Um dia antes de morrer, idoso teve alta e foi levado duas vezes por parente a banco
A mulher está presa por suspeita de vilipêndio de cadáver e fraude
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Erika Nunes, 43, levou Paulo Roberto Braga, 68, duas vezes a um banco logo após ele ter alta hospitalar de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, na segunda-feira (15).
No dia seguinte, ela o levou a outra agência, onde a gerente, após constatar que ele estava apático, acionou o Samu e a polícia. As informações são de policiais que atuam no caso.
Erika está presa por suspeita de vilipêndio de cadáver e fraude por tentar sacar um empréstimo de R$ 17 mil em nome do idoso. A polícia investiga se na terça (16) o homem já estava morto quando Erika tentou retirar o dinheiro. A defesa nega. Ela está presa e aguarda audiência de custódia.
Imagens obtidas pela polícia mostram Erika levando Paulo a outra instituição financeira, em Bangu, na segunda. De acordo com o prontuário médico, ele ficou dependente de oxigênio entro os dias 8 e 15 deste mês.
No dia em que teve alta, de acordo com o prontuário, "o paciente estava taquicárdico, com frequência cardíaca de 97 batimentos por minuto, saturação de oxigênio no sangue periférico de 95%, disártrico e com dificuldade para deglutir", segundo informações do laudo pericial do IML (Instituto Médico Legal).
Mesmo assim, Erika tentou sacar o dinheiro do empréstimo -que havia sido contratado no dia 25 de março, por meio do celular. Era necessário que Paulo fosse até uma agência pessoalmente para retirar a quantia ou solicitar a transferência para uma conta nominal.
Imagens de uma câmera de segurança mostram o idoso entrando em uma agência em uma cadeira de rodas e gesticulando com certa dificuldade. Não há informações sobre o porquê da falta de concretização do empréstimo. Ela teria ido duas vezes a esse banco, também em Bangu, na zona oeste. As imagens divulgadas são da segunda tentativa.
Como não conseguiu retirar o valor, Erika saiu com o idoso novamente na terça. Nesse dia, um mototaxista a ajudou a retirar Paulo de casa e colocá-lo no carro de aplicativo para ir à agência bancária em Bangu. Em depoimento à polícia, o mototaxista afirmou que ele o idoso estava debilitado, mas "respirava e tinha força nas mãos".
Foi a segunda testemunha ouvida pela polícia a afirmar que o idoso estava vivo momentos antes de ser filmado já sem reação na agência bancária, ao lado de Erika. O motorista de aplicativo que levou Paulo e a mulher ao shopping próximo ao banco também disse que ele chegou a segurar a porta do carro.
O laudo do IML aponta que Paulo morreu entre as 11h30 e as 14h de terça. Assim, não é possível afirmar se ele morreu antes de entrar na agência bancária para onde foi levado ou se faleceu quando já estava no local.
Peritos legistas irão atestar a causa da morte de Paulo. Érika segue presa e aguarda audiência de custódia.
"É indiferente se ele morreu dentro ou fora do banco. O fato é que ela, vendo que ele já não respondia a estímulos, insistia no empréstimo, segurava a caneta para ele assinar. Isso caracteriza a fraude", disse o delegado Fábio Souza, que investiga o caso.
Em seu depoimento, Erika afirmou que, ao chegar à delegacia, estava sob efeitos de remédios e "com seus reflexos desestabilizados e sem controle normal de seus sentidos devido aos efeitos da medicação."
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