Câncer de mama atinge mais de mil mulheres com menos de 40 anos
Casos de câncer de mama já atingem mais de mil mulheres com menos de 40 anos no Estado. Muitos não têm origem genética
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Um estudo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo aponta que 21% dos diagnósticos de câncer de mama em 2020 foram em mulheres com menos de 40 anos.
No Estado, se somados os casos desde 2019 até 15 de setembro deste ano, segundo dados do Painel Oncologia do Ministério da Saúde, são 5.490 diagnósticos de câncer de mama no total, sendo 1.152 na faixa abaixo dos 40 anos, considerando o percentual da pesquisa.
Segundo o Ministério da Saúde, ter esse tipo de tumor é relativamente raro antes dos 35 anos, mas, acima desta idade, sua incidência cresce progressivamente, chamando a atenção dos médicos.
A Sociedade Brasileira de Mastologia, aponta que houve um aumento da incidência da doença entre mulheres mais jovens, antes dos 35 anos, chegando a 5%, sendo antes observado em apenas 2%.
“Agora é frequente mulheres jovens fazendo o tratamento. Antes eram mais os casos de câncer genético, mas agora aumentou os não relacionados à genética também”, destaca a oncologista Kitia Perciano.
A médica aponta que, nessas mulheres, como não há um exame de rastreio anual, os casos podem ser diagnosticados em estágios mais avançados. “O fato também se deve às mulheres jovens terem maior quantidade de tecido glandular, o que dificulta verem nódulos na mamografia, além da baixa suspeição mesmo entre médicos”.
O oncologista Luiz Gustavo Berriel, da Rede Meridional, ressalta que não há motivos exatos que possam explicar os casos de mama em mulheres mais jovens.
Ele observa que nessas mulheres, os tumores costumam ser mais agressivos.
“Não é comum em idades mais jovens, e pode haver algo na genética que esteja facilitando para o câncer. Não há uma causa exata, mas os hábitos de vida podem estar interferindo. A população está mais obesa, as pessoas se alimentam mal, sendo que as frutas, verduras e legumes têm efeito protetor”, diz Luiz Gustavo Berriel.
A mamografia ainda é o exame mais indicado para o diagnóstico de câncer de mama, mas não é indicado, de forma rotineira, para mulheres abaixo dos 40 anos.
“Nessa faixa etária não é um bom método diagnóstico, por causa da mama ser muito densa e não oferece uma boa nitidez pela mamografia. O que temos feito são em pacientes com risco maior de desenvolver câncer de mama, como história familiar”, explica o mastologista Marcos Ceccato.
Descoberta do câncer aos 24 anos
Foi aos 24 anos que a bióloga Camila Sixel, hoje com 36 anos, descobriu um câncer na mama.
A descoberta, porém, só veio depois de três anos da doença já estar instalada, já que tinha marcadores tumorais muito elevados (quando a pessoa tem câncer em estágio avançado esse medidor fica elevado).
Segundo a bióloga, ela é o primeiro caso de câncer de mama na família.
“Em 2012, eu senti um nódulo na minha mama esquerda. Na época fui na minha ginecologista, ela me passou uma ultrassonografia e pediu para eu ir acompanhando, já que nada chamou atenção dela”, conta.
Em 2014, Camila sofreu um acidente de moto, ficou um ano tratando a lesão no pé, o que também atrasou o diagnóstico.
Em 2015, ela fez uma nova ultrassonografia, seguida de uma biópsia, que acusou o carcinoma. Foi nesse ano que iniciou seu tratamento. Passou por duas cirurgias e se curou. Camila conta que seu sonho era ser mãe, mas tinha dificuldade para engravidar, por ter ovário policístico. A doença ainda trouxe o medo de ficar infértil.
Mas, quatro anos após terminar o tratamento, o oncologista que a acompanhava, retirou a medicação que bloqueava os hormônios. Sete meses depois ela voltou a ter ciclo menstrual e engravidou. A bióloga afirma que passou bem pela gravidez e hoje curte com saúde o seu filho, Allan, de 1 ano e sete meses.
Descoberta por acaso | “Saúde em primeiro lugar”
Foi ao deitar para assistir a uma série no celular, no final de maio deste ano, que a advogada Livia Marcia Nascimento, de 34 anos, sentiu um nódulo em sua mama.
“Enquanto uma mão segurava o celular, com a mão direita eu apoiei a mama, nisso senti o caroço. No dia seguinte eu procurei um mastologista e ele pediu exames, onde iniciei a busca pela descoberta do diagnóstico, que veio em junho”.
Sem casos de câncer de mama na família, Livia fez um teste genético para tentar identificar a causa.
Em tratamento, ela conta com o apoio da família e do cão que é de seu sobrinho. “A gente prioriza tanta coisa, mas a saúde tem de ser em primeiro lugar. Nós, mulheres, nos preocupamos com o cabelo, corpo, mas, às vezes, esquecemos de priorizar a saúde. O câncer de mama não tem mais idade”.
Fique por dentro:
Câncer de mama
Somente em 2022, o Estado teve, em média, quatro casos de câncer de mama diagnosticados por dia.
Foram 1.443 diagnósticos, segundo dados do Painel Oncologia do Ministério da Saúde, fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Ano do diagnóstico
2019: 1.089.
2020: 996.
2021: 1.286.
2022: 1.367.
2023: 676 (até 15 de setembro).
Total: 5.167.
Doença
Câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma. O câncer de mama responde, atualmente, por 28% dos casos novos em mulheres.
Possíveis motivos para aumento de casos
Além das causas genéticas, especialistas apontam o aumento das pessoas acima do peso, maior consumo de alimentos industrializados e comprovadamente cancerígenos, menos atividade física, estresse, menos fé, uso indiscriminado de medicamentos como hormônios e antibióticos e poluição.
Fonte: Ministério da Saúde, Sesa e especialistas consultados na reportagem.
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