Cais das Artes no ES é joia de arquiteto premiado
Projeto é de Paulo Mendes da Rocha, que foi um dos mais importantes profissionais da área do País
Escute essa reportagem
Além da expectativa de incluir o Espírito Santo no calendário cultural do País, o Cais das Artes ainda é considerado uma “joia” de um dos maiores arquitetos e urbanistas do País.
Colecionador de prêmios por todo o mundo, o capixaba Paulo Mendes da Rocha foi o idealizador da obra na Enseada do Suá, em Vitória, que se somará ao legado deixado por ele. O arquiteto morreu em 2021.
O complexo cultural Cais das Artes é composto por três edificações. A mais alta delas será um teatro, com capacidade para 1.300 pessoas.
Ao lado, fica o museu, que tem ainda um prédio administrativo anexo a ele.
Apesar do aspecto fechado das construções, cada detalhe foi pensado por Paulo Mendes da Rocha com uma finalidade.
O arquiteto coordenador do projeto do Cais das Artes, Martin Corullon, explicou que Paulo sempre teve fascínio pela obra e pela região em que estava.
“Trabalhamos juntos por muito tempo. A ideia dele era criar uma grande praça pública em que as pessoas pudessem ir até a beira do mar sem impedimento. Ele pensou em tudo para que a vista fosse preservada”.
Corullon revelou que, para isso, as edificações são suspensas. “Apesar do grande porte da obra, as construções são elevadas do chão e com poucos apoios, para criar leveza e permitir o uso térreo e a visualização do mar”.
Ele destacou ainda que, apesar desse aspecto “monolítico”, de um bloco, o Cais das Artes permite uma experiência completamente diferente para quem está do lado de dentro.
“De dentro para fora há muitas aberturas horizontais que 'recortam' a paisagem. Na parte inferior do teatro também tem uma parte que Paulo gostava muito, que é um espaço para bar ou restaurante na beira do mar. Como os pilares entram na água, é possível entrar com embarcação e ir ao restaurante.”
O arquiteto e urbanista Pedro Mendes da Rocha, filho de Paulo, avalia que não tinha como o complexo cultural não ser “fechado”.
“Um museu e um teatro são construções que precisam ser uma caixa cega para controlar som e luz. Imagina o barulho de navio passando em um Rigoletto (ópera). Ou imagina ter o sol entrando em uma exposição itinerante de um Van Gogh. O complexo foi idealizado para grandes espetáculos”.
Ele pontuou que o museu tem uma parede inclinada em vidro, voltada para baixo.
“Essa foi uma ideia muito bonita. Traz para dentro do museu o visual, a água e as pessoas passando. Além disso, meu pai pensou em captar a luz rebatida do chão, diminuída”.
““A ideia de Paulo era criar uma grande praça pública que as pessoas pudessem ir até a beira do mar sem impedimento” Martin Corullon, coordenador do projeto do Cais das Artes
Nasceu em Vitória, em 1928.
É um dos arquitetos e urbanistas brasileiros mais importantes, reconhecido e premiado internacionalmente por suas obras.
Ganhou prêmios como o Mies Van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana.
Em 2006, ganhou o Pritzker, considerado o “Nobel da Arquitetura”.
Em 2010, recebeu o prêmio Arquiteto do Ano, da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas.
Em 2016, venceu o prêmio Leão de Ouro, da Bienal de Veneza, Itália, na categoria Arquitetura, pelo conjunto da obra. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Imperial do Japão.
Um ano mais tarde, em 2017, ganhou a medalha Ouro Real, do Royal Institute of British Architects (RIBA).
Morreu em 2021, de câncer.
União do amor pelo mar e da técnica da arquitetura A admiração pelo mar e pela cidade em que nasceu fez com que o projeto do Cais das Artes fosse especial para o arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha. A filha do arquiteto, a cineasta Joana Mendes da Rocha, contou que terminar a obra é importante para a população e como herança do trabalho do pai.
“É um projeto em que eu vejo ele colocando em prática o pensamento dele a respeito da arquitetura e da engenharia e sua admiração pelo mar. O fato dele ter colocado os pilares dentro do mar é um exercício da técnica, do conhecimento, dominando a natureza”.Para Joana, o projeto do Cais das Artes é de uma beleza única.
“Ele foi projetado com uma abertura na parte inferior que permite quem está na rua ver o mar. A parte de baixo do complexo é uma grande praça. Esses espaços públicos eram o que mais ele gostava de fazer. Para as pessoas terem um novo olhar sobre aquele lugar. ”O arquiteto e urbanista Pedro Mendes da Rocha, filho de Paulo, também falou sobre o carinho do pai pela cidade.
“Ele sempre comentava que era uma região que ele passava quando 'moleque', de calça arregaçada e chapéu, nas regiões de pedra. Ele pensou muito ao projetar algo tão perto do mar. Ele tinha fascínio pelo mar e pelas embarcações”, revelou.
Comentários