Dor nas costas atinge mais de 800 mil no ES
Uso de celular e má postura são alguns dos motivos para o problema. Estima-se que 843 milhões de pessoas serão afetadas até 2050
Escute essa reportagem
Má postura, falta de atividade física e uso de celulares e computadores estão levando a uma “epidemia” de dor nas costas, afetando mais de 800 mil pessoas no Estado.
Um estudo global publicado no jornal The Lancet apontou que a dor na região lombar afetou 619 milhões de pessoas no mundo no início da pandemia, em 2020.
Leia outras notícias de Cidades aqui
Mas não é só isso. A pesquisa traz preocupação: estima-se que 843 milhões de pessoas serão afetadas pelo problema até 2050.
O ortopedista e doutorando em Ciências da Saúde Bernardo Terra acredita que hoje de 20% a 30% da população capixaba se queixa frequentemente de dores na coluna, o que equivale a cerca de 800 mil pessoas.
Bernardo Terra aponta duas principais causas: mecânicas e posturais. No primeiro caso, ele cita falta de fortalecimento muscular e alongamento de alguns músculos específicos tanto da região vertebral, que é da coluna, quanto da região abdominal.
Nos tempos mais modernos, principalmente na era da pandemia e pós-pandemia, como ele destaca, muitas pessoas mudaram os seus hábitos, passando pelo home office e estudos remotos.
“Com relação a isso, nós apresentamos alguns problemas. Primeiro, a postura. Sabemos que, ao ficar diante de um celular, automaticamente o nosso pescoço está dobrado para frente. Isso gera uma sobrecarga grande na musculatura posterior e a gente sabe que o peso da nossa cabeça é considerável”.
Então, como ele observa, isso gera uma sobrecarga tensional na parte muscular e óssea da coluna vertebral, o que ao longo do tempo pode trazer danos à coluna.
“O uso do celular, nesse sentido, é um vilão, principalmente por conta da má postura que a gente fica. Quase ninguém usa e coloca o celular na altura dos olhos. A gente tende a inclinar a cabeça e projetar os ombros para frente. Isso gera todo esse desequilíbrio muscular, o que facilita o aparecimento das dores, das inflamações e, a longo prazo, até mesmo de lesões mais definitivas na coluna”.
O neurocirurgião Francisco Sampaio Júnior comparou as gerações. “Vivemos uma epidemia de problemas na coluna. A minha geração brincava na rua jogando futebol, pulando amarelinha e subindo em árvores. As crianças hoje brincam ligadas a milhões de outras crianças espalhadas pelo mundo por um smartphone, sentadas em um sofá ou cadeira de jogo, na pior posição possível”.
Celular e computador
Quem sofre com dor nas costas é a universitária Loren Bremenkamp Peterli, de 19 anos. Ela confessa que usa muito o celular e computador, cerca de 12 horas diárias.
“Como eu estudo e trabalho, não tem como ficar sem o aparelho. Claro que eu tenho as pausas, mas não posso negar que a minha postura acaba sendo muito curvada e isso atrapalha muito, pois gera muita dor nas costas”.
A dor incomoda tanto que atrapalha até a sua forma de andar. “A dor na coluna interfere outras partes do corpo, inclusive eu não aguento ficar muito tempo sentada por causa desse incômodo. Tenho que andar e me mexer para tentar mudar a posição e amenizar o problema”, finalizou.
Novas técnicas e tratamentos para reduzir queixas
Para aqueles que sofrem com dores, novas técnicas e tratamentos prometem reduzir as queixas e dar mais qualidade de vida.
Os principais deles, já no início do tratamento, são a fisioterapia e a correção de postura com RPG (Reeducação Postural Global) para tentar redistribuir uniformemente o peso em cada um dos segmentos da coluna e tirar a sobrecarga daquele que está recebendo mais carga.
Fabrício Castro, fisioterapeuta e osteopata, salienta que com a pandemia e o aumento do trabalho remoto, a procura de pacientes queixando-se de dores na coluna cresceu muito, devido ao aumento da quantidade de horas sentado em frente ao computador em cadeiras e móveis com altura e regulagem inadequadas de acordo com as normas ergonômicas.
“O tratamento da dor consiste em tratamento medicamentoso e tratamento com fisioterapia, osteopatia, RPG, acupuntura, dentre outros, em casos agudos”.
Em seguida, ele recomenda a prática de atividade física, como caminhada, pilates, hidroginástica e musculação, além de mudanças de hábitos de vida e melhora da alimentação e hidratação.
“Isso porque beber água fluidifica o sangue e melhora a circulação e a absorção de água dos discos vertebrais”, explicou.
CELULAR
O médico André Felix, especialista em dor crônica, adverte que movimentos repetitivos podem causar sérias lesões e, se não forem tratadas de forma correta, podem evoluir e se transformar em algo mais sério para a saúde. “Desde disfunção muscular, como as tendinopatias, até neurológicos”.
Mas como para muitos ficar sem o celular não é uma opção, André Felix orienta que alguns cuidados devem ser tomados.
“O primeiro é ficar com a tela do celular na altura dos olhos, porque assim não é necessário abaixar a cabeça para visualizar. Além disso, é preciso apoiar os braços e antebraços para não ficarem sobrecarregados durante o uso do aparelho. Pausas a cada 15 minutos também são importantes”.
Ele ressalta que exercícios para fortalecimento dos músculos como, por exemplo, musculação e pilates, ajudam muito.
SAIBA MAIS
Causas de dor nas costas:
- Podem variar, mas geralmente incluem tensão muscular, causada por levantamento incorreto de objetos pesados, má postura ou tensão excessiva, por exemplo.
- Problemas estruturais também foram apontados, incluindo, por exemplo, problemas como hérnia de disco, artrite, osteoporose ou anormalidades na curva da coluna.
- Questões relacionadas ao trabalho foram citados por médicos e especialistas, como ficar sentado o dia todo, levantar objetos pesados sem o cuidado necessário ou fazer qualquer atividade que coloque estresse regular na coluna.
Uso do celular:
- “Companheiro” inseparável de muitas pessoas, que passam até 12 horas utilizando os smartphones, o celular pode trazer problema.
- É comum inclinar a cabeça para mexer no aparelho. Porém, o problema está justamente na hora de olhar para tela ou ao digitar, pois é nesse momento que a pessoa abaixa a cabeça.
- “A cabeça de um adulto pesa em média entre quatro a cinco quilos. Mas quando abaixamos a cabeça em um ângulo de 15°, por exemplo, o pescoço passa a suportar 12 quilos. Isso aumenta quando a inclinação é de 30°, porque o peso se transforma em 18 quilos”, diz o médico André Félix, especialista em dor crônica.
LEIA TAMBÉM:
Corpus Christi com mais de 2 km de tapetes em Castelo
Lojas e supermercados da Grande Vitória vão abrir em horário especial
Comentários