“Espero há 9 anos por Justiça”, diz pai que perdeu filha em acidente
O empresário Izaías Moreira, que perdeu a filha em um acidente de carro, espera que motorista envolvido na batida seja preso
Escute essa reportagem
Madrugada de 26 de janeiro de 2014. Essa data mudou para sempre a vida do empresário Izaías Moreira, 71 anos, que perdeu a filha Sâmia Izabella Ferreira Moreira, em um acidente de trânsito, em Guarapari.
Desde esse dia, nove anos se passaram e ele clama por Justiça. “Minha filha tinha 24 anos, era uma atleta, estava cursando o segundo período de Engenharia Civil e teve a sua vida interrompida de forma tão trágica e irresponsável”, lamentou o pai, nesta quinta (26).
O acidente foi na Rodovia do Sol, quando o motorista de uma Saveiro teria invadido a contramão e batido de frente no Fox preto, matando Sâmia na hora.
Outras três amigas da universitária se feriram: as fisioterapeutas Luciana Turino, 30, Michelle Fernandes, 26, e a médica Mariana Checon Caprini, 31. Elas voltavam de uma boate.
O motorista que dirigia a picape era o médico veterinário Luciano de Paula Navarro, 26.
Apesar de se negar a fazer o teste do bafômetro, ele foi autuado por embriaguez ao volante, pois, segundo a polícia, apresentava sinais de embriaguez. À época ele pagou fiança no valor R$ 7.240.
“Ele pagou a fiança, como em todo acidente, e responde ao processo em liberdade. É muito tempo aguardando por justiça. Mas eu tenho fé em Deus e sei que a justiça um dia virá, nem que seja a justiça divina”, afirmou o pai da jovem.
Enquanto Izaías Moreira espera pela condenação do condutor, ele se junta a outras pessoas que compartilham da mesma dor. Além de realizar palestras, participa de campanhas educativas na tentativa de conscientizar os condutores de que bebida e direção não combinam.
“Quando você perde um filho, você perde a sua vida, não importa quantos filhos você tem. Passamos a ter uma vida paralela. É muito triste, mas é uma realidade de todas as famílias que passam por está situação”, afirmou Izaías.
Leis
Para evitar o cometimento de tantas infrações no trânsito e impunidade, ele saiu em defesa de leis mais duras.
“O tempo passa e as pessoas estão matando e sendo liberadas. Infelizmente, eu não vejo justiça no nosso País. Precisamos mudar as leis”, afirmou.
A reportagem tentou contato com a defesa do motorista, o médico veterinário, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.
DEPOIMENTO
Dor e tristeza
“Nove anos se passaram e tudo continua como antes, a dor, a tristeza, a saudade, como também a ineficácia da Justiça, a inércia dos homens que poderiam amenizar quantidade de acidentes.
Infelizmente, a única expectativa é a tendência a piorar. Teremos mais acidentes, mais mães e pais chorando pela perda de seus filhos por causa de atitudes de motoristas que desrespeitam as leis de trânsito, que assumem a direção depois de ingerir bebida alcoólica, que trafegam em alta velocidade.
Nenhum pai, nenhuma mãe, está preparado para se despedir de um filho. A gente acaba morrendo um pouco quando isso acontece. A minha vida virou de cabeça para baixo depois que a minha filha morreu”.
Izaías Moreira, de 71 anos
O OUTRO LADO
“Compromisso com a celeridade”
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo, através de sua assessoria de Comunicação, informou que todos os julgamentos realizados pelo Poder Judiciário, incluídos aqueles relativos a delitos de trânsito, devem respeitar a garantia constitucional do devido processo legal, com a observância dos procedimentos previstos na lei, o que demanda o decurso do tempo necessário à prática dos atos processuais.
“O PJES (poder judiciário) reafirma o seu compromisso com a celeridade dos processos e justiça de suas decisões, sempre com respeito aos direitos das partes”, diz um dos trechos da nota.
“Sinto uma saudade que sufoca”
“Eu te amo! Vai com Deus!”. Foi assim que a dona de casa Renata Aparecida Marques, 42 anos, se despediu da filha Amanda Marques, 20 anos, no dia 17 de abril de 2021, sem imaginar que seria a última vez que via a jovem com vida.
Amanda tinha ido à casa da mãe, no bairro Jockey de Itaparica, Vila Velha, com o noivo Matheus Silva, e quando o casal seguia de moto pela rodovia Darly Santos, na altura de Jardim Asteca, foi atingido por um carro de passeio, conduzido por Wagner Nunes de Paulo, que, segundo a mãe, estava em alta velocidade e embriagado.
A jovem estava na garupa da moto e morreu no local. Matheus foi encaminhado a um hospital e teve alta dias depois. Wagner deu entrada no sistema prisional no dia 18 de abril de 2021 e está preso no Centro de Detenção Provisória de Viana 2, segundo a Secretaria de Estado da Justiça.
A Tribuna – Consegue descrever como tem sido a sua vida depois que perdeu a sua filha?
Renata Aparecida Marques – Está sendo muito difícil. Sinto uma saudade que sufoca. Apesar de saber que nada vai trazer a minha filha de volta, apelo por justiça. É crucificante essa espera. Estou aguardando o julgamento. Ele (motorista) destruiu a vida não só da minha filha, mas de todo mundo que teve a oportunidade de conviver com ela.
Desejo que ele seja condenado e pegue a pena máxima. Desde o acidente, eu não sei o que é sorrir.
O julgamento foi marcado?
Ainda não. Só teve audiências. Durmo à base de remédio, de tanto sofrimento, tanta dor e saudade.
Qual a lembrança que guarda da sua filha?
Lembro de tudo dela, dos momentos felizes, dos momentos difíceis. Lembro da nossa despedida, sem saber que era uma despedida. Ela saiu lá de casa e não voltou mais com vida.
Como foi essa despedida?
Ela gritou: 'eu te amo, mãe'. Eu respondi: 'eu te amo! Vai com Deus!' Depois disso, aconteceu o acidente. O condutor está preso, mas isso não basta. Ele tem que pagar pelo crime que cometeu.
Sua filha tinha sonhos?
Muitos. Ela ia casar em setembro de 2021, ia fazer faculdade de Fisioterapia, mas tudo isso foi interrompido por causa da imprudência no trânsito.
Por isso, não canso de lutar por justiça. Não luto só por minha filha, mas por todos os nossos filhos. A impunidade tem que acabar.
As provas estão aí. Ele estava em alta velocidade e embriagado quando bateu atrás da moto. Não foi um acidente. Foi um crime.
Comentários