Capixabas se arriscam no deserto para entrar nos EUA
Junto com centenas de brasileiros, eles se arriscam para atravessar todos os dias, de forma ilegal, a fronteira americana
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Em uma jornada onde a única certeza é o ponto de partida, capixabas ainda se arriscam para atravessar o deserto e realizar o sonho de chegar aos Estados Unidos.
Junto com centenas de brasileiros, eles se arriscam para atravessar ilegalmente a fronteira entre EUA e México diariamente, enfrentando temperaturas extremas e escassez de água e comida, o que leva à desidratação, causando danos ao organismo e podendo levar à morte.
“As pessoas que atravessam a fronteira pelo deserto não têm condições de levar a quantidade de água e comida que seriam ideais para a sobrevivência”, disse Jessica Melo, paralegal (profissional de ciência jurídica) especialista na área de imigração, CEO do escritório Legally&Co Immigration.
Ela reforça: “Quem consegue completar a travessia, chega ao destino com a saúde física e mental bastante debilitada. Alguns demoram para se recuperar e outros não se recuperam 100%”.
No Brasil, os capixabas contam com a ajuda dos chamados intermediários. “Existe a pessoa que quer cruzar a fronteira de forma ilegal e existem os coiotes (criminosos que fazem a travessia). Essas pessoas não têm acesso direto aos coiotes. Eles fazem o contato através de uma pessoa que faz essa intermediação”.
Os valores, segundo Renata Rocha, que também é paralegal especialista na área de imigração e CEO do escritório Legally&Co Immigration, podem chegar a US$ 20 mil (cerca de R$ 100 mil).
Em uma outra modalidade de entrada ilegal nos Estados Unidos, conhecida como “cai-cai”, a Polícia Federal fez nesta segunda uma operação contra um grupo de migração ilegal, que levou 250 brasileiros aos Estados Unidos.
O grupo criminoso se beneficiava financeiramente da migração ilegal. No esquema, conhecido como “cai-cai”, a pessoa vai acompanhada de um parente menor de idade, entrega-se às autoridades americanas e é liberada para responder ao processo em liberdade.
Cerca de 100 crianças e adolescentes foram usados no esquema de migração ilegal. Segundo as investigações, a quadrilha orientava imigrantes a viajarem com menores, falsificando a documentação para comprovar o parentesco.
Os interessados pagavam até US$ 25 mil (R$ 125 mil) aos coiotes para terem a chance de atravessar a fronteira, passando pelo deserto. Os suspeitos ameaçavam parentes das vítimas quando não era paga a quantia combinada para a viagem.
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Entrada nos Estados Unidos
Mesmo com reforços na fiscalização e restrições, a entrada ilegal nos Estados Unidos ainda é o caminho escolhido por brasileiros para realizar o sonho de viver em solo americano.
Travessia
Entre as formas de chegar ao local, está atravessar a fronteira com o México, muitas vezes de modo arriscado com a ajuda de atravessadores, conhecidos como coiotes.
Muitos continuam atravessando o deserto escondidos, pulam cercas e muros e cruzam rios de barco.
Cai-cai
Outra estratégia é pelo sistema conhecido como “cai-cai”, em que a pessoa vai acompanhada de um parente em primeiro grau menor de idade, entrega-se às autoridades americanas e é liberada para responder ao processo em liberdade.
Há esquemas ilegais em que os “coiotes” ajudam a falsificar documentos de menores de idade para entrar junto e conseguir o benefício de aguardar em liberdade.
Há também quem se entrega sozinho aos agentes americanos para fazer uma solicitação formal de asilo. Nesse caso, é comum usar táticas como a alegação de que o solicitante está sendo ameaçado de morte no Brasil ou foi torturado.
Operação
Nesta segunda, uma operação batizada de Terminus, da Polícia Federal de Minas Gerais, foi deflagrada para combate à migração ilegal.
Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão; três de prisão preventiva e um de prisão temporária em Engenheiro Caldas, Piedade de Caratinga e Belo Horizonte (MG), além de Guarulhos (SP).
Os suspeitos responderão pelos crimes de promoção de migração ilegal, inclusive de criança ou adolescente, e associação criminosa. A pena pode chegar a 14 anos de prisão.
Como era o esquema
Cerca de 100 crianças e adolescentes foram usados em um esquema de migração ilegal do Brasil para os Estados Unidos.
A quadrilha orientava imigrantes a viajarem com menores, falsificando a documentação para comprovar o parentesco e, assim, conseguirem entrada facilitada no país. Mais de 150 imigrantes aceitaram a fazer parte do esquema.
Os interessados pagavam até US$ 25 mil para os “coiotes” para terem a chance de atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos. Em seguida, eles se entregavam aos agentes do Departamento de Proteção de Fronteiras, no “cai-cai”.
Com as crianças, a entrada poderia ser facilitada, já que os acusados respondem ao processo em liberdade.
Segundo a Polícia Federal, a quadrilha agia desde 2018.
A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 26 milhões dos suspeitos.
Fonte: Polícia Federal e pesquisa A Tribuna.
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