Brasileiros estão trocando refeições por coxinha e pastel para economizar
Salgados têm substituído o prato tradicional de comida dos brasileiros devido à crise econômica que afeta o país desde 2020
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Aos poucos, desde 2020, as refeições foram se deteriorando: primeiro, a carne foi substituída por embutidos; depois, sumiu dos pratos; agora, o cenário é ainda mais apavorante: a coxinha, o quibe e o pastel já substituem o arroz, o feijão e a carne no dia a dia dos trabalhadores.
A constatação foi feita pela consultoria Kantar, que monitora o consumo de alimentos e bebidas fora de casa nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre.
De acordo com a pesquisa, em 2022, foram vendidos 170 milhões de salgados a mais do que em 2019, antes da pandemia, enquanto o consumo de refeições, como arroz, feijão e carne, diminuiu em 247 milhões de unidades.
A nutricionista e doutora em Saúde Coletiva Polyana Romano relembra que a insegurança alimentar aumentou vertiginosamente por conta da pandemia da covid-19.
"Não é uma troca saudável, podendo causar vários problemas de saúde, como aumento do colesterol, diabetes e hipertensão. Os lanches não fornecem os nutrientes necessários para a saúde, apenas calorias vazias e, em sua maior proporção, carboidratos simples e gordura".
Para o mestrando em Políticas Públicas na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e consultor do Tesouro Estadual, Eduardo Araújo, é necessário que se invista não só em políticas de assistência social para as famílias carentes: para reverter este cenário da insegurança alimentar, o País necessita de reformas econômicas estruturais.
"Há uma combinação de fatores, com o desemprego e a desaceleração da economia brasileira, nos últimos anos, como principais motivos. Precisamos de uma política pública ativa para garantir a assistência social e, também, de políticas para a prosperidade econômica, como a reforma tributária".
Desde 2015, o Brasil voltou para o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), com um agravamento do problema na pandemia: 33,1 milhões não têm garantido o que comer, aponta o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de covid-19.
SAIBA MAIS
Pesquisa
- Os trabalhadores estão substituindo refeições com arroz, feijão e carne, por exemplo, por salgados prontos, como coxinha, pastel e quibe. Em 2022, de acordo com pesquisa, foram vendidos 170 milhões de salgados a mais do que em 2019, antes da pandemia, enquanto o consumo de refeições, como arroz, feijão e carne, diminuiu em 247 milhões de unidades.
- Outro estudo demonstrou que os salgados prontos correspondiam a 11% dos alimentos e bebidas consumidos fora de casa em 2019, enquanto em 2022 a porcentagem alcançou 15%. Em contrapartida, as refeições encolheram: de 7% para 4% no mesmo período.
- A substituição foi puxada pelas classes sociais C, D e E.
- Em 2022, 33,1 milhões de pessoas não tinham garantido o que comer, o que representa 14 milhões de brasileiros a mais vivenciando a situação.
- Mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave.
Fonte: Kantar, Consumer Insights e Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de covid-19 no Brasil.
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