É preciso priorizar a mobilidade das pessoas e não dos veículos
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Todos querem viver numa cidade que ofereça uma boa qualidade de vida. Para tanto, faz-se necessário compreendermos a “mobilidade peatonal”, reconhecendo os pedestres nos planejamentos estratégicos como os principais usuários das vias das cidades.
A idealização de uma cidade sustentável passa necessariamente pelo conceito de “walkability”, termo inglês referente ao quanto uma área é apropriada ao caminhar.
É uma medida que agrega benefícios à saúde, ao meio ambiente e à economia.
Não raro, o deslocamento a pé deixa de ser uma opção atrativa, ora por tornar-se uma disputa de espaço com veículos, ora pela quantidade de obstáculos até o destino.
Algumas medidas em relação ao planejamento urbano podem incentivar o caminhar, proporcionando benefícios à cidade e ao indivíduo.
Vários critérios estabelecem o índice de andabilidade, concebidos por diversos indicadores de qualidade. Largura e qualidade das calçadas, arborização, mobiliário urbano, sinalizações, equipamentos urbanos e sistemas disponíveis, iluminação, presença e percepção de segurança urbana são algumas destas avaliações.
A facilidade do pedestre em chegar ao seu destino sem o uso de carros deve ser considerada ao se planejar o espaço público. Também a relação com a calçada deve ser cogitada ao se projetar algum empreendimento.
Caminhar é a forma mais natural de deslocamento e a que possibilita a melhor vivência do espaço urbano.
A preferência pela condição de pedestre torna a rua mais segura, promove o comércio e reduz a necessidade de construção de novas infraestruturas de transportes motorizados.
Longe de ser apenas um espaço para circulação de pessoas a pé, a calçada é o limite entre o espaço público e o privado. É nela onde são instalados os equipamentos públicos, como abrigos em pontos de ônibus, postes de luz, hidrantes, lixeiras e placas de sinalização.
Contudo, no Brasil, em oposto a outros países, enfrentamos a perspectiva de que a responsabilidade da manutenção do passeio é de responsabilidade do proprietário do terreno adjacente.
Bom para o poder público, que reduz seu papel e tem uma economia de custo ao transferir para a iniciativa privada parte da responsabilidade da gestão do espaço público.
Mas ruim para a cidade, pois a noção equivocada do que significa “espaço público” gera a ambiguidade de sentido de propriedade, fazendo com que alguns moradores e comerciantes tratem a calçada como “sua”, admoestando quem ali permaneça sem sua autorização ou ocupando-a de maneira irregular, como se propriedade particular fosse de fato.
As legislações municipais evasivas e ações imprevisíveis da autoridade administrativa são problemas que deverão ser enfrentados e debatidos algum dia, pois nenhuma narrativa deve subsistir acima da verdade, atropelando as evidências.
Controvérsias à parte, a mobilidade das pessoas e não dos veículos deve estar no centro da tomada de decisões e do planejamento de transportes.
As cidades devem priorizar a caminhada, os modais ativos e coletivos, o compartilhamento eficiente e toda sua interconectividade. Afinal, o futuro das cidades é multimodal e integrado.
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