Arte indígena produzida no ES vai parar na Noruega
Criada em uma aldeia de Aracruz, a jovem tupiniquim Luiza Marques Santiago, de 15 anos, viu sua obra ser exibida no exterior
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Com tão pouca idade, a indígena Luiza Marques Santiago, de 15 anos, teve uma grande conquista: em dezembro do ano passado expôs um quadro na ArtCom Expo International, evento de artes que aconteceu na Noruega.
Jovem tupiniquim, ela encontrou nessa oportunidade uma forma de mostrar sua cultura para o mundo, algo que valoriza imensamente.
“Eu acredito que é importante a conscientização da cultura indígena para o mundo, principalmente aqui para o Brasil. Quero que as pessoas conheçam as origens do nosso País, da onde ele surgiu e toda a questão cultural. Quero que as pessoas olhem com outro olhar, vejam os povos originários como uma esperança e uma raiz. Quero também que as pessoas conheçam a cultura indígena e ajudem a preservá-la”, disse.
Luiza comentou que o processo para chegar até a ArtCom Expo International começou por meio da ação “Aluno Protagonista”, do Instituto Ponte, no qual ela faz parte como estudante.
Nessa ação, ela desenvolveu um projeto de tintas à base de terra de sua aldeia e organizou aulas de arte para crianças da escola municipal Indígena Caieiras Velha.
“No meio de todo o projeto e todas as ideias que foram surgindo na minha cabeça, eu criei várias obras feitas com essas tintas à base de terra, e uma delas chamou atenção de um homem que trabalhava em conjunto com uma curadora do Louvre, que me indicou participar da exposição”.
Com isso, a adolescente fez a inscrição no evento, montou um portfólio e escreveu uma autobiografia em inglês e português.
“Tive todo o cuidado e consegui ser aprovada. Foi uma grande surpresa para mim. Nunca imaginei que em algum momento da minha vida eu realizaria algo assim”, afirmou.
Luiza cresceu em uma aldeia em Aracruz, estudou em escolas do município e, com o suporte do Instituto Ponte, conseguiu uma bolsa para estudar o ensino médio na Escola Monteiro, localizada na capital. Ela se mudou para Vitória neste ano e todos os finais de semana visita a família.
A jovem comentou que ainda não tem uma profissão específica em mente, mas sabe que não importa qual escolha, a arte tem que estar junto dela.
“Ela é uma parte de mim, um membro do meu corpo que eu não conseguiria viver sem”.
“Quero mostrar a minha cultura”
Luiza Marques Santiago, indígena de 15 anos, teve uma obra exposta no ArtCom Expo International, evento de artes que aconteceu na Noruega em dezembro do ano passado. Ao jornal A Tribuna, ela contou sobre sua experiência, vida e origens.
A Tribuna- Qual foi o sentimento de ter sua obra exposta?
Luiza- Realização e surpresa. Nunca imaginei que em algum momento da minha vida eu realizaria algo assim, desse tamaho, que para mim foi gigante. E sinto muita gratidão pelas pessoas que me incentivaram a seguir com o projeto. Houve momentos em que pensei em desistir porque é difícil fazer tudo sozinha, ainda mais com 14 anos.
Você quer conscientizar a população sobre a cultura indígena?
Sim. Quero que olhem para nós e pensem: foram essas pessoas que sempre estiveram aqui. E tenham uma admiração pela nossa cultura, porque a nossa cultura é uma das bases de toda a cultura brasileira. É importante você saber de onde surgiu tudo o que você faz, todos os hábitos.
Quero que as pessoas conheçam a cultura indígena e ajudem a preservá-la, com todo esse movimento de tomada de terras.
Há pessoas que pensam: “tem que tomar mesmo, estão usando terras demais”. Mas não pensam no atrás, não pensam no que veio antes, ou não sabem porque não lhes foi mostrado, não lhes foi ensinado. Meu objetivo é causar conscientização também.
Você é da etnia tupiniquim, correto?
Sim. E uma curiosidade: o Espírito Santo é o único estado que tem indígenas da etnia tupiniquim. E só tem um município com essa etnia, que é Aracruz! O que causa o pensamento de: como esse povo que ocupava praticamente toda a costa do Brasil foi reduzido a esse ponto? É um assunto que gosto muito de comentar.
Você cresceu onde?
Eu cresci em uma aldeia indígena em Aracruz e moro lá. Vim para Vitória para estudar e fazer o ensino médio porque consegui uma bolsa de estudos na Escola Monteiro com o suporte do Instituto Ponte. E eu só tenho a agradecer. Vim para a capital ter mais oportunidades. Sempre estarei correndo atrás dos meus objetivos e das oportunidades que forem aparecendo.
Como concilia sua vida na aldeia com os estudos na capital?
Mesmo morando longe, vou para minha aldeia nos finais de semana. Sempre gosto de estar lá, é um ambiente que me acalma e me deixa mais tranquila. Quando volto para minha casa, minha aldeia, para minha cultura, eu sinto que posso ir além. Eu sinto forças. É como se fosse um carregador. Eles são minha bateria. Isso é incrível.
O que mais gosta na sua cultura?
Tudo na minha cultura me encanta, desde a língua até a dança. A música, o artesanato, as pessoas, o lugar, os hábitos. Minha cultura é extremamente rica e eu amo tudo!
Com tanto talento, você já sabe o que vai seguir de carreira? Será no ramo das artes?
Ainda não tenho uma profissão específica em mente, mas sei que não importa qual eu escolha a arte tem que ir junto comigo! Sinto que ela é uma parte de mim, um membro do meu corpo que eu não conseguiria viver sem.
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