Fala Doutor: Caminhar cinco vezes por semana alivia dor nas costas
Melhora na circulação e oxigenação de tecidos e fortalecimento da musculatura são alguns dos benefícios da atividade física
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Em 2050, estima-se que 843 milhões de pessoas em todo o mundo serão afetadas com dores nas costas, segundo estudo global publicado no jornal The Lancet. Mas o que muita gente ainda não sabe é que caminhar cinco vezes por semana ajuda a aliviar esse problema.
Os benefícios da caminhada para pacientes com dores nas costas foram demonstrados em um estudo recente, publicado na revista The Lancet Rheumatology.
“Manter uma rotina de caminhadas regulares, de pelo menos cinco vezes por semana, reduz significativamente a recorrência da dor lombar, principalmente em pessoas que já tiveram episódios anteriores”, esclarece o anestesiologista, especialista em dor crônica, André Felix.
“A caminhada melhora a circulação e a oxigenação dos tecidos da coluna; fortalece a musculatura de sustentação, principalmente do core; aumenta a mobilidade, evitando rigidez articular; e estimula a liberação de endorfinas, que são analgésicos naturais”, destaca o médico.
Além disso, segundo o especialista, a caminhada ajuda a modular o sistema nervoso central, reduzindo o processo chamado sensibilização central, presente em muitos casos de dor crônica.
A Tribuna — Quais são as causas mais comuns de dor nas costas atualmente?
André Felix — Quando a gente fala sobre as causas mais comuns de dor nas costas atualmente, é importante entender que a maior parte dos casos, algo em torno de 85% a 90%, é de dor lombar mecânica comum, também chamada de idiopática ou inespecífica.
Essa dor geralmente está relacionada a fatores como sedentarismo, má postura, sobrecarga funcional, estresse crônico e descondicionamento muscular. É uma dor real, mas que muitas vezes não aparece nos exames de imagem.
Agora, dentro dos 10% a 15% restantes, a gente tem causas mais específicas, que também são muito prevalentes na prática clínica, como dor facetária (causada pelo desgaste nas articulações posteriores da coluna) e dor discogênica (vem do próprio disco intervertebral, mesmo sem hérnia).
Dor nas costas ainda é um problema de adultos de meia-idade e idosos, ou jovens também estão sendo acometidos pelo problema?
A dor nas costas continua sendo mais prevalente em adultos de meia-idade e idosos, sim, principalmente por conta do desgaste natural das estruturas da coluna: hérnias de disco, artrose, osteoporose e estenose de canal vertebral.
Mas estudos recentes, como a série publicada na The Lancet Rheumatology, mostram que a dor lombar já é uma das principais causas de incapacidade em jovens entre 15 e 29 anos. Isso está diretamente ligado a sedentarismo, uso excessivo de telas, má postura, estresse, distúrbios do sono, mochilas pesadas e baixa consciência corporal desde cedo.
Estresse e ansiedade podem contribuir para dores nas costas?
O estresse e a ansiedade têm um impacto direto e comprovado sobre a dor crônica — incluindo a dor nas costas.
Há diversos estudos mostrando que transtornos de saúde mental, como depressão e ansiedade, estão diretamente relacionados ao aumento da sensibilidade à dor. Isso ocorre porque o cérebro e o corpo compartilham circuitos comuns: as regiões cerebrais que processam dor física também processam dor emocional. Esse fenômeno é conhecido como sensibilização central — onde o sistema nervoso se torna hiperreativo, percebendo estímulos normais como dolorosos.
Quando a pessoa está com dor, normalmente ela tende a evitar atividades, preferindo o repouso. Há benefícios em praticar alguma atividade, mesmo com algum grau de dor?
Quando a dor surge de forma repentina e intensa, pode ser necessário sim um período curto de repouso relativo, junto com o início de um tratamento adequado, para permitir que a inflamação reduza e o corpo comece a se recuperar.
Porém, nos casos de dor crônica, ou seja, dores que persistem por mais de 3 meses, o cenário é outro. Nesses casos, o exercício físico passa a ser parte fundamental do tratamento. O movimento ajuda a modular o sistema nervoso, reduzir a sensibilização central, melhorar a força muscular, restaurar a função e, principalmente, devolver autonomia e qualidade de vida ao paciente.
Quais atividades são mais indicadas para fortalecer a musculatura e proteger a coluna?
A resposta mais honesta é: o melhor exercício é aquele que a pessoa consegue fazer com regularidade, segurança e prazer. A adesão é fundamental. Ou seja, o exercício que a pessoa gosta e consegue manter em longo prazo já tem um valor enorme no processo de reabilitação e prevenção.
Além do exercício, quais outros tratamentos são usados para dor nas costas?
A medicina da dor hoje evoluiu para integrar conhecimento anatômico, neurofisiológico e tecnologias avançadas, com foco não só no alívio dos sintomas, mas na restauração da função e da qualidade de vida.
Fique por dentro
Cerca de 80% das pessoas têm dor lombar pelo menos uma vez na vida.
A dor nas costas afeta a população de todo o mundo, de qualquer idade, homens e mulheres indistintamente, sendo a segunda causa mais comum de consultas médicas gerais, perdendo para a dor de cabeça e o resfriado comum.
É muito comum que, ao sentir dor, a pessoa evite completamente o movimento, achando que repouso absoluto é o melhor caminho. Mas, em muitos casos, isso pode enfraquecer a musculatura de sustentação da coluna, aumentar a rigidez e piorar a dor. O ideal é movimentar-se de forma segura e orientada, mesmo durante o tratamento.
Muitos pacientes com dor crônica não conseguem iniciar atividades físicas de forma espontânea. Por isso, o tratamento precisa ser personalizado e progressivo.
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