Polícia investiga origem de contaminação em bebidas
Tudo indica que há distribuição de bebida com metanol para além do estado de São Paulo, segundo o ministro da Justiça

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou que a Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar a origem do metanol usado para “batizar” bebidas alcoólicas no estado de São Paulo.
Segundo ele, é possível que essa rede de distribuição da substância atue também em outros estados.
“Determinamos ao diretor-geral da PF que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga. Tudo indica que há distribuição para além do estado de São Paulo”, disse o ministro em coletiva de imprensa.
A polícia afirmou que, até o momento, nenhuma marca ou importação específica relacionada aos casos de intoxicação foi identificada.
A Polícia Federal do Espírito Santo (PF-ES) foi demandada para informações a respeito de desdobramentos da investigação no Estado. Porém, não houve resposta até o fechamento da reportagem.
“É necessário ter em mente medidas de prevenção para evitar consumir bebidas alcoólicas adulteradas”, destaca a médica toxicologista do Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Espírito Santo (Ciatox-ES), Rinara Angélica de Andrade Machado.
“Não consuma bebidas com lacre adulterado, sem rótulo ou registro. Se for comprar, exija a nota fiscal do produto. Se te oferecerem bebidas ou drinque em um valor bem mais baixo do que o praticado, fique alerta. São casos alarmantes, as pessoas estão saindo para se divertir e se intoxicando”.
O metanol, apesar de ter cheiro diferente do álcool destilado, não é percebido, pois muitas vezes está diluído na bebida, em energético ou em frutas misturadas no drinque.
Organismo
“As consequências não vêm de imediato. Em média, a metabolização do metanol demora de 12 a 24 horas, podendo este período se encurtar para 6 horas, dependendo do organismo”, disse a médica.
Algumas pessoas podem, ainda, sofrer os efeitos de forma mais acelerada. “Etilistas crônicos podem ter efeitos mais rápidos, porque metabolizam certas substâncias rapidamente. Quanto maior o consumo de metanol, pior o caso”.
Postos de saúde vão ter protocolo de atendimento
O governo federal definiu protocolos de notificação para casos suspeitos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebida alcoólica adulterada.
Os protocolos devem ser seguidos por todas as unidades de saúde, em especial a rede de urgência e emergência.
Em nota oficial, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) fez alerta de que a intoxicação por metanol caracteriza emergência médica de extrema gravidade.
O órgão alertou ainda para a possibilidade de existirem casos ainda não notificados, além dos casos que seguem sob investigação ou que aguardam confirmação laboratorial.
Em outra nota, o MJSP afirmou que a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) vai emitir alerta aos Procons de todo o País, com orientações a fornecedores e consumidores sobre a segurança na comercialização e no consumo de bebidas alcoólicas.
“No início do mês de setembro, em um curto intervalo de tempo, pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de álcool em cenas sociais, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida”, informou a nota.
Em reunião extraordinária do Comitê Técnico do Sistema de Alerta Rápido (SAR), do governo federal, foi confirmado o 10º caso de intoxicação por metanol relacionado ao consumo de bebida alcoólica no estado de São Paulo.
Procurada pela reportagem de A Tribuna, a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa) informou que aguarda as normativas do Ministério da Saúde para elaborar o protocolo estadual de manuseio do metanol.
Cinco mortes por suspeita de intoxicação em São Paulo
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou, em coletiva de imprensa, que cinco mortes suspeitas de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol foram identificadas no estado.
Destas, uma foi confirmada e quatro seguem em investigação. Segundo o governador, ao todo, o estado acumula 22 casos, entre suspeitos e confirmados.
Tarcísio destacou ainda que a morte confirmada aconteceu na cidade de São Paulo, e que a primeira notificação sobre um caso suspeito de intoxicação foi registrada no primeiro dia do mês de setembro.
Entre os sintomas mais graves da intoxicação estão coma, convulsões e até perda total da visão, alerta a médica toxicologista Rinara Machado.
“Outros sintomas são tontura, náusea, vômito, cólica abdominal, alteração visual com visão embaçada e perda parcial ou total da visão. Em casos mais graves, podem sobrevir convulsões, coma ou até morte”.
A intoxicação ocorre após a absorção do metanol pelo fígado, resultando em substância extremamente tóxica que gera diversos danos ao organismo, explica a médica.
“Após o metanol ser metabolizado no fígado, o órgão libera ácido fórmico na corrente sanguínea, responsável pela intoxicação”, explicou.
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