Famílias ocupam prédio do antigo TRT em Vitória
Cerca de 112 pessoas, entre jovens, idosos, grávidas e, em sua maioria, mães solo, querem conseguir um lugar para morar

Uma ocupação feita por integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) no Espírito Santo no edifício Castelo Branco, no centro de Vitória – antiga sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-ES) – reúne dezenas de famílias em busca de moradia. O movimento começou no último sábado (6).
Ao todo, são 72 famílias, cerca de 112 pessoas, entre jovens, idosos, grávidas e, em sua maioria, mães solo. Segundo Valdeni Ferraz, 56 anos, líder da ocupação, o objetivo é pressionar o poder público por soluções concretas.
“O objetivo da ocupação é pressionar o Estado para que as famílias tenham moradia digna. É esse prédio? Não sabemos, mas a nossa intenção é mostrar que precisamos de uma resposta. Nenhuma das famílias aqui tem casa, todas são sem-teto”, explica.
O grupo, que ocupa nove andares de um prédio de 13, promete permanecer até que haja negociação. “Não estamos aqui para tomar nada de ninguém, mas para que o governo nos olhe e entenda que moradia é um direito. Só vamos sair quando tivermos uma resposta”, resume Valdeni.
Entre os moradores está Andressa Vieira, 41 anos, mãe de cinco filhos, que relata a dificuldade de manter um aluguel após sofrer um acidente.
“O meu aluguel era R$ 1.400. Depois que me acidentei, não consegui pagar, a dona da casa desligou luz e água e me colocou para fora. Procurei a Justiça, mas não tive respaldo. Estou devendo até advogado. Não pude ir para rua com meus filhos e encontrei na ocupação uma forma de lutar por moradia”, conta.
Ela reforça que a ação é pacífica e organizada. “Aqui não tem usuário de droga, não tem homem que bate em mulher. Cada família tem responsáveis, cuidamos das crianças. Nós estamos brigando por casa, por necessidade básica”, afirma.

Ao lado da filha, Alvacira Vieira, 66 anos, aposentada, também participa da ocupação. “Estou aqui pelos meus netos e pela minha filha. Sofro muito quando os vejo sofrer”.
Além do TRT-ES, o edifício Castelo Branco também já foi utilizado pela Caixa Econômica Federal e pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU). Atualmente, existe uma discussão sobre a possível mudança da sede da Câmara Municipal de Vitória para o prédio.
Nada de luxo
Alto custo de moradia

Aposentada, Luciléia Ferreira da Silva, 54 anos, deixou Minas Gerais há 10 anos para tratar a saúde em Vitória. Hoje, enfrenta o alto custo da moradia: com renda de R$ 1.518, não consegue pagar quitinetes que chegam a R$ 1.600.
“A gente paga aluguel em um mês e no outro não tem dinheiro para comida, luz e água”, relata. Ela já tentou inscrição em programas habitacionais, mas sem sucesso. “Não pedimos luxo, só o básico: um lugar para morar”.
Direito básico
“Nosso sonho é ter nossa casa”

Eliane Vitória, 41, é dona de casa, mãe e avó. Moradora da Serra, entrou na ocupação em Vitória em busca de moradia. “Não estamos aqui para bagunça, mas para lutar por um direito básico”, afirma. Com renda de um salário mínimo, não consegue pagar aluguel. “Já tentei alugar casa, mas recusaram por ter criança”, relata. “Nosso sonho é ter nossa casa”, diz.
O outro lado
Reintegração de posse
Questionada sobre a situação, a Caixa Econômica Federal explicou que o edifício Castelo Branco está sob posse conjunta do banco e da Secretaria de Cultura do Estado.
“O banco identificou a ocupação do imóvel no dia 6 de setembro e adotou as medidas administrativas e legais visando à reintegração de posse”, diz nota enviada ao jornal.
Também procurada, a Prefeitura de Vitória sinalizou que não há posicionamento sobre a ocupação.
“Vitória possui hoje o maior programa habitacional de sua história. Nos últimos cinco anos foram entregues mais de 250 residências a famílias em situação de vulnerabilidade ou ocupantes de áreas de risco pelo Casa Feliz e Segura. Além disso, houve a ampliação do Bônus Moradia”, afirmou em nota.
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