Capixabas relatam medo com alerta de tsunami no Japão
Um terremoto de magnitude 8,8 no mar próximo ao extremo leste da Rússia causou apreensão em países banhados pelo Pacífico
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Surpreendidos com alerta de tsunami, capixabas que estão no Japão relataram momentos de tensão e apreensão na região.
O alerta foi dado após um terremoto de magnitude 8,8 ter atingido o mar próximo à península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, na noite de terça-feira (horário de Brasília). Países banhados pelo Oceano Pacífico – entre eles o Japão – entraram em estado de alerta.
O tremor, considerado o mais forte desde 2011, não deixou mortos nem feridos até o momento, mas causou danos materiais em diversas localidades.
O médico oftalmologista capixaba César Ronaldo Filho, 46, estava de férias com a família no Japão quando recebeu o alerta. Ele viajava com a esposa, o filho, o pai e a sogra, e seguia de trem para Atami, um balneário a 100 km de Tóquio.
“Logo que chegamos à estação de Atami, às 10 horas, recebemos um alerta no celular, todo em japonês. Tive curiosidade de usar o tradutor e vi que era um alerta de tsunami. Dizia que haveria ondas de até 3 metros às 11h30”.
Segundo ele, não houve pânico entre a população, mas a praia e a orla estavam desertas. “O taxista avisou que a praia estava fechada e que deveríamos ir a uma área mais alta. Ficamos em um ponto elevado”.

Pelo site do órgão japonês, que seria equivalente à Defesa Civil, o médico passou a acompanhar as informações. “Toda a costa leste estava em alerta máximo. Esperamos o alerta passar, por volta das 13h, para descer e voltar à estação.”
Ele relatou a apreensão. “A gente não está acostumado com isso e temos aquela imagem do tsunami que destruiu tudo”. Porém, César disse que a cidade parecia estar preparada para o alerta, o que fez com que tudo fosse tranquilo.
“Às 13h, a estação de trem estava funcionando normalmente. Apenas alguns trens para o norte foram suspensos. Quando voltamos a Tóquio, tudo estava normal”.
Segundo ele, as TVs mantinham a cobertura constante e o alerta foi sendo gradualmente suspenso. “Às 21h30, só o norte ainda estava em alerta máximo. Agora, tudo está em amarelo. Conseguimos aproveitar o passeio. Só não deu para ir à praia.”
Chef conta drama em navio com 490 pessoas
A cerca de 37 km da costa do Japão, o chef capixaba Victor Ferri, 34, é o único brasileiro a bordo do Villa Vie Odyssey, o primeiro navio de cruzeiro residencial do mundo, que neste momento navega por uma das regiões afetadas pelo tsunami originado no Pacífico.
Com chegada prevista ao Japão no próximo dia 6 de agosto, o navio, que abriga 270 residentes e 220 tripulantes, navega a uma distância considerada segura, mas que não elimina a tensão.
A região onde se encontra é uma das mais sensíveis ao recente terremoto de magnitude 8,8 registrado na península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia.

Para completar, uma tempestade de grandes proporções também se aproxima. “Estamos no epicentro do mapa de ondas e ventos. Isso assusta, nos deixa apreensivos. O navio está em boas condições, mas é uma embarcação antiga. Ainda assim, confiamos no comandante e sabemos que, por mais estranho que pareça, aqui no mar estamos mais seguros do que atracados em um porto”, afirma.
Victor diz que está calmo, apesar das circunstâncias. Recebeu ligação da família e de colegas, especialmente os filipinos e havaianos, que têm familiares próximos de áreas afetadas.
“Desde ontem, toda a embarcação foi preparada para o possível impacto das ondas. Como tripulantes, temos funções além da nossa área. Atuamos ativamente nas questões de segurança. Todos os navios atracados na região também foram orientados a se afastar e ir para águas internacionais. Aqui, estamos em zona de menor impacto, preparados para enfrentar o que vier”.
Ondas gigantes e terremoto podem impactar o Estado?
O alerta de tsunami que mobilizou países do Pacífico, após um terremoto de 8,8 de magnitude, acendeu a curiosidade do outro lado do mundo: será que o Estado pode sofrer algum impacto?
Apesar do impacto das ondas em regiões como Japão, Havaí e Califórnia, a doutora em Geologia e Professora da Ufes Luiza Leonardi Bricalli explica que não há ameaça. “Embora o terremoto de magnitude 8,8 tenha sido um dos mais intensos das últimas décadas, os efeitos diretos não alcançam o litoral brasileiro, especialmente o Espírito Santo”.
Ela destacou que o Estado está a cerca de 15 mil quilômetros – em linha reta: distância geodésica – do local do tremor, separado pelo Oceano Pacífico e pelo continente sul-americano. “A energia das ondas sísmicas e de um eventual tsunami dissipa-se ao longo de grandes distâncias”.

Ela ressaltou que esse tipo de terremoto, apesar de extremamente potente, ocorreu em uma região do chamado Círculo de Fogo do Pacífico, uma área tectonicamente muito ativa, mas distante da margem atlântica sul-americana.
“O Brasil, por estar localizado no interior da placa tectônica Sul-Americana e afastado dos limites de placas tectônicas – como a do Pacífico –, não está sujeito a terremotos de grande magnitude nem à formação de tsunamis locais”.
Ela ainda enfatiza que, para que terremoto provoque um tsunami, algumas condições geológicas e geográficas específicas precisam estar presentes, como ocorrer no fundo do mar ou muito próximo a ele.
“Além disso, deve haver deslocamento vertical do fundo marinho. Outra condição necessária é a magnitude do terremoto, geralmente acima de 7,0”.
Outro ponto, segundo a professora, é que quanto mais raso, maior o risco de tsunami. “Terremotos com foco raso – menos de 50 km de profundidade – têm mais capacidade de movimentar o fundo do mar com força”.
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