Professora da UFF entra para programa de proteção após ameaças por criticas à operação no Rio
RIO – A professora e pesquisadora de segurança pública, Jacqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos após sofrer ameaças de morte e perseguições por criticar a megaoperação que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.
Com mais de 30 anos dedicados ao estudo de segurança, Jacqueline foi diretora da Secretaria de Segurança Pública do Rio, atuou na elaboração de protocolos da Polícia Militar do Estado e na formulação e implantação de políticas públicas de segurança em âmbito estadual e nacional.
Jacqueline virou alvo de ataques, perseguições e ameaças de morte após afirmar em entrevista à Globonews que um policial teria condições de render um bandido com uma pedra ao explicar a superioridade tática e técnica das forças policiais em uma operação como a que ocorreu na semana passada na zona norte do Rio.
O trecho, de cerca de 15 segundos, foi recortado e difundido por perfis nas redes sociais, impulsionado por políticos bolsonaristas e alinhados ao tema da segurança pública, para ridicularizar e ironizar a professora.
“Era um exemplo didático, de documentação. Eles pegaram isso e passaram a dizer: ”a professora manda o policial jogar uma pedra no criminoso com fuzil". Isso é patético. Recortaram 15 segundos de uma explicação tática e técnica de que um criminoso não tem o padrão tático, o treinamento e o condicionamento das corporações policiais para portar um fuzil. Meus alunos policiais sabem disso", explica.
O trecho foi recortado e divulgado por bolsonaristas nas redes sociais e ganhou escala com o apoio de políticos, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que chegou a levar uma pedra para a Câmara para ironizar a declaração de Jacqueline.
Sóstenes leva pedra à Câmara para zoar a especialista em segurança Jacqueline Muniz. pic.twitter.com/F4arvT1Ii2
— Eli Vieira (@EliVieiraJr) November 5, 2025
As críticas e ironias se converteram, rapidamente, em ataques, perseguição e ameaças de morte. A professora conta que passou a receber cerca de 300 mensagens por dias via redes sociais e e-mais. No sábado, 1, ela foi fotografada enquanto almoçava em um bairro da zona sul do Rio. A imagem passou a ser compartilhada com “sugestões” de crimes a serem cometidos contra ela.
“Eles afetam a mulher Jacqueline, mas não vão destruir uma reputação de mais de 30 anos de contribuições e pesquisas sobre segurança”, diz.
Com a intensificação dos ataques, o vereador do Rio Leonel de Esquerda (PT) e o advogado Carlos Nicodemos protocolaram o pedido de proteção no Ministério de Direitos Humanos. A professora passou a ser monitorada e recebeu acompanhamento de segurança e psicológica.
“A violência política de genero que estou sofrendo é também um ataque deliberado a liberdade de cátedra, a independência da produção do conhecimento, a liberdade de opinião, de expressão e de imprensa, uma vez que os ataques ambicionam silenciamento, negacionismo e censura a abordagem jornalística que escolhe trazer os vários lados de uma questão para informar e formar a cidadania”, diz.
A Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, por meio do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), manifestou solidariedade à professora, “reconhecida como referência nacional no debate sobre segurança pública e políticas de enfrentamento à violência”
“O Programa informa que estabeleceu contato com a professora e que o caso está sendo acompanhado conforme os procedimentos legais e técnicos previstos para avaliação de eventual inclusão no sistema de proteção”, diz em nota.
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