentes ângulos.

A assistente Yasmin Toretta percebe a potência dos alunos. “Os olhares que trazem para a gente são diferenciados como artistas”.

Os participantes deste projeto já foram selecionados e só três ainda vão passar pela fase final da entrevista. O projeto da Escola de Fotógrafos Cegos é fruto do trabalho da SOCA Brasil e da Companhia Poéticas da Cena Contemporânea.

As atividades têm o patrocínio da ES Gás e apoio da União de Cegos D. Pedro II, do Instituto Luiz Braille e da Secretaria de Estado da Cultura, pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.

SAIBA MAIS 

"Quando Fecho os Olhos Vejo Mais Perto”

- O projeto que começa a ser desenvolvido neste mês, na Grande Vitória, formará 12  fotógrafos deficientes visuais e é pioneiro no País.

- Serão oito meses de oficinas, aulas, debates e imersão numa captação de imagens para, em maio de 2023, os trabalhos serem apresentados na exposição “Quando Fecho os Olhos Vejo Mais Perto” no Parque Moscoso, em Vitória.