Qual o único Estado do Nordeste em que mais gente chegou do que foi embora nos últimos anos?
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O Estado da Paraíba, que historicamente enviou migrantes para regiões como o Sudeste, é o que mais atrai novos moradores em todo o Nordeste do Brasil, segundo o Censo do IBGE. O Estado apresentou Taxa Líquida de Migração de 0,78% em 2022, com um saldo migratório de 31 mil pessoas. O saldo significa que o número de pessoas que entraram no Estado para morar é maior do que o das que saíram para viver em outra parte cinco anos antes da data de referência do censo, ou seja, desde 2017.
Esse resultado representa o primeiro saldo positivo no Estado da Paraíba desde 1991 e é relevante por ser o único do Nordeste a registrar taxa positiva em 2022. A maioria dos novos habitantes veio de São Paulo (22,3%), Pernambuco (20,4%) e Rio de Janeiro (20%). O Censo 2022 aponta que a população do Estado é de 3.974.687 habitantes.
A migração contribuiu para o crescimento de cidades como a capital João Pessoa que, em 2022, registrou o maior aumento populacional entre as 20 maiores do Brasil, com crescimento de 15,3% em relação a 2010, segundo o IBGE. Em 2022, a população da capital paraibana era de 833.932 habitantes, um aumento de 110.417 habitantes em comparação com o Censo de 2010.
O clima tropical e as belas praias de João Pessoa levaram o casal Ana Paula Barbosa Cereja, de 55 anos, e José Francisco do Nascimento Viana, de 67, a trocarem Manaus, no Amazonas, pela capital da Paraíba, em junho de 2023. “Saímos de Manaus e estamos passando ‘férias prolongadas’ em João Pessoa. A Paraíba tem muitos encantos que quase ninguém conhece, mas, quando conhece, se apaixona”, diz Ana Paula.
Os dois se aposentaram como funcionários públicos estatuais, após anos trabalhando na Secretaria da Fazenda do Amazonas. “O que nos atraiu foi o clima, pois adoramos praia e sol. A cidade é muito acolhedora, praias lindas, facilidade de locomoção para outras cidades por via terrestre – adoramos passear de carro. O custo de vida é baixo em relação a outras cidades.”
O casal conversou com a reportagem voltando de carro de Imbassaí, na Bahia, para João Pessoa. Como ele dirigia, foi Ana Paula quem mais falou. “Já conhecemos outras cidades, mas a que nos atraiu foi João Pessoa. Foi a que mais preencheu nossas expectativas de termos uma vida mais tranquila e agradável. Na Paraíba também temos a opção de desfrutar de um clima mais ameno em cidades de serra”, diz.
Para Rosália Lucas, secretária estadual do Turismo e Desenvolvimento Econômico, a Paraíba tem se destacado como um dos destinos mais atrativos do Nordeste, combinando qualidade de vida, custo de vida acessível e uma cultura acolhedora. “Nossas praias paradisíacas, a gastronomia, ótimo trade de serviços, clima agradável e infraestrutura em crescimento são fatores que encantam novos moradores”, diz, destacando os investimentos do Estado na infraestrutura e segurança.
João Pessoa continua sendo o principal destino, mas o interior também está em alta, especialmente Campina Grande e cidades do Brejo (Areia e Bananeiras). O casal que trocou Manaus por João Pessoa já percebeu a força do interior da Paraíba que, segundo Ana Paula, tem bons acessos e atrações. Em Bananeiras, Areia, Alagoa Grande e outras, de junho a setembro, há o ‘Caminhos do Frio’ um evento cultural que atrai turistas. “Uma semana em cada cidade, em clima de festa e muito frio, por incrível que pareça”, diz.
Os aposentados em busca de um lugar tranquilo, com boa estrutura e custo de vida mais baixo estão entre os três perfis principais dos novos paraibanos. “Tem também os nômades digitais e profissionais remotos, atraídos pelo estilo de vida equilibrado entre trabalho e lazer.” Segundo Rosália, o governo vem recebendo também informações de paraibanos que em outras épocas deixaram sua terra natal e agora retornam.
Impactos no custo de vida e no trânsito
Especialistas apontam que a verticalização excessiva e a ocupação intensa da orla geram problemas urbanos e ambientais. Um estudo dos pesquisadores Fernando de Oliveira Moraes e Doralice Satyro Maia mostrou que, na última década, a capital João Pessoa sofreu intensa verticalização para o uso residencial multifamiliar (prédios).
A secretária reconhece que, em algumas regiões, como João Pessoa, já se percebe uma pressão no custo de vida, especialmente nos aluguéis e nos preços de imóveis próximos à orla. “Quanto ao trânsito, o governo vem investindo na região metropolitana de João Pessoa, incluindo obras de mobilidade urbana, saneamento e construção de novas moradias.”
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