989 mulheres presas no ES por roubo, tráfico e homicídio
Deste total, a maioria delas é por tráfico de drogas, como Thaynara Nascimento, que contou a sua história para o jornal A Tribuna
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O Espírito Santo tem 989 mulheres presas, sendo a maioria (301) por tráfico de drogas. Uma dessas detentas é Thaynara dos Santos Nascimento, 28 anos. Condenada por tráfico de drogas, ela está há oito anos no Centro Prisional Feminino de Cariacica.
A reportagem de A Tribuna esteve no local na última semana, acompanhada da diretora da unidade, Patrícia Lima de Castro, e da assessoria, onde entrevistou Thaynara.
A detenta deixou o trabalho em uma fábrica de sapatos instalada no centro prisional por alguns minutos para contar por que foi presa e como tem sido essa quase uma década de juventude em reclusão.
Ao chegar na sala da diretora, onde foi realizada a entrevista, entrou Thaynara, uma jovem maquiada, de fala fácil, que aparenta ter alguns anos a menos que os atuais 28.
Ela conta uma história de indisciplina após a separação dos pais e a morte da avó paterna, que era quem a criava.
“Eu toda a vida fui criada pela minha avó. Morava com ela e com meu pai. Quando meu avô morreu, eu tinha 8 para 9 anos e fui morar com minha mãe, que tinha outro companheiro. Por ela não ter convivido comigo, ela não tinha domínio sobre mim”, disse.
Quando o pai se casou novamente, ela relata que teve novos conflitos. “Fiquei um pouco revoltada, porque eu queria que meu pai me desse atenção, queria conversar, queria algum apoio de alguém”.
Ela conta que as fugas da escola eram constantes, até que, aos 12 anos, iniciou um namoro. E foi por meio desse namorado que conheceu o crack, aos 13 anos. Após ter algumas passagens pela Justiça quando de menor idade, ela teve um filho aos 16 anos. O adolescente hoje tem 12 anos.
“Foi quando eu soube o que é amor e o que é amar, que foi quando eu tive meu filho”, afirmou.
Segundo Thaynara, devido à dependência em drogas, ela foi presa por roubo duas vezes, após completar 18 anos. E ainda uma vez por tráfico. “Não é fácil para quem é ex-dependente química para acordar e falar bem assim: 'hoje eu não quero para a minha vida isso. Hoje vai ser diferente'.”
Ela conta que foi no centro prisional que conseguiu concluir os estudos e ter a oportunidade para trabalhar.
“Por eu nunca ter ninguém que pudesse acreditar em mim, foi difícil até eu aprender. Hoje tem 8 anos e 11 meses que me encontro retida da minha liberdade. E hoje tenho outros pensamentos. Porque eu tive pessoas aqui dentro que me incentivaram para minha mudança”, afirma a detenta.
Você sabia?
Todo preso que trabalha tem a redução de um dia da pena a cada 12 horas de estudo ou três dias de trabalho. É o que prevê a Lei de Execução Penal (LEP).
As vagas de trabalho são direcionadas aos detentos que possuem bom comportamento.
Thaynara dos Santos Nascimento, detenta: "Eu não vi meu filho crescer"
A detenta Thaynara dos Santos Nascimento, 28 anos, conversou com a reportagem de A Tribuna. Ela conta sobre os mais de 8 anos que está presa, sobre o que aprendeu na prisão e sobre o que ainda tem de sonhos para sua vida.
A Tribuna – Conta um pouco da sua história.
Thaynara dos Santos Nascimento – "Nasci em Vitória. Não tive muito vínculo com a minha mãe. Já era crescidinha, tinha 8 para 9 anos, quando fui morar com ela. Foi quando meu avô morreu e logo depois a minha avó ficou doente também. Morava com eles e com meu pai. Minha mãe não teve domínio sobre mim."
- Com quantos anos você se tornou usuária de drogas?
"Eu sou uma ex-usuária. Eu falo ex porque eu não me considero mais a pessoa que eu era antes. Aos meus 12 anos de idade, a vida que eu levei eu não desejo para ninguém. Eu me aprofundei nas drogas devido a uma situação traumática que vivenciei.
Aí, conheci um cara que traficava para sustentar o vício. Conheci o crack e comecei a usar drogas. Eu fiquei muito mal. Não falo nem mal, porque eu era uma criança, 13 anos de idade. Eu queria o apoio de alguém."
- Como foram suas prisões?
"Assaltei uma loja com um amigo, sob efeito de drogas, querendo dinheiro para usar drogas. Aí fui eu e mais um amigo meu. Eu tomei uma sentença de 6 anos, 7 anos, diretamente no semiaberto, mas não aprendi nada.
Na minha segunda passagem, eu senti na pele, porque meu filho ia fazer um aninho. Eu deixei ele com o meu tio para poder ir para rua usar droga.
E nisso que eu fiquei aqui dentro, minha mãe vinha, trazia ele, tinha vezes que meu tio não deixava ele vir na visita, tinha vezes que meu tio falava que ele não ia vir e proibia a entrada dele no presídio, não deixava minha mãe pegar. Aí foi onde que eu comecei a pensar em sair dessa vida.
Mas eu recaí de novo. Dessa vez agora que eu estou presa, para mim foi mais difícil. Porque eu perdi o crescimento todo do meu filho. Eu não vi meu filho crescer. Meu filho está com 12 anos hoje."
- O que você aprendeu aqui?
"Hoje eu penso em mudança. Terminei minha escolaridade aqui dentro e fiz cursos também, trabalho na fábrica de sapatos. O meu sonho é fazer Medicina, ser obstetra ou fazer pediatria, pois eu amo criança. Aqui eu pude ver que eu posso conquistar, eu posso realizar. Tenho 28 anos, terminei meu estudo agora."
Saiba mais
População feminina
Provisórias: 433.
Regime fechado: 341.
Regime semiaberto: 211.
Medida de segurança: 4.
Total: 989.
Principais crimes
Tráfico de Drogas: 301.
Tráfico e Associação para o Tráfico: 238.
Homicídio qualificado: 86.
Homicídio simples: 52.
Roubo aumento de pena: 44.
Unidades femininas
Centro Prisional Feminino de Cariacica (CPFC).
Centro Prisional Feminino de Colatina (CPFCOL).
Centro Prisional Feminino de Cachoeiro de Itapemirim (CPFCI).
Penitenciária Regional de São Mateus (PRSM) - ala das mulheres.
Educação
A Educação de Jovens e Adultos no sistema prisional é ofertada em 33 unidades do Estado, em parceria com a Secretaria da Educação.
Cerca de 3.600 vagas são destinadas à população carcerária. São 219 turmas, sendo 135 do ensino fundamental e 84 do ensino médio.
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