Golpe do amor: mulher finge câncer e idoso perde R$ 600 mil
Segundo a Justiça, mulher teria, ao longo de meses, explorado a vítima emocional e financeiramente. Ela está presa em Colatina
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Um mecânico de trator com mais de 70 anos, morador de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, perdeu cerca de R$ 600 mil, segundo estimativas de sua família, em um “golpe do amor”. A Justiça entendeu que a denunciada teria, ao longo de diversos meses, “explorado emocional e financeiramente a vítima”.
De acordo com o Ministério Público Estadual (MPES), Sileide Maria Rodrigues, 53 anos, alegava ter câncer e que precisava dos valores para financiar o suposto tratamento. Dizia ainda que o dinheiro seria usado para pagar honorários advocatícios, despesas processuais e despesas decorrentes do falecimento de familiares.
Ela teve a prisão preventiva decretada pela juíza da 3ª Vara Criminal de Colatina, Roberta Holanda de Almeida, por estelionato e extorsão que resultou em morte. A defesa nega as acusações.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Estado, Sileide manteve um vínculo amoroso com a vítima, Pedro Lozer Pacheco, e, no decorrer do relacionamento, de maneira ardilosa e valendo-se da vulnerabilidade afetiva da vítima, persuadiu Pedro a entregar para ela grande quantia financeira.
Ela foi vista, segundo consta na decisão da juíza, acompanhando Pedro mais de uma vez enquanto realizava saques em uma casa lotérica, ocasiões em que se apresentava como filha do idoso, que teria chegado a contrair empréstimos com amigos e familiares para suprir as exigências da denunciada.
Ainda na decisão, a magistrada destaca que a denunciada tem sentença penal condenatória transitada em julgado por crime idêntico, “o que demonstra a sua periculosidade social e o risco concreto de reiteração delitiva”.
A Justiça entendeu que Sileide explorou emocional e financeiramente a vítima, aproveitando-se de sua vulnerabilidade afetiva e emocional.
“Tal comportamento, além de revelar desvio de personalidade, foi tão devastador que pode ter culminado no suicídio da vítima, fato que evidencia a extrema gravidade da conduta imputada, com consequências irreparáveis”, escreveu a juíza na decisão.
Pedro foi encontrado morto, em casa, em 10 de agosto de 2024.
Segundo o MPES, Sileide teve a prisão preventiva decretada por este caso recentemente, mas já estava presa na época da denúncia.
A Secretaria de Estado da Justiça informou que ela está no Centro Prisional Feminino de Colatina.
Afastamento de familiares e amigos pode ser um alerta

O afastamento da pessoa idosa de familiares e amigos, quando inicia um relacionamento, é um dos sinais que pode acender o alerta. Ele pode ocorrer tanto por exigência de golpistas quanto pela vergonha da vítima de denunciar os abusos, segundo a titular da Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa, delegada Milena Gireli.
“É fundamental que as vítimas registrem boletim de ocorrência e procurem ajuda de profissionais do direito e psicólogos, pois é um crime que fere muito a autoestima da vítima, gerando, muitas vezes, crises de ansiedade e depressão”.
A advogada previdenciária Juliana Pimentel Miranda dos Santos reforça a importância de promover o diálogo aberto e respeitoso com a pessoa idosa. “Evite julgamentos ou proibições. Escutar o idoso, entender seus sentimentos e preocupações é essencial para que ele se sinta acolhido e confiante em dividir experiências”.
Defesa nega as acusações e diz que fatos serão esclarecidos
A defesa de Sileide Maria Rodrigues informou que ela encontra-se à disposição da Justiça e confia plenamente no trabalho das instituições responsáveis pela apuração dos fatos.
Destaca que Sileide “nega a prática dos atos a ela imputados e confia plenamente que os fatos serão devidamente esclarecidos na esfera judicial”.
A defesa ressalta que o processo ainda está em fase inicial e que não há, até o momento, qualquer condenação ou decisão definitiva que justifique prejulgamentos ou conclusões precipitadas.
Informou ainda que sua cliente já foi devidamente notificada e “aguardará a tramitação regular do processo para se manifestar nos autos, com o respeito devido às instituições e à memoria da vítima”.
A defesa reiterou que todas as manifestações e recursos judiciais cabíveis serão feitos dentro das normas que regem o ordenamento jurídico, observando os prazos legais para tanto.
Outros casos
Aposentada perde R$ 444 mil
Uma aposentada de 75 anos, que tem lapsos de memória, foi vítima de um homem de 45, que é feirante e revende frutas do Sul do Estado em bairros de Vitória. Eles se conheceram em 2021 e o suspeito começou a investigar a vida pessoal dela e a se declarar. Por fim, deixou um prejuízo de R$ 444 mil de transferências por Pix, empréstimos e dinheiro para abastecer o carro dele.
A filha da vítima, de 54 anos, entregou cerca de 10 promissórias, que foram assinadas no início do “relacionamento”, à Polícia Civil e registrou boletim de ocorrência, em setembro do ano passado.
Prejuízo de R$ 950 mil
Uma farmacêutica aposentada, 71, moradora da Serra, depois de muitas conversas virtuais, videochamadas e encontros presenciais frustrados, teve um prejuízo de R$ 950 mil.
Em junho do ano passado, ela contou para a reportagem que, dois anos antes, havia recebido uma solicitação de uma pessoa pedindo para segui-la nas redes sociais. O perfil se passava por um engenheiro de 50 anos. Ele afirmava ser divorciado, com uma filha e à procura de um novo amor.
Saiba mais
Se apresentava como filha
Exploração financeira
A denunciada, Sileide Maria Rodrigues, 53, teria alegado para a vítima, Pedro Lozer Pacheco, com mais de 70 anos, ter câncer e que necessitava de dinheiro para tratamento.
Ela ainda dizia que o dinheiro seria para pagar advogados, despesas processuais e despesas decorrentes do falecimento de familiares.
Saques em lotérica
Ela foi vista mais de uma vez com Pedro enquanto realizava saques em uma casa lotérica, ocasiões em que se apresentava como filha do idoso, que teria chegado a contrair empréstimos com amigos e familiares para suprir as exigências da denunciada.
A Justiça entendeu que Sileide explorou emocional e financeiramente a vítima, aproveitando-se de sua vulnerabilidade afetiva e emocional.
“Tal comportamento, além de revelar desvio de personalidade, foi tão devastador que pode ter culminado no suicídio da vítima”, diz a decisão.
Prisão
Ela foi detida em cumprimento de um outro mandado de prisão, por condenação já definitiva por crime semelhante, também praticado contra uma pessoa idosa, em Marilândia.
Sileide teve a prisão preventiva decretada pelo caso de Colatina, recentemente, mas já estava presa na época da denúncia.
Fonte: MPES e sentença judicial.
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