Como preparar as cidades para as mudanças climáticas
Limpeza de canais e transferência de moradores de áreas de risco são algumas medidas apontadas por especialistas
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Os eventos climáticos extremos, como os ocorridos na cidade de Mimoso do Sul, no Espírito Santo, e no Rio Grande do Sul, serão cada vez mais frequentes, apontam previsões feitas por especialistas.
Diante da conjuntura, cientistas alertam que as cidades precisam se antecipar e construir estratégias de prevenção e adaptação aos efeitos da crise climática.
A atualização dos Planos Diretores Municipais, os investimentos em micro e macrodrenagem, a limpeza periódica de canais e uma política de transferência de moradores de áreas de risco para moradias populares seguras são algumas das principais medidas de preparação das cidades para as mudanças climáticas.
A avaliação é do biólogo e mestre em Biologia Animal Daniel Gosser Motta. Ele analisa que, por mais que os desastres ambientais recentes sejam tristes e apavorantes, ainda não há uma catástrofe climática no mundo, visto que os eventos climáticos extremos são cíclicos e dependem de variáveis ambientais locais, regionais e mundiais.
“A preocupação é válida para não chegarmos à situação de catástrofe. Precisamos focar mais na prevenção do que na mitigação dos acontecimentos. É muito mais barato investir em ações para diminuir os efeitos dos eventos climáticos extremos”, afirma.
A mestre em Meteorologia, doutora em Oceanografia Ambiental e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Kyssyanne Samihra Oliveira, aponta que a preparação das cidades deve incluir o mapeamento das áreas de risco e a definição de medidas preventivas.
Junto à mestranda em Oceanografia Ambiental Jéssica Mariano, a professora pesquisa sobre os eventos extremos de nível do mar ao longo da costa capixaba e as principais causas atmosféricas desses eventos extremos.
“Precisamos de medidas preventivas, como a restauração no entorno de mananciais, e de soluções convencionais, como a readequação da rede de drenagem urbana, além de protocolo de ação para eventos climáticos extremos”.
A reportagem do jornal A Tribuna entrevistou alguns dos maiores especialistas sobre o tema no Estado e no País para apontar como as cidades devem se preparar para aliviar os efeitos das mudanças climáticas.
“Negacionismo nos torna vulneráveis à catástrofe”
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A Tribuna- Ao longo da sua carreira, o senhor já vivenciou um período em que vozes contrárias à ciência ganhassem tanta projeção?
Carlos Nobre- Quando a ciência começou a mostrar o risco da mudança climática, nos anos 1990, havia muito negacionismo. Ao longo das décadas, isso mudou.
O problema é que, nos últimos 10 anos, houve crescimento do populismo político. Esses políticos foram eleitos e são negacionistas. Há um risco com esses políticos sendo continuamente eleitos e reeleitos, isso pode ser um risco gigantesco para o planeta. O negacionismo nos torna mais vulneráveis à catástrofe climática.
O Espírito Santo pode ser um dos estados mais afetados por esses eventos climáticos extremos?
Em uma cidade costeira como Vitória, parte da população vive muito próxima do nível do mar. A estimativa é de que vamos ter ressacas de um metro e meio, de três metros, até cinco metros.
Qualquer lugar costeiro, principalmente os que não estão longe de tempestades oceânicas, está mais vulnerável.
O Espírito Santo tem um enorme dever de fazer uma grande restauração da Mata Atlântica. Com isso, a intensidade dos eventos extremos de chuva, deslizamentos, inundações e ondas de calor vai diminuir. É necessário, ainda, tirar milhares de capixabas das áreas de risco.
É importante olhar os desastres com recorte racial?
As populações vulneráveis são as que têm a menor emissão dos gases poluentes e, contudo, são as que mais sofrem. No Brasil, temos uma maioria de população pobre, com muitos negros e pardos. Essas pessoas são as que mais sofrem com os eventos climáticos extremos.
A África emite só 5% de gases poluentes no mundo, mas tem os povos mais vulneráveis a tais eventos. Podemos chamar isso de um racismo ambiental.
O que pode ser feito
Mapeamento das áreas de risco
Para o planejamento de ações preventivas e emergenciais relacionadas aos efeitos da crise climática, as cidades devem fazer o mapeamento das áreas de risco, com determinação das áreas que não podem ser habitadas devido aos possíveis futuros problemas, como deslizamentos e enchentes de rios, por exemplo.
Definição de medidas preventivas
Medidas preventivas, como a elaboração de protocolos de ação, a previsão de eventos climáticos extremos e o estabelecimento de medidas de recuperação, são fundamentais para a preparação das cidades para a emergência climática. As medidas incluem soluções baseadas na natureza, como a restauração no entorno de mananciais, e soluções convencionais, como a readequação da rede de drenagem urbana.
Limpeza periódica de canais e “bocas de lobo”
Limpeza periódica de canais e de bocas de lobo, conhecidos popularmente como bueiros, previnem inundações e entupimentos, garantindo que as águas da chuva não sejam obstruídas por materiais descartados irregularmente.
Plano de Gestão de Resíduos Sólidos
A elaboração e a execução correta do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos garante que a caracterização, a segregação, o transporte, o tratamento, a recuperação e a eliminação de resíduos ocorra de forma adequada, minimizando riscos e impactos ambientais.
Políticas de habitação
A elaboração e execução de políticas voltadas a garantir a melhoria das condições de habitação da população, com foco na desmobilização dos moradores que vivem em áreas de riscos e encaminhamento para moradias populares.
Plano de Arborização Urbana
A formulação e execução de Planos Municipais de Arborização Urbana, com medidas como a implantação de corredores verdes em áreas de grande contingente populacional e fluxo viário, por exemplo.
Fonte: Especialistas consultados.
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