Médico ensina a diferenciar labirintite de simples tontura
Especialista alerta que labirintite de verdade, que é uma infecção no labirinto, é muito rara. Até AVC pode ser confundido com ela
Escute essa reportagem
Você já teve a sensação de que o mundo está girando ao seu redor, mesmo estando parado? Ficou pensando se poderia ser labirintite ou apenas tontura? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% da população mundial têm ou já tiveram tontura em algum momento da vida.
O otorrinolaringologista e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) Bernardo Ramos, especialista em otoneurologia, esteve no Estúdio Tribuna Online e explicou como diferenciar labirintite de uma simples tontura. O médico alertou para o fato de um acidente vascular cerebral poder ser confundido com tontura e labirintite.
A Tribuna- Quais são as diferenças entre tontura e labirintite?
Bernardo Ramos- Na verdade, esse termo labirintite, aqui no Brasil, acabou virando um termo genérico, praticamente sinônimo de tontura. O grande problema de um termo genérico como esse é que acaba simplificando uma coisa que não é simples. Então, é como se um sintoma, que é a tontura e pode ser decorrente de dezenas de causas, fosse causado só por um sintoma.
A labirintite de verdade, que é uma infecção no labirinto, é muito rara.
O que pode causar doença do labirinto? Quais principais fatores podem desencadeá-la?
A labirintite normalmente é uma complicação infecciosa de uma infecção do ouvido. A porcentagem dos pacientes com ela é desprezível perto das outras dezenas de casos de tontura.
Crianças também podem apresentar tonturas ou apenas adultos?
A prevalência de 30% da OMS também foi retratada até no estudo que foi feito em São Paulo, em 2013. Eles fizeram a seguinte pergunta: “Você já teve ou tem tontura?”, e 42% das pessoas responderam que sim. Nesse grupo foi visto que houve um pico de incidência próximo aos 50 anos de idade e depois de 65 anos. A prevalência é maior com o aumento da faixa etária, mas existe tontura em todas as faixas etárias, e as crianças são uma delas, porém é menos frequente.
A mulher reclama mais de tontura. É mais frequente nesse público?
Tem alguns tipos de tontura, como a enxaqueca ou migrânea vestibular, provavelmente a segunda causa mais frequente de tontura, que afetam mais mulheres do que em homens. Tem muita parte hormonal envolvida.
Normalmente, como os pacientes referem os sintomas de tontura?
Escutamos de tudo. Muitos pacientes falam que sentem girando, o que seria o que chamamos de vertigem, tipo bem comum de tontura. Mas vemos sintomas de desequilíbrio, instabilidade, sensação de estar bêbado e com ressaca, sensação de cabeça leve, pesada, flutuando, sensação de desmaio, escurecimento visual e fraquezas nas pernas. Muitos desses sintomas podem ser referidos.
Na hora de fazer o diagnóstico, o melhor para o médico é focar em quanto tempo dura a crise e se há algum gatilho do que no tipo de tontura.
Quais principais doenças podem se manifestar tendo a tontura como sintoma?
Do ponto de vista didático é bom a gente dividir a tontura em síndromes. Então a gente pode diferenciar em grandes grupos: a síndrome vestibular aguda, a síndrome vestibular episódica e a crônica.
A aguda é aquele paciente que normalmente vem com uma crise forte de tortura muitas vezes associadas a náuseas e vômitos. Normalmente os sintomas se arrastam por mais de 24 horas. Nesta síndrome, onde muitos pacientes vão ao pronto-socorro, temos de dar o diagnóstico se é uma doença do labirinto ou um AVC.
Já na síndrome episódica, normalmente são episódios de tontura que o paciente tem com período de normalidade, podendo ser a vertigem posicional paroxística benigna ou a doença de Ménière, que aumenta a pressão no ouvido. Também podemos ter o acidente isquêmico transitório, que é o tal do princípio de AVC, em que o paciente pode ter até sintomas de AVC que melhoram ao longo de 24 horas. Nas síndromes crônicas o paciente já está com tontura há mais de três meses.
A cura vai depender da causa?
Como a tontura é um sintoma e não uma doença, a cura, o prognóstico, o diagnóstico e o tratamento serão baseados no que está causando o sintoma. A maior parte dos casos são bem controlados ou curados de uma maneira ou de outra com tratamentos específicos.
Durante uma crise de tontura, o que deve ser feito?
Todo sintoma que é mais persistente, que vem associado com dor de cabeça, dor atrás do pescoço, desequilíbrio, quadro neurológico associado e fraqueza nas pernas, deve ser avaliado o mais rápido possível, porque podemos entrar em zona de mais gravidade.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários