GPS, escuta e até disfarce de mendigo para flagrar traição
Essas são as táticas de detetives profissionais para não perder o alvo de vista. Clientes pagam até R$ 15 mil para descobrir amantes
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No mercado dos detetives particulares do Estado, em que a demanda varia desde casos de infidelidade até fraudes corporativas complexas, profissionais revelam os bastidores de um trabalho envolto em mistério e dedicação, com valores que podem chegar a R$ 15 mil para descobrir um amante.
Em serviço, as táticas são as mais variadas possíveis para dar a resposta exata a quem contratou. Vale usar rastreadores, GPS e escutas e até se disfarçar de morador de rua ao ficar no encalço do alvo.
Com duas décadas de atuação na Grande Vitória, o Detetive Ferreira compartilhou detalhes de seu trabalho. Em uma ocasião, ele foi contratado por um cliente disposto a pagar R$ 15 mil para descobrir se sua esposa mantinha um caso extraconjugal. A investigação durou seis dias e, de fato, ele descobriu que sim, a mulher tinha um amante.
O avanço da tecnologia transformou a atividade. “Antigamente, passávamos horas em um carro observando. Hoje, com rastreadores e tecnologia avançada, temos informações em tempo real sobre a localização das pessoas.”
Conforme a Agência Nacional de Detetives Particulares, o mercado é promissor e a demanda cresceu 10% neste ano. O grupo de detetives cadastrados no País, com as associações e empresas de cursos, totaliza 100 mil profissionais.
A agência lista, como serviços mais solicitados, casos extraconjugais, matrimoniais e pré-nupciais; controle de filhos adolescentes sobre o uso de drogas; furto em empresas e residências; informações sobre desvio de mercadorias, equipamentos ou dinheiro da empresa; localização de veículos para financeiras; e provas para seguradoras e processos de golpe do seguro.
Já em entrevista com a detetive Águia Sete, representante de uma equipe especializada em Vila Velha, a espiã falou sobre os bastidores da profissão, destacando a importância de técnicas especializadas, como disfarces e monitoramento discreto, para obter informações cruciais sem comprometer as investigações.
Sobre o uso de tecnologia e inteligência artificial, Águia Sete esclareceu que sua equipe utiliza recursos como câmeras ocultas e rastreamento veicular para complementar as investigações, mas sem violar a privacidade ou a lei.
“Temos quatro mulheres e sete homens na equipe, e usamos disfarces, perucas e roupas diferentes. Temos um caso onde um agente se disfarçou de morador de rua para vigiar um funcionário de uma empresa”, explicou a detetive.
Verdades ocultas
Fraudes trabalhistas na mira
O detetive particular que se identifica como Frank Telles trabalha em casos intrigantes. “Trabalhamos em um campo em que a tecnologia avança rapidamente, e os criminosos se adaptam igualmente rápido”, disse ele, referindo-se aos hackers que clonam WhatsApps para extorquir dinheiro de familiares e amigos.
Ele detalhou como esses criminosos habilmente evitam a detecção, usando apenas dados móveis e ferramentas sofisticadas de geração de códigos. Além dos crimes cibernéticos, o detetive explicou a mudança no perfil dos casos investigados, agora frequentemente relacionados a fraudes trabalhistas e previdenciárias.
“Recebemos casos de empresas que suspeitam de funcionários que simulam doenças para obter licenças prolongadas”, revelou.
Detetive águia 7: “Utilizamos também perfis falsos nas redes sociais”
A Tribuna - Como é o dia a dia da profissão de vocês?
Detetive águia 7: A maioria dos nossos casos envolve sigilo, devido à privacidade dos clientes. Não nos identificamos publicamente. Nosso trabalho é focado em levantamento de informações, fotos, vídeos, escutas, gravações e câmeras.
E quanto à tecnologia?
Temos equipamentos de alta qualidade para fotos e vídeos, canetas e relógios que filmam, e utilizamos aplicativos que melhoram a qualidade das imagens em ambientes escuros.
Utilizamos também perfis falsos nas redes sociais para seguir alvos, adaptando-os aos interesses das pessoas. Detalhando, oferecemos o serviço de stalkers, criando perfis falsos para diferentes gostos e seguindo investigados de acordo com cada segmento.
Por exemplo, se o investigado gosta de cachorro, nós criamos uma página de pet shop.
Qual caso já atenderam e foi curioso de investigar?
Tivemos um cliente que nos contratou por 11 meses para seguir a namorada. Ele morava em São Paulo e ela, em Vitória.
Todos os dias que ele não estava aqui, pedia para a acompanharmos. Mesmo sabendo que ela não fazia nada de errado, ele queria ter certeza.
Contratamos agentes para infiltrar em sua rotina, como na academia e na fisioterapia. Mesmo depois que ele terminou o relacionamento, contratou a gente para segui-la até ela começar um novo romance. Aí ele desistiu.
Quanto ganham?
Nossa diária de serviço começa por R$ 1.500. Temos pacotes conforme a necessidade do cliente.
Famosos
A cantora sertaneja Paula Fernandes contratou um detetive particular para monitorar seu então namorado, o dentista Henrique do Valle. A investigação confirmou as suspeitas de Paula, levando ao término do relacionamento.
A cantora Madonna contratou um detetive após seu filho Rocco, de 15 anos, ir morar com o pai, o cineasta Guy Ritchie. Madonna recorreu ao profissional para investigar os passos do filho. Ela temia que Ritchie não fosse uma boa influência ou não zelasse pela segurança do adolescente.
A irmã mais nova das Kardashian, Kylie Jenner, contratou um detetive particular para investigar as suspeitas de infidelidade do então namorado, o rapper Tyga. A investigação revelou que Tyga teve mais de 100 parceiras fora do namoro, resultando em um escândalo.
Tire suas dúvidas
- Pode portar armas? Não é obrigatório, mas, se preciso, o detetive deverá seguir todas as exigências legais para porte e posse de arma que um cidadão qualquer precisa.
- Precisa de curso superior? Não precisa. No entanto, os cursos de capacitação são essenciais.
- Pode usar disfarces? Sim, desde que isso auxilie na investigação e facilite a melhor adequação ao ambiente.
- Pode investigar caso policial? Sim, desde que expressamente autorizado pelo delegado de polícia. Vale lembrar que o detetive pode auxiliar o advogado em diligências.
- Pode dar voz de prisão? Não é uma premissa do trabalho. No entanto, o detetive pode, como qualquer cidadão, dar voz de prisão, conforme garantido pelo artigo 301 do Código de Processo Penal.
- Pode se infiltrar em lugares? Sim. O detetive particular pode infiltrar-se em algum lugar para agilizar sua investigação.
- Provas podem ser usadas na Justiça? Sim. As provas adquiridas na investigação, desde que não firam os princípios constitucionais, podem ser aceitas pela Justiça.
- Usa distintivo? O detetive deve portar uma credencial que o identifique como investigador privado, mas não deve portar distintivos que se assemelhem ou o confundam com as forças policiais e autoridades públicas.
Fonte: Agência de Detetives Activa.
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