Cientistas desenvolvem técnica para esterilizar gatas sem cirurgia
Os pesquisadores começaram a estudar o AMH anos atrás e, em 2017, publicaram um artigo mostrando o potencial contraceptivo do hormônio em roedores
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Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram uma técnica para esterilização de gatas sem a necessidade de cirurgia. O estudo, publicado na terça-feira (06) na revista Nature Communications, mostra que é possível evitar a gestação nesses animais utilizando terapia gênica.
No artigo, 21 cientistas do zoológico de Cincinnati, da Escola de Medicina de Harvard e da Universidade de Massachusetts contam que a esterilização ocorreu pelo aumento dos níveis de hormônio anti-Mülleriano (AMH, em inglês), produzido pelos ovários de fêmeas de diferentes espécies.
O grupo começou a estudar o AMH anos atrás e, em 2017, publicou um artigo mostrando o potencial contraceptivo do hormônio em roedores. De lá para cá, com o apoio de fundações de proteção a cães e gatos, os pesquisadores voltaram a atenção para os felinos.
Segundo os cientistas, 80% da população mundial de gatos, estimada em 600 milhões, vive livre, e embora a castração seja a prática habitual de controle, há necessidade de alternativas de contracepção mais eficientes, seguras e com bom custo-benefício.
"A esterilização cirúrgica [castração] é um modelo difícil de alcançar em larga escala porque a cirurgia requer anestesia geral, uma sala de cirurgia devidamente equipada e mais veterinários do que há atualmente", disse o pesquisador Bill Swanson em entrevista divulgada pelo zoológico de Cincinnati.
Para aumentar os níveis de AMH, a equipe empregou um vetor viral com uma versão modificada do gene responsável pela expressão do hormônio em gatos.
"Uma única injeção do vetor da terapia gênica fez com que os músculos das gatas produzissem AMH, que normalmente é produzido apenas nos ovários, e elevou o nível geral de AMH em cerca de 100 vezes", comentou em nota David Pépin, professor em Harvard e também autor do artigo.
O impacto da terapia foi avaliado a partir da observação de nove gatas: três do grupo controle e seis que receberam a injeção com duas doses diferentes.
Por duas vezes, as fêmeas foram colocadas na companhia de um macho ao longo de quatro meses, e as interações foram monitoradas por vídeo.
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No primeiro teste, realizado entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, as três fêmeas do grupo controle engravidaram, dando origem a dez filhotes, ao passo que nenhuma fêmea dos outros grupos engravidou.
No segundo experimento, conduzido entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, novamente as três gatas sem tratamento geraram 11 filhotes, enquanto as gatas tratadas não engravidaram.
As fêmeas continuaram sendo monitoradas e agora estão disponíveis para adoção por moradores da região de Cincinnati, onde seguirão passando por avaliações de saúde.
De acordo com os cientistas, o aumento do nível de AMH barrou o desenvolvimento dos folículos ovarianos e a ovulação das fêmeas, mas não afetou hormônios importantes, como o estrogênio, nem causou efeitos adversos.
Os pesquisadores destacaram, porém, que são necessários mais estudos, com um número maior de gatas, para avaliar o efeito contraceptivo do tratamento.
Também lembraram que a terapia gênica ainda é recente e que não há estrutura para a produção de doses em quantidade suficiente para esterilizar milhões de animais.
"Nossa meta é mostrar que a contracepção permanente, segura e eficaz em animais de estimação pode ser alcançada usando terapia gênica", disse Pépin. "Esperamos que, conforme a capacidade de fabricação de vetores virais for aumentando com a popularização da terapia gênica em humanos, se torne factível ofertar essa forma de contracepção para controlar populações de gatos abandonados."
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