Como as alterações no clima vão mudar a saúde e o dia a dia
Especialistas alertam para o desenvolvimento de doenças de ordem infecciosa, alérgica e psiquiátrica
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Queimadas, chuvas extremas, períodos de seca intensa e ondas de calor. Os eventos parecem contrastantes, mas possuem a mesma causa: são sinais da crise climática provocada pelas atividades humanas sobre o meio ambiente. Especialistas já alertam que o problema pode mudar a saúde e o dia a dia nos próximos anos.
As mudanças climáticas favorecem o desenvolvimento de vários tipos de doenças de ordem infecciosa, alérgica e psiquiátrica, aponta o infectologista da Rede Meridional Luis Henrique Borges.
“Entre as doenças infecciosas, aquelas que são dependentes de vetores podem aumentar, visto que o calor excessivo ou o excesso de chuvas podem aumentar a proliferação de mosquitos, carrapatos e percevejos. Isto pode aumentar as prevalências de dengue, chikungunya, zika, malária, filariose, febre amarela e doença de Lyme”.
Doenças de pele podem se tornar mais comuns nas próximas décadas, projeta a dermatologista Karina Mazzini.
Ela explica que o clima mais seco, provocado por períodos de pouca chuva, pode ressecar mais a pele.
“Isso pode potencializar várias doenças dermatológicas, como os eritemas, as micoses, a urticária e as dermatites em geral. Então, a tendência é que piore a saúde da pele, causando uma tendência a aumentar essas doenças. As mudanças do clima já estão interferindo na saúde dos brasileiros”.
O biólogo e mestre em Biologia Animal Daniel Gosser Motta analisa que uma reversão nos efeitos das mudanças climáticas depende do fomento de várias políticas públicas e de ações para melhorar o microclima local, como o uso sustentável da água na agropecuária, a recuperação de áreas degradadas e a universalização do saneamento.
Ele aponta que os efeitos na saúde humana, na economia e no cotidiano afetarão mais alguns públicos do que outros.
“As pessoas em maior vulnerabilidade social serão as mais impactadas negativamente com a escassez de água, principalmente as mulheres, que na maioria das comunidades são as responsáveis pela coleta de água”.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As mudanças climáticas são transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima. As atividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
As mudanças climáticas impõem riscos associados à saúde e podem transformar hábitos em diversas áreas de atuação humana, como a economia, a agricultura e as condições de trabalho, por exemplo.
SAÚDE
Doenças respiratórias, como a asma, por exemplo, serão mais comuns. Isso acontece devido ao aumento nas queimadas de biomas brasileiros, à queima de combustíveis fósseis e à frequência de mudanças bruscas de temperatura. Alguns biomas sofrem, inclusive, risco de desaparecimento.
Pode haver maior propagação de doenças transmitidas por vetores, como a dengue, a malária, a leishmaniose e outras arboviroses, ou seja, doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos.
Os riscos à saúde mental não são descartados. Diagnósticos de ansiedade e de depressão podem se agravar por efeitos das mudanças climáticas na estabilidade emocional e psicológica. Estudos já apontam, até mesmo, o risco de aumento de suicídios.
As frequentes ondas de calor aumentam o risco de morte por doenças cardíacas, além da maior propensão ao desenvolvimento de câncer de pele.
O aumento das enchentes em áreas urbanas favorece a transmissão de doenças como a leptospirose, as hepatites virais e as doenças diarreicas.
COTIDIANO
Um estudo recente aponta que a economia global pode enfrentar uma diminuição de renda em cerca de 19%, até 2050, devido aos efeitos das mudanças climáticas.
Aumento do desemprego, maior estresse hídrico, alta no custo de vida, novas epidemias e aumento no custo da energia elétrica estão entre outros impactos para o dia a dia.
Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU), Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK), Fiocruz e especialistas consultados.
“Prejuízos podem ser irreversíveis”, Carlos Nobre - climatologista
- A Tribuna - Pesquisadores apontam que 74 milhões de brasileiros podem sofrer com a falta de água e a seca. Quem será o mais afetado?
Carlos Nobre - As pessoas pobres serão as mais afetadas porque são aquelas que enfrentam mais dificuldade frente ao problema. O preço dos alimentos deve subir e o fornecimento de água será afetado, por exemplo.
- Qual região do Espírito Santo tende a sofrer mais?
O norte do Espírito Santo. Isso pode modificar muito o que ainda resta de Mata Atlântica naquela região, que pode virar quase um semiárido, um clima de savana, com estação seca muito longa.
- Esse cenário é reversível?
Infelizmente, não. Os efeitos das mudanças climáticas podem ser irreversíveis. A exceção é em uma escala de tempo até o final do próximo século, considerando que os gases que emitimos na atmosfera, principalmente o gás carbônico, podem ficar durante muito tempo no ar.
- Há regiões que podem ficar inabitáveis até o fim do século?
Se realmente perdermos o controle do aquecimento global, podemos perder a floresta Amazônica, descongelar o solo congelado da Sibéria e aumentar a temperatura do planeta em 4ºC até o final do século. Grande parte do planeta pode ficar inabitável no verão, incluindo a cidade do Rio de Janeiro, que ficaria inabitável por mais de 300 dias por ano. No Brasil, a região Sul seria a mais afetada.
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