“A vontade é maior que o medo e eu vou na onda”, diz surfista capixaba
Ele encarou a 3ª maior onda do país em 2019
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Todo mundo, em algum momento, sente medo. Mas, há aqueles que conseguem driblar essa emoção e transformá-la em estímulo para os objetivos.
No caso do surfista capixaba profissional Rodrigo Cardoso, de 28 anos, quando está sobre as ondas a vontade de deslizar sobre elas é maior que qualquer temor.
Ele já chegou a encarar uma onda de 8 metros e 41 centímetros de altura, em 2019, a 3ª maior do País naquele ano. Ela aconteceu na Praia da Costa, em Vila Velha, em um local chamado Avalanche.
Veja o vídeo:
“Ao mesmo tempo em que sinto medo, sinto vontade. Enquanto a vontade de ter aquela experiência for maior que o medo, eu vou na onda”, relatou o Rodrigo.
Crescido em uma família de surfistas, se inseriu nesse universo por incentivo do pai, que pegava onda e mantinha o costume de levar os filhos à praia de Jacaraípe, na Serra, onde Rodrigo mora desde os 8 anos.
Ele surfava junto aos dois irmãos por diversão e, aos 10 anos, começou a participar de competições.
Rodrigo foi campeão capixaba amador três vezes – em 2006, 2008 e 2011 – e campeão capixaba profissional uma vez, em 2015.
Após a conquista na modalidade profissional, resolveu abandonar as competições e praticar o freesurfe (vertente do surfe sem competições).
“Gosto de me desafiar, e a forma de me superar foi essa: desafiando ondas maiores, mais perigosas, superando meus próprios limites e competindo comigo mesmo”, diz.
Para Rodrigo, deslizar sobre as ondas, além de permitir contato com a natureza, proporciona sensação de liberdade e euforia.
Durante a experiência com a modalidade, a onda de 8,41 metros foi a maior. “Nessa onda, tomei uma 'vaca' (expressão usada no surfe sobre quando o atleta cai da onda). Fiquei muito tempo debaixo d’água, a ponto de meus dois ouvidos estalarem e ter de prender o ar por muito tempo. Ao mesmo tempo em que foi a melhor onda, foi um perrengue”, conta.
Rodrigo relata que sentiu medo de se afogar, mas que manteve a calma na situação, porque tinha se preparado fisicamente.
Além da prática do esporte por diversão e por superação pessoal, ele também tem uma escola de surfe em Jacaraípe.
Segurança e garantia de bem-estar
Para que a prática dos esportes de aventura proporcione bem-estar, é preciso que seja feita com segurança. Por isso, o acompanhamento profissional é fundamental.
“Todo esporte que envolve natureza e condições meteorológicas e atmosféricas precisa de um conhecimento mais profundo do que está sendo feito”, salienta o instrutor de voo Rodolpho Cavalini.
“É importante a pessoa passar por um processo de qualificação e formação, com instrutores que deem essa base para tomar as decisões corretas”, completa.
Outra recomendação é procurar por empresas qualificadas para a prática da atividade, segundo o instrutor de escalada Oswaldo Baldin. “É importante saber a credibilidade da empresa, se é realmente jurídica, e pesquisar o currículo do instrutor. Caso contrário, a experiência que seria divertida pode se tornar uma tragédia”.
A professora de Educação Física Gessya Santana destaca que é fundamental utilizar equipamentos de segurança adequados a cada modalidade, além de manter uma boa alimentação e hidratação.
“Tem de levar em consideração o grau de condicionamento físico. Não dá para extrapolar o seu limite. O ideal é começar pelo básico e ir progredindo. Ao começar pelo extremo, o risco de lesão é alto”.
Segundo o professor de Educação Física West Gave dos Santos, o preparativo para as atividades físicas, simples ou de alto rendimento, é principalmente pelo fortalecimento da musculatura, e cada esporte exige exercícios diferentes. “No caso de bicicleta, por exemplo, é preciso dar ênfase aos exercícios de membros inferiores”.
Prática ajuda no equilíbrio emocional e autocontrole
A busca pela superação dos limites em esportes de aventura é vista por psicólogos como algo positivo, porque permite trabalhar o autocontrole e o equilíbrio emocional.
“Quando uma pessoa se engaja nesses comportamentos, existe uma consequência positiva: enfrentar o medo, a ansiedade e a insegurança de encarar esse esporte. Isso ajuda o indivíduo, além de promover sensação de liberdade, concentração e coragem”, destaca o psicólogo André Zonta.
O especialista ressalta que, geralmente, essas pessoas tendem a ser abertas a novas possibilidades.
Uma das possíveis explicações para a busca por aventuras é que o ser humano está sempre à procura de desafios, de acordo com o psicólogo e psicoterapeuta Gerson Abarca.
“Tem gente que sente prazer nessas aventuras, porque elas descarregam muitas químicas positivas, a nível cerebral. Se a pessoa pratica uma vez e pontua um prazer, vai continuar desenvolvendo e evoluindo nisso”.
O psicólogo observa que é um erro achar que esportes radicais ou de aventura atraem somente pessoas com desequilíbrio emocional. “A busca por esses esportes requer uma alta disciplina. Geralmente, quem os pratica tem mais resistência e resiliência”, pontua.
Gerson Abarca ressalta que, além disso, o ambiente em que a pessoa foi criada influencia em seus gostos por aventura: se ela cresceu nesse universo, tende a seguir esse rumo.
Segundo a psicóloga Vanessa Cristina Barbosa, o prazer pelo esporte de aventura se dá pela vontade de superar o objetivo traçado, para formar a sua identidade e valorização na sociedade.
“É como se eles quisessem romper com as amarras da sociedade”, avalia Vanessa.
DICAS PARA VENCER O MEDO DE AVENTURAS
Autoconhecimento e prática
- Conhecer os próprios limites. Isso é adquirido conforme a experiência e o autoconhecimento, e ajuda a lidar melhor em situações inesperadas.
- Treinar o esporte com frequência, para desenvolver mais habilidades.
- Manter o controle e focar que se preparou para aquela atividade, para não se desesperar em um obstáculo.
- Observar o espaço da atividade e contemplar as paisagens naturais, para que o desafio valha a pena.
- Lembrar que o exercício precisa ser feito com equipamentos de segurança e com acompanhamento profissional. Isso aumenta a confiança e ajuda a controlar o medo.
Começo gradativo
- Iniciar no esporte pelo básico, para evitar acidentes e traumas. É preciso respeitar os próprios limites de habilidade e conhecimento, adquiridos com o tempo e a experiência.
- Além disso, nem todas as pessoas que praticam esportes de aventura querem surfar a maior onda ou fazer o voo livre mais alto: cada um tem seu objetivo.
Preparação física e mental
- Prepare-se física e mentalmente para iniciar um exercício, para evitar traumas e lesões. Em qualquer atividade física, é preciso preparar o corpo, para ter condicionamento, e a mente, para que haja equilíbrio emocional ao lidar com os obstáculos.
Fonte: Esportistas e especialistas consultados pela reportagem.
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