Duzentos mil sofrem de desatenção e hiperatividade
A condição atrapalha estudos, trabalho, casamento e o relacionamento social. Problema afeta crianças e adultos
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Caracterizado por sintomas como a desatenção, a agitação e a impulsividade, o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) já atinge cerca de 200 mil pessoas no Estado.
A condição, que atrapalha estudos, trabalho, casamento e relacionamentos sociais, tem sido associada à infância, mas também afeta adultos.
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), os casos de TDAH variam entre 5% e 8% em nível mundial. Estima-se que 70% das crianças com o transtorno apresentam problemas associados, como ansiedade, transtornos de conduta e depressão.
A neurologista e professora da Multivix Soo Yang Lee explicou que o TDAH é uma doença neurológica em que a pessoa tem sintomas desde a infância. “Muitas vezes, desde bebê os sintomas podem ser percebidos, mas só é possível fazer esse diagnóstico na idade escolar, após os 6 ou 7 anos”.
Ela explicou que o transtorno se caracteriza por uma falta de dopamina na região frontal do cérebro, que é a área responsável pelo planejamento, foco, senso de razão e senso crítico.
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“Por isso que a criança e o adulto que têm TDAH são impulsivos, têm muita falta de atenção. A criança pode demonstrar agitação, mas no adulto isso geralmente se manifesta de outra forma, como balançando a perna, tendo tiques”.
A neurologista infantil Larissa Freire Krohling ressaltou que muitos chegam à fase adulta sem nunca terem sido diagnosticados. “Acredita-se que 60% das crianças e adolescentes com TDAH tenham sintomas também na vida adulta”.
Ela acrescentou que o transtorno pode ser de três tipos: a forma desatenta, a agitada ou a que combina as duas características.
Segundo a médica, os transtornos podem ser tratados com atividade física, terapia comportamental, medicamentos e a redução do uso de telas.
O médico psiquiatra Jairo Navarro ressaltou que o TDAH, se não tratado, pode atrapalhar as atividades cotidianas ao longo da vida do paciente. “No adulto, muitas vezes ele vai fazer faculdade e tem dificuldade de se concentrar, de terminar tarefas no trabalho. Também tendem a ter comportamentos impulsivos, o que atrapalha também nas relações interpessoais”.
Exercícios para lidar com ansiedade
Diagnosticado ainda na infância com o TDAH, o universitário Gabriel Silveira Santa Clara, 23, hoje consegue entender melhor seu comportamento e o que fazer para lidar com a impulsividade, que ainda se manifesta em alguns momentos.
“Hoje, quando não consigo controlar bem a impulsividade, acaba provocando a ansiedade. Nesses momentos, busco a atividade física, caminhadas ou desmonto algo para lidar com isso”.
Gabriel, que também tem diagnóstico de altas habilidades, hoje faz faculdade de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, mas contou que teve dificuldades na infância, principalmente pela falta de informação de muitas pessoas.
“Era hiperativo, impulsivo, desatento, mas ainda tirava notas muito boas. Fui expulso de escolas. Minha família buscou tratamento”, explicou.
Alerta para diagnóstico
Com prejuízos para a vida social, nos estudos e no trabalho que podem se arrastar por toda a vida do paciente, médicos alertam para a necessidade do diagnóstico e tratamento precoce do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
O médico psiquiatra Jairo Navarro destacou que com o diagnóstico e tratamento certo é possível reduzir os prejuízos acadêmicos e na vida social do paciente.
“Além disso, você consegue proteger as crianças contra riscos de desenvolver outros transtornos secundários, como ansiedade, transtorno opositor desafiador e uso de substâncias psicoativas”.
A neurologista e professora da Multivix Soo Yang Lee ressaltou que a criança que não tem o diagnóstico, não consegue compreender o que acontece com ela.
“Ela só entende que não rende a mesma coisa que os amigos, acha que não é capaz, tem uma baixa autoestima. Geralmente leva punição na escola, recebe reclamação. Começa a achar que realmente não é uma boa criança. Isso gera ansiedade”.
A médica explicou que cerca de 30% dos meninos que têm TDAH se envolvem com algum tipo de vício, como álcool, cigarro e drogas.
“É importante que seja tratado com terapia ou até com remédio. Muitas pessoas têm resistência ao tratamento medicamentoso. Mas o TDAH é uma falta de dopamina no cérebro, então o medicamento vai repor exatamente isso”.
Ela destacou a importância desse tratamento até a maturidade do paciente, para que ele desenvolva suas estratégias para conviver com o transtorno.
OPINIÃO
- "Cerca de 70% das crianças com TDAH podem ter outras comorbidades, como transtorno ansioso”, Larissa Freire Krohling, neurologista infantil
- "A criança com TDAH tem comportamento desatento, impulsivo e agitado em todo lugar”, Jairo Navarro, médico psiquiatra
SAIBA MAIS
O que é o TDAH?
> O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. O diagnóstico é feito a partir de avaliação de profissionais da área médica e da psicologia.
Tipos
1 - Hiperativo
> Pessoas com TDAH hiperativo/impulsivo sentem necessidade de se movimentar constantemente. Nas interações com os outros, costumam falar muito e interromper as falas do interlocutor. É mais comum entre meninos.
2 - Desatento
> Entre as características, pessoas com esse tipo de TDAH cometem erros por descuido, pois têm dificuldade em manter a atenção. Também podem se distrair facilmente e perder coisas constantemente. Tipo que acomete mais meninas.
3 - Combinado
> Demonstram seis ou mais sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Sintomas em adultos
> Cerca de 60% das crianças e adolescentes com TDAH entrarão na vida adulta com alguns dos sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade, porém em menor número.
> Os adultos costumam ter dificuldade em organizar e planejar atividades do dia a dia. Estressam-se ao assumir diversos compromissos e não saber por qual começar. Com medo de não conseguir dar conta, acabam deixando trabalhos incompletos.
> Sentem grande dificuldade para realizar suas tarefas sozinhos e precisam ser lembrados pelos outros, o que pode causar problemas no trabalho e nos estudos.
Fonte: Ministério da Saúde e pesquisa AT.
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