‘Vamos garantir que o mercado continue limpo para o futuro’
Paula Lindenberg é presidente da Diageo no Brasil desde 2022, empresa líder no segmento de destilados, com marcas como Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray, Ypioca, entre outras. Com mais de 20 anos de experiência no mercado de bebidas, Paula presidiu a AB InBev no Reino Unido, Irlanda e Espanha, além de ter atuado como vice-presidente de MKT da Ambev Brasil e vice-presidente Global de Insights da AB InBev.
Nesta entrevista ao Estadão, Paula conta como a empresa reagiu à crise causada por casos de intoxicações por metanol e como está alinhada ao combate a produtos falsificados. “Firmamos uma colaboração com o governo do Estado de São Paulo para não só limpar o mercado, mas garantir que ele permaneça limpo. A gente está virando a página. Estou otimista porque estamos prontos para estimular esse consumo responsável de fim de ano. Tudo isso com um setor mais limpo e sustentável, com a falsificação coibida.”
Como a Diageo foi impactada pela crise causada pelas falsificações?
Foi um episódio muito triste, que tem a ver com saúde pública. Antes de tudo, a gente se solidariza com as vítimas e seus familiares. Desde o momento zero, a Diageo, como empresa líder deste setor, se mobilizou para estar muito próxima das associações e dos governos. Isso no sentido de nos colocarmos como um parceiro na resolução do problema. A gente entende que essa não é uma crise do setor formal, mas uma crise ligada a uma atividade criminosa de falsificação. Mas, como líderes, nos colocamos à disposição para pensar junto e agir para manter a segurança do consumidor.
Quais foram as primeiras providências da marca?
Criamos treinamentos voltados para os pontos de venda e para as autoridades. Para os pontos de venda, esse treinamento foi feito em larga escala e está disponível para que os envolvidos saibam analisar seu estoque e garantir que qualquer produto que não esteja de acordo com as especificações seja tirado de circulação. Outro treinamento foi feito para mais de 9 mil agentes públicos, de forma com que a gente capacitasse essas pessoas para que elas atuassem na fiscalização e tirassem produtos ilegais de circulação.
O consumidor também deve fazer esse papel de fiscalizar o produto?
O papel do consumidor não é fazer essa identificação. A responsabilidade é a de o ponto de venda comprar das fontes corretas. Nosso treinamento é para que o ponto de venda possa identificar o produto ilegal e tenha a responsabilidade de desconfiar de preços muito baixos e de vendedores sem histórico de trabalho.
Essa foi uma crise em que o fator confiança teve um peso importante, não é?
A Diageo segue e sempre seguiu os padrões sanitários e de tributação mais rigorosos. O setor formal é um setor sério, que tem a intenção de construir um mercado maior e melhor. Então, desde o começo da crise, começamos a monitorar o que o consumidor estava pensando sobre ela. A falta de confiança não é com as nossas marcas. A insegurança estava restrita ao momento de compra ou consumo por conta desta cadeia de falsificação.
Quais foram as ações em que a marca se envolveu?
Além de trabalhar com o governo para limpar o mercado, passamos a dar visibilidade aos locais seguros de se comprar nossos produtos. A gente lançou uma campanha que fala: “Da nossa fábrica para o seu carrinho” (indicando supermercados confiáveis) ou “Da nossa fábrica pro seu drink” (indicando bares e restaurantes). Hoje também existe um WhatsApp que, ao colocar o seu CEP, você tem a indicação de todos os lugares que são seguros para comprar nossos produtos. Além disso, deixamos visível a lista de distribuidores e fornecedores que são homologados por nós e nos quais temos total confiança.
E a participação da empresa no grupo de trabalho coordenado pelo governo do Estado de São Paulo?
Nós firmamos uma colaboração com o governo para não só limpar o mercado, mas garantir que ele permaneça limpo daqui para a frente. Uma iniciativa importante é a criação de um programa de certificação do ponto de venda e da cadeia que compra deste ponto de venda, de forma que, ao seguir normas estabelecidas pelo programa (como participar de treinamentos, fornecer notas fiscais e descartar garrafas de forma correta), o ponto de venda vai ter um selo de bebida segura. Desta forma, o consumidor vai poder reconhecer quem está trabalhando de forma 100% correta e segura.
A companhia apoia o projeto que torna crime hediondo o crime de falsificação?
A gente acredita que a sustentabilidade do setor passa também por leis mais duras. O PL que vai transformar o crime de falsificação em crime hediondo tem nosso total apoio. Existem outros projetos que apoiamos. Um ponto importante é apoiar projetos de lei que tratem do descarte das embalagens. A gente garantir que essas garrafas não cheguem aos falsificadores é fundamental. Temos um grupo de trabalho que está estudando esses PLs para que a gente foque naqueles que tenham condição de fazer diferença.
O consumo de destilados já está normalizado?
Temos vários indícios de que sim. O Sindicato dos Clubes do Estado de São Paulo divulgou a recomendação formal das vendas de destilado por seus associados a partir deste fim de semana. Nas grandes redes do varejo, temos um material que indica o compromisso público destes estabelecimentos com a segurança do cliente, e as vendas já estão em níveis normais. Quando a gente vai para bares e restaurantes é que a coisa ainda está um pouco mais difícil. Uma das nossas ideias é adotar uma prática muito comum no universo do vinho, que é a de levar a garrafa até a mesa do cliente. A ideia é que o drinque seja finalizado na frente do consumidor, que poderá ver a garrafa e a marca que está sendo servida. A gente tem fomentado, também, os bares a trabalharem com garrafas menores. Assim, elas já ficariam nas mesas dos consumidores.
Ficou algum aprendizado importante?
Ficou evidente como a gente precisa de leis mais contundentes que coíbam esse problema da falsificação. Além disso, todo o debate está gerando ações dentro da indústria.
Então, você é otimista?
O momento em que estamos agora é diferente de há um mês. Antes, com o receio de mais fatalidades, não queríamos incentivar um consumo que colocasse a população em risco, mas agora estamos bastante confiantes. Os treinamentos, o trabalho da polícia e de fiscalização me fazem acreditar que este mercado está limpo. O trabalho agora é convidar o consumidor a retornar à normalidade, fazer happy hours, encontros com famílias e amigos... A gente está virando a página, e vamos garantir que esse mercado continue limpo para o futuro. Estou otimista porque estamos prontos para estimular esse consumo responsável de fim de ano. Tudo isso com um setor mais limpo e sustentável, com a falsificação coibida.
Qual a principal característica do consumidor brasileiro de destilados?
O Brasil é um país fundamental para a companhia. O consumidor brasileiro não quer beber mais, quer beber melhor. Quer experiências, quer ter momentos mais especiais.
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