Aventuras e descobertas do Indiana Jones do Estado
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Um dos mais conhecidos arqueólogos do Espírito Santo é Celso Perota. Com um espírito de “Indiana Jones”, personagem do cinema imortalizado pelo ator Harrison Ford, ele está ligado a importantes descobertas históricas capixabas.
São os casos dos esqueletos de 4.500 anos encontrados na Gruta do Limoeiro, em Castelo, e do estudo das Ruínas do Rio Salinas, em Anchieta.
Natural do Paraná, Celso conta que a decisão de atuar nesta profissão surgiu na adolescência. Depois, quando era estudante de História, recebeu convite do professor de Antropologia e de um arqueólogo e começou a estagiar no laboratório da Universidade Federal do Paraná.
Ele chegou ao Espírito Santo em 1968 para atuar no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). No Estado, trabalhou em um sítio arqueológico perto da Usina de Rio Bonito, em Santa Leopoldina, onde foram encontradas peças de 8.500 anos.
Um dos trabalhos de maior repercussão foi a escavação na Gruta do Limoeiro, em 1969, quando ele e sua equipe descobriram o esqueleto de um indígena sepultado há 4.500 anos. Foram três meses de pesquisa.
“Trabalhamos setembro, outubro e novembro. Em dezembro, tivemos que parar devido às fortes chuvas de 1969. Quando retornamos, chovia dentro da gruta. Caía muita água do teto”, relembrou.
A partir dos achados da equipe, a gruta ficou famosa em todo o País como um dos principais sítios arqueológicos do Estado.
Em 2012, a Prefeitura de Castelo e o Estado construíram uma estrutura de visitação, com guias conduzindo os visitantes.
Diretora da Associação Turística Gruta do Limoeiro, Lúcia Helena Ambrosim era secretária de Turismo e Cultura na época. “Celso é um dos grandes responsáveis pela gruta hoje estar recebendo turistas do mundo inteiro. Foi em função das pesquisas feitas ali”, destacou.
Atualmente, com 77 anos, Celso não segue mais o mesmo ritmo de quando era jovem, mas ainda dá consultorias para a condução de estudos arqueológicos em projetos de licenciamento ambiental.
“Sem dúvida é um dos maiores nomes, senão o maior nome da arqueologia no Estado”, destacou o historiador e secretário de Cultura de Itapemirim, Luciano Retore Moreno.
Mais de 500 sítios arqueológicos
O Espírito Santo é repleto de sítios arqueológicos. De acordo com Celso Perota, são pelo menos 500 registrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fora os que ainda precisam ser estudados.
Alguns são bem antigos, como o sítio no Vale do Rio Bonito, entre Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, com achados de 8.400 anos, datados por meio de testes com carbono 14.
Outro sítio datado com carbono 14 no Estado é da Serra de Gironda, em Vargem Alta, com peças de 7.500 anos. No local, pesquisadores do Museu Nacional, do Rio de Janeiro, encontraram, na década de 1960, ossos de uma preguiça gigante.
Nas proximidades das ruínas do Rio Salinas, em Anchieta, há vários sítios arqueológicos. O local, segundo levantamento de Celso Perota, já foi uma usina de produção de sal construída pelos Jesuítas no século 16 com trabalho indígena.
Com a saída dos jesuítas, foi construída no local uma usina de engenho de açúcar, que acabou se transformando nas ruínas existentes hoje.
“Ali são vários sítios arqueológicos, com camadas de ocupação que começaram com os indígenas, logo após com a chegada dos jesuítas. Depois, somente os indígenas novamente e mais tarde o pessoal do engenho de açúcar”, destacou.
Oito dias para limpar esqueleto
Quem já assistiu aos filmes de Indiana Jones pode ter a impressão que a arqueologia é uma profissão repleta de aventuras e perigos. Não deixa de ser verdade, mas o trabalho do arqueólogo também exige muita técnica e perseverança.
No esqueleto encontrado na Gruta do Limoeiro, em Castelo, por exemplo, a equipe de Celso Perota ficou limpando os ossos durante oito dias. Mesmo assim, parte do material se fragmentou ao ser retirado do solo.
“Ficamos oito dias limpando com pincelzinho para poder fotografar a peça. Depois de retirados, os ossos se fragmentaram. Mas há alguns em boas condições ainda”, explicou.
Segundo Celso, os ossos estão sob o cuidado do Iphan e, daqui a um tempo, serão levados para a Alemanha, onde serão submetidos a um processo moderno de datação, que não utiliza o carbono 14.
Com relação à idade das peças na gruta, Celso explica que a estimativa de 4.500 anos leva em conta a forma que os esqueletos estavam. “O indivíduo foi sepultado na posição fetal, como se estivessem no útero da mãe, uma prática funerária daquele período”, disse.
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