Criatividade, o diferencial na era da Inteligência Artificial
Especialistas dizem que quem for “humanamente criativo” vai acabar se destacando no mercado de trabalho
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Quando foi a última vez que você criou algo ou teve uma ideia inovadora em sua casa, escola ou trabalho? Com tantos recursos tecnológicos, “colocar a cabeça para funcionar” e deixar “fluir” a criatividade não têm sido algo mais tão comum. Só que na era da inteligência artificial (IA), que hoje é parte essencial do processo criativo de muitas pessoas e empresas, quem for “humanamente criativo” vai se destacar, segundo especialistas.
Na avaliação da mestra em Administração e CEO do Base 27, Michele Janovik, a criatividade será uma competência cada vez mais escassa, sendo necessário considerar, por exemplo, em empresas, que colaboradores trabalhem isso.
“A primeira coisa: as pessoas precisam ser estimuladas a buscarem novos repertórios, a conhecerem temáticas que não conhecem e se relacionarem com outras empresas que possam atrair diversidade de informações. Até mesmo as pessoas terem um tempo de sua jornada de trabalho para estudarem outras coisas, isso cria repertório”.
Para o doutor em Administração César Tureta, professor do Departamento de Administração, fundador do site Criatividade iLTDA e coordenador do Grupo de Estudos de Criatividade e Inovação da Universidade Federal do Espírito Santo (Geci/Ufes), nem todos colocam a criatividade em prática, em função de, muitas vezes, desconhecerem como desenvolver habilidades criativas.
“Uma coisa que é básica e ajuda a aumentar a criatividade é ter conhecimento profundo e denso de sua área de atuação. Ajuda mais ainda, além do conhecimento, você realizar atividades de outras áreas. Um exemplo é lidar com atividades artísticas, como música, pintura e teatro. Essas atividades ajudam muito a 'abrir' a cabeça”.
Cláudio Rabelo, professor de Comunicação Social- Publicidade e Propaganda na Ufes, pós-doutor em Estudos Culturais e em Educação observa que quando a criatividade desperta, consegue mudar paradigmas em redes.
“Existe alguém no 'mercado atual' que pinta como Da Vinci, compõe como Beethoven, escreve como Shakespeare? Talvez exista, mas isso não interessa ao mercado. Ou é muito caro, ou não está dentro dos formatos enlatados. Precisamos valorizar mais o que é humano”.
Cláudio completa: “As pessoas não querem ler uma coluna de jornal escrita por uma IA, mas a opinião do colunista conta”.
“Por exemplo, após responder as questões desta matéria, questionei a IA sobre a sua opinião. Talvez a resposta tenha ficado mais técnica e rebuscada do que a minha. Mas os leitores do jornal se sentiriam enganados, uma vez que a materialidade humana sempre fará a diferença”.
Como desenvolver a criatividade
Ideias na madrugada
Em 2020, durante a pandemia, Islayne Figueiredo de Oliveira, 30, saiu de seu emprego como vendedora por estar grávida e não querer se expor à covid-19. Foi nesse período que ela começou a se aventurar no artesanato.
Islayne, então, descobriu que poderia eternizar DNAs, como fios de cabelos, leite materno, dente de leite e até cinzas de restos mortais, em joias. A artesã conta que cada joia é pensada de acordo com a história do cliente, não utilizando de recursos como a inteligência artificial para a criação do acessório, que é desenhado por ela. Islayne, que posta suas peças no seu perfil Amorizandojoias, conta que as ideias surgem de forma natural.
“Quase sempre tenho a ideia ao acordar de madrugada, ou quando estou no Instagram, por exemplo. Às vezes, a inspiração vem de uma conversa que tive no passado com uma cliente e ficou na memória”.
Tenha conhecimentos em sua área de atuação
Conheça as ferramentas, conceitos, os métodos, os fatos de sua área. Isso te permite identificar, não somente os problemas, mas possíveis soluções.
Desenvolva habilidades no pensamento criativo
Isso envolve assumir riscos. Pessoas criativas arriscam mais, testam mais as ideias, e tentam enxergar os problemas a partir de uma perspectiva diferente
Tenha motivação
Realize um trabalho que seja significativo e prazeroso, isso faz com que a pessoa consiga colocar em prática a capacidade de criar.
Faça outras tarefas: Dê pausas, que podem ser de 5 minutos, um dia e até uma semana, se for possível, no trabalho que está realizando. Nessa pausa (pode ser para fazer uma caminhada, um passeio no parque, por exemplo) sua mente é capaz de resgatar conhecimentos que são componentes da criatividade e sem que você pense o tempo todo sobre o que precisa ser criado.
Espaços para estimular inovação
Não, a criatividade não é um dom, segundo especialistas. E embora possam existir traços que a facilitam, a criatividade é uma habilidade que pode ser desenvolvida.
Justamente por poder ser desenvolvida, escolas têm investido em espaços para que os alunos possam estimular a inovação.
No Centro Educacional Leonardo da Vinci, por exemplo, os alunos da 2ª série do Ensino Médio Pedro Mello, Luana Neves e Barbara Brandão têm aulas na disciplina Steam no laboratório Bottega, que integra as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática.

"Por meio da integração dessas áreas do conhecimento, o aluno trabalha na resolução de problemas. São apresentadas desde ferramentas simples, como furadeiras, parafusadeiras e serras, até tecnológicas, como impressora 3D”, explica João Duarte, coordenador pedagógico do ensino médio da instituição.
Neste ano, o desafio dos alunos é pesquisar os gostos de um dos colegas da turma e criar um objeto que tenha a ver com ele, passando por etapas de pesquisa, ideação, prototipagem, entre outras.
Para João, a escola deve estimular o contato com atividades que envolvam o contato com a natureza, a arte, a leitura e o diálogo presencial, equilibrando o uso digital com experiências humanas significativas.
Já na Escola Monteiro, os alunos de todas as séries têm momentos em que deixam o ambiente escolar para explorar, por meio de visitas e viagens, outros ambientes de aprendizado.
“Eles têm ainda aulas de música, teatro e oficina, além de também colocarem a mão na massa no Espaço Maker, onde desenvolvem habilidades como autonomia, espírito colaborativo, criatividade e o fazer próprio”, explica a diretora pedagógica Penha Tótola.
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