Especialista afirma: "Jogos online não são só jogos, são redes sociais"
Ele aponta que há riscos também em plataformas usadas quase exclusivamente por crianças e adolescentes — muitas vezes fora do radar dos adultos
A ideia de que jogo é só um jogo ficou no passado. Hoje, plataformas como Roblox e Minecraft funcionam como verdadeiras redes sociais, onde crianças conversam, trocam fotos, compartilham dados e, muitas vezes, se expõem sem perceber.
O doutor em psicologia e especialista em Educação Digital do Instituto Alana – organização sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos na infância –, Rodrigo Nejm, explica que o perigo não está apenas nas grandes redes já conhecidas, como Instagram, TikTok ou WhatsApp.
Ele aponta que há riscos também em plataformas usadas quase exclusivamente por crianças e adolescentes — muitas vezes fora do radar dos adultos.
“Até jogos aparentemente simples funcionam hoje como verdadeiras redes sociais, com trocas de mensagens por texto, voz e vídeo, além de comunidades fechadas e pouco mediadas. Nesses espaços, criminosos se infiltram fingindo ser jogadores”.
Rodrigo explica que lá eles oferecem “dicas”, vantagens e recompensas no jogo, até ganharem confiança. Depois, passam a pedir dados, fotos, telefone, endereço e até migram para outras plataformas.
É assim que muitos casos de aliciamento acontecem. “Quanto mais informação a criança já deu, mais fácil o trabalho do criminoso”.
Mas os riscos não param por aí. Conteúdos violentos, pornografia, manipulação de imagens com uso de inteligência artificial e humilhações públicas circulam com facilidade nesses ambientes.
O especialista destaca também os danos menos visíveis: sono prejudicado, aumento da ansiedade, dificuldade de lidar com frustrações e impactos na autoestima.
Parte do problema, segundo Rodrigo, é a falsa sensação de que se trata apenas de “jogos”.
“Jogos hoje funcionam como ambientes sociais completos. E as crianças têm pouca maturidade para lidar sozinhas com o que encontram ali. Por isso, a recomendação é clara: respeitar rigorosamente as classificações indicativas, configurar os aparelhos de acordo com a idade e nunca liberar o acesso antes do permitido”.
Ele lembra ainda que a responsabilidade é compartilhada e não pode recair somente sobre famílias ou escolas.
“As empresas de tecnologia lucram com mecanismos que estimulam o uso excessivo e dificultam a supervisão dos adultos”.
Atenção e regras para o uso do celular
A servidora pública Roberta de Resende Có, 47, e o publicitário Gustavo Gorinstein, 43, decidiram adiar ao máximo o uso de celular pelo filho Vitor, de 10 anos.
O aparelho só foi liberado recentemente, de forma pontual, por necessidade de comunicação durante uma viagem escolar.
Mesmo assim, o acesso segue com atenção redobrada dos pais: não há redes sociais e o tempo de uso é controlado.
Os pais também optaram por ferramenta de controle parental e buscam novas opções de restrição de conteúdos inadequados para a idade.
“O acordo que temos hoje é que podemos olhar o celular sempre que acharmos necessário”, conta Roberta.
Nos jogos, a orientação também é para que ele não converse com desconhecidos, nem compartilhe dados pessoais.
“Estamos sempre orientando sobre os riscos e cuidados ao acessar algumas plataformas”, disse Roberta.
Números
Acesso a jogos
43% das crianças entre 9 e 10 anos acessam jogos mais de uma vez ao dia
37% dos usuários entre 11 e 12 anos jogam mais vezes ao dia.
Consumo de vídeos
58% Mais de uma vez ao dia viram vídeos de Influenciadores digitais
44% Viram séries, filmes ou programas na internet
40% Viram vídeos ou tutoriais na internet que ensinam a fazer coisas que gostam
44 % Viram vídeos de pessoas jogando videogame pela internet
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