Posto de gasolina, agência de carros, casa de câmbio e igreja: os setores onde o PCC lava dinheiro
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Quase 32 anos após ser criada na Casa de Custódia de Taubaté (SP), a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) está presente em 28 países além do Brasil e utiliza negócios lícitos para lavar dinheiro, conforme o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Segundo as investigações, os 13 setores da economia onde a facção está infiltrados são:
- Postos de gasolina
- Agências de automóveis
- Imóveis
- Empresas de construção
- Casas de câmbio no Paraguai
- Bancos digitais, fintechs e Fundos de Investimentos em Participações, além de criptomoedas
- Empresas de ônibus do setor de transporte público
- Igrejas
- Organizações sociais da saúde pública
- Coleta de lixo e limpeza urbana
- Mineração
- Empresas de apostas e de jogos de azar
- Empresas ligadas ao futebol
“O que eu diria para vocês é que sim, o PCC hoje está na economia formal. As empresas que eles estão administrando não são mais empresas de fachada como uma década atrás”, disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), durante palestra em São Paulo, no seminário Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina, promovido pela Cátedra Oswaldo Aranha, do Instituto da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM), da USP.
“São empresas que existem, que estão prestando serviço, às vezes até prestando um bom serviço. Mescla-se nelas o dinheiro do tráfico de entorpecentes, do tráfico internacional, com o efetivo lucro que as empresas dão por ano”, acrescentou ele.

Inicialmente dedicado ao tráfico de drogas local, o PCC passou ao internacional, e agora investe na Ásia, chegando a ter integrantes na Turquia, no Líbano e no Japão.
“O quilo de cocaína na Ásia chega a US$ 150 mil. Estão comprando a produção (na Bolívia) a US$ 1 mil o quilo – às vezes, US$ 800 o quilo – e essa cocaína chega em Hong Kong, na Ásia, a US$ 150 mil o quilo. Não há nenhum negócio que dê mais dinheiro do que a cocaína hoje", afirmou o promotor.
Foi em razão do lucro astronômico do mercado da droga que o PCC começou a lavar dinheiro há dez anos. O ponto de partida foi a compra de postos de gasolina, de agências de automóveis e imóveis.
Em seguida, a facção passou a investir em empresas de construção e em casas de câmbio no Paraguai. Após a pandemia de covid-19 e com a desregulamentação bancária no Brasil, a facção começou a atuar em bancos digitais, fintechs e Fundos de Investimentos em Participações, além de criptomoedas.

A facção também se infiltrou em empresas de ônibus do setor de transporte público - uma investigação mostrou elo da facção com viações que operavam linhas na cidade de São Paulo - , igrejas, organizações sociais da saúde pública, na coleta de lixo e limpeza urbana.
Outros ramos em que o PCC se espalhou foram a mineração, as plataformas de apostas e de jogos de azar e empresas ligadas ao futebol.
Há aqui uma diferença do que acontecia no passado, quando o PCC explorava mercados ilícitos, como os garimpos ilegais e os contrabando de cigarros, cigarros eletrônicos, armas e agrotóxicos, além de executar grandes roubos a bancos.
Segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em fevereiro, rime organizado no Brasil já movimenta mais dinheiro com a venda irregular de combustível, ouro, cigarro e álcool (R$ 146,8 bilhões) do que com o tráfico de cocaína (R$ 15 bilhões).
É nesse contexto que Gakiya procura convencer o governo federal e o Congresso a adotar um projeto da lei antimáfia que crie uma agência federal de combate ao crime organizado, que centralize o combate à lavagem de dinheiro.
Além disso, uma lei antimáfia deve criar a figura da organização criminosa de tipo mafioso, e permitir que os bancos sejam obrigados a bloquear preventivamente os recursos suspeitos de origem mafiosa, como acontece nos casos de suspeita de terrorismo.
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