Arquivo Público do ES reencontra documentos perdidos há mais de 30 anos
Instituição recebeu documentos sobre imigrantes de diferentes nacionalidades
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Em um mundo cada vez mais globalizado, onde a disseminação de informações ocorre de maneira rápida e praticamente instantânea no meio digital, os arquivos físicos municipais ou estaduais são vistos por muitos indivíduos apenas como blocos de papeis intermináveis. A verdade é que esses documentos têm grande importância tanto para a esfera pública quanto para a esfera jurídica, devendo contar com uma gestão documental eficiente para garantir a preservação dos mesmos.
Recentemente, o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo recebeu diversos documentos sobre imigrantes de diferentes nacionalidades, mas principalmente italianos. Além do acervo que pertence à instituição, foi encontrado o primeiro livro de registros de casamento da paróquia de Santa Teresa, de 1889, que agora está sob a guarda da diocese de Colatina e foram devolvidos outros três livros para a Biblioteca Pública.
Outros documentos que agora estão em posse do Arquivo Público do Estado é um livro, de 1887, contendo dados sobre os imigrantes onde hoje se localizam os municípios de Santa Teresa e São Roque do Canaã e uma lista com a relação dos colonos do Núcleo Demétrio Ribeiro. Um livro de Registros de Terras de 1854-1860, de Vitória; e um livro contendo os Registros das Correspondências entre o governo da Província do Espírito Santo com a diretoria do Aldeamento de Linhares. Este último, de 1828, ou seja, de 194 anos.
Além desses livros, o órgão também recebeu também uma lista de imigrantes do navio Clementina, de fevereiro de 1878; documentos avulsos contendo o registro dos membros de três famílias (Stato di famiglia); duas relações de imigrantes que enviaram cartas a seus parentes na Itália, um passaporte italiano e um mapa rodoviário de Itaguaçu.
Apesar de a maioria dos documentos serem de caráter probatório, testemunhal e informativo, os arquivos desempenham um papel fundamental para a preservação da história, dos costumes e tradições dos imigrantes no Estado. Isso porque alguns arquivos específicos contam a história daquela população até os dias atuais.
Esses documentos reúnem informações sobre marcos importantes, crescimento e tantos outros que ajudam na preservação da memória local e contribuem para que as futuras gerações possam compreender toda a história de seus descendentes.
O Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Cilmar Franceschetto observa que arquivos como esses atuam como verdadeiros instrumentos de pesquisas históricas.
“Há uma grande expectativa por parte dos pesquisadores, principalmente dos descendentes de imigrantes que necessitam do acesso a essa documentação para fins de pesquisa e para obter certidões para compor o processo de dupla cidadania. Mas os livros mais antigos trazem importantes ofícios que dizem respeito à história dos negros e índios no Espírito Santo, dentre tantos temas que agora podem ser pesquisados e divulgados ao público”, explica Franceschetto.
Cilmar conta que esses documentos estavam desaparecidos há muito tempo. “Todos esses acervos que recebemos, são documentos que estavam desaparecidos há mais de trinta anos, pois eu nunca havia localizado em minhas pesquisas do Arquivo Público, esses documentos. A pessoa que os levou, não sabemos em que circunstância o fez, certamente tinha o interesse em obter dados para fins de pesquisa sobre a imigração italiana, sobre registros de terras e sobre a história de Linhares”, disse Franceschetto.
Após o falecimento da pessoa que estava com esses documentos, familiares procuraram o Arquivo Público do Estado para entregar aos seus órgãos de origem. “Esse contato foi intermediado pela atual presidente do Comitê dos Italianos no Exterior do Espírito Santo-Rio de Janeiro, Ana Maria Cani, que fez a entrega dos documentos no Arquivo Público.
Diversas leis ressaltam a importância e obrigatoriedade da preservação dos arquivos municipais e estaduais, seja para acesso pela população, preservação histórica ou para cumprir com as normas vigentes. E para quem pergunta onde ficarão armazenados todos esses documentos, o diretor ressalta que os acervos estão guardados nos seus lugares de origem, de onde foram retirados.
“Guardar todos os documentos em seus respectivos lugares de origem é uma das principais normas da arquivologia, que diz respeito à procedência e respectiva guarda dos documentos”, destaca Franceschetto.
Os documentos já podem ser consultados pela população. Eles também serão digitalizados e disponibilizados no site https://ape.es.gov.br/.
Sentimento de gratidão
Após o retorno de um acervo de informações tão importantes para o Arquivo Público do Espírito Santo, Cilmar Franceschetto comenta que o sentimento é de gratidão e felicidade.
“Enquanto diretor, me sinto muito gratificado com o retorno desses documentos, felizmente, em bom estado de conservação. O que temos visto ultimamente é a perda de muito da nossa história por meio de incêndios, criminosos ou acidentais; por meio de enchentes e outros sinistros, ou pela ação de pessoas que, conscientemente, tomam posse de acervos públicos, sejam dos arquivos, sejam dos museus, - dentre outras instituições mantenedoras de documentos e itens históricos, - por egoísmo ou com objetivos financeiros, dentre outras motivações”.
“Pessoalmente, tive uma gratificação especial. A única lista de navio de imigrantes devolvida é aquela onde consta o nome do meu bisavô, com seus pais e três irmãs. Pesquisei por várias vezes no Arquivo Público, antes mesmo de iniciar meu trabalho na instituição, e este era um dos documentos que mais precisava naquela ocasião para descobrir a origem dos meus antepassados. Obviamente, tive que buscar esses dados em outras instituições, como o Arquivo Nacional, pois essa lista havia sido retirada do nosso arquivo. Mas, fico imensamente feliz pelo retorno desse documento e de todos os outros que nos foram devolvidos”, conta Franceschetto.
Como entregar documentos ao Arquivo Público
O diretor orienta que esse é um exemplo a ser seguido. “Caso o leitor conheça alguém ou que tenha sob sua posse documentos que deveriam estar em órgãos públicos, que tome a iniciativa de devolvê-los. Não é necessário que o responsável se identifique, basta que entregue diretamente de onde retirou, ou pegou emprestado, encaminhe por Correios ou os envie por outros meios às respectivas instituições de origem”, conclui o diretor.
Veja alguns dos documentos encontrados
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